Não pervertam o direito,
não façam diferença entre as pessoas nem aceitem suborno,
pois os subornos cegam os olhos dos sábios e faceiam a causa dos justos.
(Livro Deuteronômio 16,19)
Por que cerca de 800 famílias de agricultores e agricultoras dos municípios da região Jaguaribana em parceria com diversas entidades, movimentos sociais, pastorais e paróquias da Diocese de Limoeiro do Norte estão ocupando o perímetro irrigado Jaguaribe-Apodi desde a madrugada de 05 de Maio de 2014? Para responder essa pergunta basta conversar com os/as agricultores/as, nas comunidades, dialogar com a juventude e com os idosos/as cujos olhos brilham no sonho de acessar terra e água.
A ocupação teve inicio com 500 famílias da Região Jaguaribana. E, todos os dias dezenas de famílias sobem para o acampamento, já chegando ao número de 800. Essas famílias acreditam que a terra e a água são presentes de Deus, que não devem servir apenas as empresas do agronegócio, mas também às famílias e pequenos camponeses. Eles acreditam que com as bênçãos de Deus e com a força do povo a Chapada do Apodi vai voltar a ser das trabalhadoras e dos trabalhadores.
As reivindicações seguem a direção da defesa dos direitos humanos, do respeito aos direitos sociais assegurados em nossa Constituição Federal, da dignidade humana, da justiça social: água, educação, saúde, participação popular na vida pública, etc. Essas são exigências sem fundamento? Os que acreditam e defendem uma vida digna para todos (as) concordam que esses são elementos básicos, o mínimo de direitos. Deles não se pode abrir mão, caso contrário, estaremos defendendo os projetos de morte e miséria que vem vitimando os pobres deste país.
Então se é justa a causa, por qual razão se ouve o vociferar e o tom acusatório contra os que contribuem com a causa da justiça social? É que ainda estamos lutando em nosso solo pátrio contra as forças conservadoras do coronelismo – com nova roupagem, é claro. Estamos em pleno combate contra as forças do autoritarismo, personalismo e patrimonialismo que tanto golpeiam a frágil democracia brasileira. Se trata-se de tão enérgico combate, se enfrentamos a tirania dos poderosos, por que afinal o fazemos? O que estamos conquistando?
Nós gritamos juntos porque desejamos fazer ecoar em todos os recantos a denúncia de um modelo de morte que defende os gananciosos e contribui para que os poderosos continuem a se beneficiar às custas do sofrimento, exploração e expropriação do povo trabalhador; Para denunciar as violações de direitos sofridas por agricultores (as) e lutadores do povo tendo o Governo Federal (representado pelo DNOCS) como órgão responsável por essa política destrutiva;
Nós gritamos para denunciar que o quê está em primeiro lugar nos planos do Governo Federal/DNOCS é a construção das obras para favorecer o Agrohidronegócio e reforçar o poder econômico dos grandes proprietários de terra da região; Para denunciar que o DNOCS vem promovendo uma guerra contra reforma agrária, expropriando os (as) agricultores (as) e repassando nossas terras, com um conjunto de infraestruturas hídricas, para o Agrohidronegócio Fruticultor drenar nosso solo, suor e água para a Europa e os Estados Unidos.
Nós gritamos para denunciar que a Chapada do Apodi, desde a implantação do Perímetro Irrigado Jaguaribe-Apodi, no final da década de 1980, passou a ser um território em disputa entre agricultores(as) camponeses(as) e o agronegócio; Denunciar que já nos anos 2000, intensificou-se a instalação, no entorno do perímetro irrigado, de empresas nacionais e internacionais, notadamente produtoras de frutas tropicais para exportação. Tais empresas instalaram grandes áreas de produção irrigada aproveitando a infraestrutura pública de canais de irrigação, estradas e energia elétrica, bem como dos bens naturais da Chapada, como solos férteis e água subterrânea. Cabe destacar que esse processo se deu com amplo apoio e financiamento do Governo Federal e Estadual.
Nós gritamos para denunciar que a territorialização das empresas nacionais e internacionais na Chapada vem acompanhada de um processo destrutivo de produção do ponto de vista ambiental e social, entre eles, destacamos: No processo de produção é intensivo o uso de agrotóxicos e fertilizantes químicos, que contaminam o solo, o ar e água, trabalhadores(as) e comunidades rurais; Os empregos gerados são marcados pela exploração dos(as) trabalhadores(as), pela precarização dos contratos trabalhistas, assédio moral, exposição aos agrotóxicos, etc; As empresas dominam a água superficial e subterrânea, drenando esse bem natural, via exportação, para o mercado internacional.
