
foram levados para a sede da Polícia Federal em
Roraima (Foto: Natacha Portal/ G1)
Casos foram relatados à Frente de Proteção Etnoambiental Yanomami. Dono de garimpo é apontado pelos indígenas como suposto estuprador.
Natacha Portal e Érico Veríssimo, do G1 RR
Uma liderança da Maloca do Papiú, localizada a mais de 200 quilômetros de Boa Vista, entre os municípios de Alto Alegre e Iracema, denunciou à Frente de Proteção Etnoambiental Yanomami e Ye´kuana (FPEYY) que um dono de garimpo naquela região teria abusado sexualmente de meninas indígenas de 12 e 13 anos, além de submeter jovens índios a trabalho escravo.
A denúncia foi feita durante uma operação conjunta da Polícia Militar de Roraima e Funai na Terra Indígena Yanomami, quando um garimpo foi desarticulado no começo desta semana. Segundo o coordenador da FPEYY, João Catalano, a equipe, que já estava na operação ‘Korekorema’ na terra Yanomami, foi ao local para apurar as denúncias.
“Chegamos à comunidade [Maloca do Papiú] na sexta-feira (7). Após três dias de caminhada, estávamos no garimpo, onde constatamos a denúncia e encontramos o suspeito, que tem 45 anos”, declarou Catalano na tarde desta quarta-feira (12).
De acordo com ele, a equipe da operação era formada apenas por dois funcionários da Funai e quatro policiais e, por esse motivo, alguns garimpeiros conseguiram fugir, incluindo o suspeito de cometer os abusos.
“Nós ‘fechamos’ o garimpo. Equipamentos e estrutura foram destruídos. Apesar das fugas, temos a identidade do suposto aliciador e a polícia começará as buscas”, destacou.
Conforme relataram os indígenas, cinco crianças foram abusadas sexualmente. A equipe conseguiu identificar duas e a intenção é que uma delas seja encaminhada para Boa Vista. Segundo Catalano, o homem oferecia batons e perfumes para atrair as crianças, e os rapazes trabalhavam em troca de alimentos para a comunidade.
“Quando chegamos, os motores estavam funcionando e quem os manuseava eram indígenas menores de idade.Temos os dados e endereço do suspeito e, com certeza, a Polícia Federal irá pedir sua prisão preventiva”, acrescentou.
Os 16 garimpeiros retirados da Terra Indígena foram encaminhados para a sede da Polícia Federal em Roraima, na tarde desta quarta. Eles deverão ser ouvidos e testemunhar no caso. A PF não se pronunciou sobre as denúncias, tampouco sobre um possível mandado de prisão em nome do dono do garimpo.
Confronto
João Catalano relata que no dia em que a equipe retornaria para Boa Vista, a expedição dos indígenas foi atacada por índios da Venezuela.
“Dois índios Yanomami morreram no confronto e por isso não pudemos trazer as crianças que foram abusadas. Um dos índios mortos era parente de uma das vítimas”, comentou.
Segundo ele, a criança está na maloca e a Funai aguarda o término dos ritos do funeral da comunidade para que a menina possa ser encaminhada à capital para se submeter a exames médicos.
“É complicado trazer [as crianças]. Estamos esperando passar o funeral. O que ocorreu não teve nada a ver com a nossa operação, pois é consequência da rivalidade entre as comunidades que se enfrentaram”, observou Catalano.