Denunciamos, ainda, que as terras públicas do perímetro irrigado Jaguaribe-Apodi estão invadidas pelo agronegócio. Segundo dados do próprio Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS), atualmente, 4.033,40 hectares estão invadidos, principalmente, por empresas nacionais/multinacionais e médios/grandes proprietários da região. Apenas três empresas Fruta Cor, Bananas do Nordeste S/A. (Banesa), Del Monte Fresh Produce são responsáveis pela invasão de mais 1.800 hectares.
Nós gritamos para anunciar que acreditamos que a união faz a força na luta por nossos direitos e para efetivar uma alternativa ao modelo de produção/morte proposto pelo DNOCS. Acreditamos num modelo de desenvolvimento pautado na solidariedade e sustentabilidade socioambiental. Nós gritamos porque defendemos um projeto de vida que tem o ser humano em primeiro lugar e não o lucro. Um projeto que pretende a relação harmoniosa entre os seres humanos e a natureza e não a destruição desta em favor da riqueza descomunal e imoral de uns poucos.
Nós gritamos enfim porque nos sentimos parte de um grande projeto de humanidade, de humanização do ser humano. E esse projeto não se efetivará plenamente enquanto persistirem as injustiças contra os povos pobres, os oprimidos, os deserdados da terra, os humilhados, os milhões de desfavorecidos e excluídos. Por essa razão estamos dizendo NÃO a todas as formas de opressão, violência e negação de direitos: TERRA, ÁGUA E VIDA DIGNA PARA OS/AS AGRICULTORES/AS QUE NESSE MOMENTO OCUPAM O PERIMETRO IRRIGADO JAGUARIBE-APODI.
Nós queremos que seja RECONSIDERADA a ação de reintegração de posse proferida pelo DNOCS até o final do processo de negociação, iniciado desde 08.05.14 para evitarmos um possível despejo violento.
Queremos que o Governo Federal, representado pelo Ministério da Integração Nacional/DNOCS, retire as empresas da área invadida e, por fim, que o DNOCS destine a área da Segunda Etapa do Perímetro Jaguaribe-Apodi para os(as) agricultores(as) sem terra.
Com as comunidades rurais, com os agricultores e agricultoras e suas famílias que fazem a região jaguaribana nos irmanamos na defesa da vida em toda a sua plenitude e não ousamos calar, não ousamos fugir ao compromisso firmado em prol de uma sociedade mais fraterna e mais justa. Por essas razões dizemos SIM as lutas das comunidades; com o povo que sofre partilhamos suas dores; com aqueles que dão o testemunho de Cristo oferecemos nossa força, solidariedade e apoio incondicionais. E, com as bênçãos de Deus e com a força do povo a Chapada do Apodi, vai voltar a ser das trabalhadoras e dos trabalhadores.
Abaixo-Assinados:
- Articulação das Pastorais Sociais Regional Nordeste I
- Pastoral Social de Tianguá
- Cáritas Brasileira Regional Ceará
- Cáritas Diocesana de Limoeiro do Norte.
- Cáritas Arquidiocesana de Fortaleza
- Cáritas Diocesana de Itapipoca
- Cáritas Diocesana de Crateús
- Cáritas Diocesana de Sobral
- Cáritas Diocesana de Tianguá
- Cáritas Diocesana de Iguatu
- Cáritas Diocesana de Crato
- João Alfredo Telles Melo (Vereador – Psol – Fortaleza; Professor de Direito Ambiental e Advogado)
- Pe. Lino Allegri (Pastoral do povo da Rua – Fortaleza – CE)
- Rodrigo de Medeiros Silva – RENAP/CE
- Rede Nacional de Advogados e Advogadas Populares – RENAP
- Sindicato dos Servidores do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – SINDSIFCE
- INSEA – Instituto Nenuca de Desenvolvimento Sustentável
- Maria Amélia Leite
- Associação Missão Tremembé – AMIT
- Núcleo TRAMAS/UFC
- Levante Popular da Juventude
- Centro de Ação Cultural – Centrac (Campina Grande/PB)
- Pe. Luis Sartorel (CEBI/CE e Curso de Formação Terra do Sol)
- Cáritas Brasileira Regional do Piauí
- Articulação das Pastorais Sociais de Campina Grande/PB
- Movimento Nacional de Direitos Humanos – Articulação Ceará
- Centro de Defesa da Vida Hebert de Souza – CDVHS
- Pastoral da Juventude do Meio Popular – PJMP
- Conselho Pastoral dos Pescadores Regional NE2 (Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas)
- Movimento Saúde Mental Comunitária – MSMC
- Natália Tatanka (Coordenação de Articulação Indígena e Direitos Humanos)
- ITEPS/UFCA
- Executiva Estadual do PSOL Ceará
- Setor Pastoral Social do Regional NE2 (Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas)
- Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – Regional NE2 (Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas)
- Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – Regional NE1 (Ceará)
- Cáritas Brasileira Regional NE3 (Bahia e Sergipe)
- Francisco Rosângelo Marcelino – Licenciado em História e Bacharel em Direito – Cascavel – CE
- Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis – MNCR
- Instituto Humanitas da Universidade Católica de Pernambuco (IHU-Unicap)
- Pe. Marcos Augustos Brito Mendes, Sj – Recife – PE
- Pe. Francisco Aquino Junior – Articulação das Pastorais Sociais da Diocese de Limoeiro do Norte/CE
- Regilvânia Mateus de Araújo – Educadora Popular – Fortaleza – CE
- Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis – CE
- FEAB (Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil)
- CSP – CONLUTAS (Vale do Jaguaribe)
- Laboratório de Estudos Agrários e Territoriais – LEAT/DG/UFC
- Maria do Céu de Lima (Professora Associada Depto de Geografia – UFC)
- Centro Feminista 8 de Março
- Marcha Mundial das Mulheres
- Liana Brito de Castro Araújo (Professora da Universidade Estadual do Ceará (UECE)
- Professora da Universidade Estadual do Ceará (UECE)
- Gema Galgani S. L. Esmeraldo (Professora da Universidade Federal do Ceará)
- Plebeu Gabinete de Leitura
- Fórum Cearense Pela Vida no Semiárido
- GT Combate ao Racismo Ambiental. Integrantes:
- AATR – Associação de Advogados de Trabalhadores Rurais no Estado da Bahia
- Amigos da Terra Brasil
- ANAÍ APROMAC – Associação de Proteção ao Meio Ambiente de Cianorte – PR
- Associação de Moradores de Porto das Caixas Vítimas do derramamento de óleo da Ferrovia Centro Atlântica
- Associação Socioambiental Verdemar – Cachoeira – BA
- CEDEFES – Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva – Belo Horizonte – MG
- CEDENPA – Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará – Belém – PA
- CEERT – Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades – São Paulo – SP
- Central Única das Favelas (CUFA-CEARÁ) – Fortaleza – CE
- Centro de Cultura Negra do Maranhão – São Luís – MA
- Coordenação Nacional de Juventude Negra – Recife – PE
- CEPEDES – Centro de Estudos e Pesquisas para o Desenvolvimento do Extremo Sul da Bahia – Eunápolis – BA
- CPP Nacional – Coordenação Nacional da Pastoral dos Pescadores
- CPP BA – Conselho Pastoral dos Pescadores da Bahia
- CPP CE – Conselho Pastoral dos Pescadores do Ceará
- CPP Norte
- CPP Juazeiro – BA
- CPT Nacional – Comissão Pastoral da Terra
- CPT CEARÁ
- CRIOLA – Rio de Janeiro – RJ
- EKOS – Instituto para a Justiça e a Equidade
- FAOR – Fórum da Amazônia Oriental
- FAPP-BG
- Fórum dos Atingidos pela Indústria do Petróleo e Petroquímica nas Cercanias da Baía de Guanabara
- Fase Amazônia
- Fase Nacional (Núcleo Brasil Sustentável)
- FDA – Frente em Defesa da Amazônia Fórum Carajás
- Fórum de Defesa da Zona Costeira do Ceará
- FUNAGUAS GELEDÉS
- Instituto da Mulher Negra
- GPEA – Grupo Pesquisador em Educação Ambiental da UFMT
- Grupo de Pesquisa da UFPB – Sustentabilidade, Impacto e Gestão Ambiental – PB
- Grupo de Pesquisa Historicidade do Estado e do Direito da UFBA
- GT Observatório e GT Água e Meio Ambiente do FAOR IARA – Rio de Janeiro – RJ
- IBASE
- INESC
- Instituto Búzios
- Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense
- Instituto Terramar
- ISER – Instituto de Estudos da Religião
- Justiça Global
- Movimento Cultura de Rua (MCR)
- Movimento Wangari Maathai
- NINJA – Núcleo de Investigações em Justiça Ambiental do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São João del-Rei
- Núcleo TRAMAS – Trabalho Meio Ambiente e Saúde para Sustentabilidade/UFC
- Observatório Ambiental Alberto Ribeiro Lamego – Macaé – RJ
- Omolaiyè – Sociedade de Estudos Étnicos, Políticos, Sociais e Culturais
- ONG.GDASI – Grupo de Defesa Ambiental e Social de Itacuruçá
- Opção Brasil Oriashé Sociedade Brasileira de Cultura e Arte Negra Projeto Recriar
- Rede Axé Dudu
- Rede Matogrossense de Educação Ambiental
- RENAP Ceará
- Sociedade de Melhoramentos do São Manoel
- Terra de Direitos
- TOXISPHERA
- Ana Almeida – Instituto de Saúde Coletiva da UFBA – Salvador – BA
- Ana Paula Cavalcanti (pesquisadora) – Rio de Janeiro – RJ
- Angélica Cosenza Rodrigues – GEA/Grupo de Educação Ambiental – UFJF – Juiz de Fora – MG
- Carmela Morena Zigoni – Programa de Pós-graduação em Antropologia Social da UNB – Brasília – DF
- Cecília Melo – professora da UFRJ – Rio de Janeiro – RJ
- Cíntia Beatriz Müller – Coordenadora do GT Quilombos, da ABA; professora da UFBA – Salvador – BA
- Cláudio Silva (militante) – Rio de Janeiro – RJ
- Daniel Fonsêca (jornalista e militante, atua na Frente Popular Ecológica de Fortaleza) – Fortaleza – CE
- Daniel Silvestre (pesquisador) – Brasília – DF
- Dina Oliveira-Bry – socióloga especialista em desenvolvimento local – Ilhéus – BA
- Diogo Rocha (pesquisador) – Rio de Janeiro – RJ
- Florival de José de Souza Filho (Grupo Geertz de Pesquisa, Universidade Federal de Sergipe) – Aracajú – SE
- Igor Vitorino (militante) – Vitória – ES
- Janaína Tude Sevá (pesquisadora) – Rio de Janeiro – RJ
- Josie Rabelo (Desenvolvimento Urbano/UFPE; professora) – Recife – PE
- Juliana Souza (pesquisadora) – Rio de Janeiro – RJ
- Leila Santana (advogada) – Juazeiro – BA
- Luan Gomes dos Santos de Oliveira – pesquisador da UFRN – Natal – RN
- Luís Claúdio Teixeira (FAOR e CIMI) – Belém- PA
- Maria do Carmo Barcellos (militante) – Cacoal – RO
- Maria do Socorro Diógenes Pinto (Renap) – Natal – RN
- Maurício Paixão – São Luís – MA
- Mauricio Sebastian Berger (Instituto de Investigación y Formación en Administración Pública da Universidade Nacional de Córdoba) – Córdoba, Argentina
- Norma Felicidade Lopes da Silva Valencio – Coordenadora do NEPSD /UFSC – São Carlos – SP
- Pedro Rapozo – professor da UFAM – Manaus – AM
- Raquel Giffoni Pinto (militante e pesquisadora) – Volta Redonda – RJ
- Ricardo Stanziola (professor e advogado) – São Paulo – SP
- Ruben Siqueira (militante) – Salvador – BA
- Rui Kureda (militante) – São Paulo – SP
- Samuel Marques (militante) – Salvador – BA
- Sebastião Raulino – (militante, professor e pesquisador) – RJ
- Stéphan Bry (militante) – Ilhéus – BA
- Tania Pacheco (militante e pesquisadora) – Rio de Janeiro – RJ
- Telma Monteiro (militante e pesquisadora independente) – Juquitiba – SP
- Teresa Cristina Vital de Sousa (pesquisadora) – Recife – PE
- Tereza Ribeiro (educadora ambiental) – Rio de Janeiro – RJ
- Vânia Regina de Carvalho – Belém – PA
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Enviada para Combate Racismo Ambiental por Rodrigo de Medeiros Silva.