Por Eustáquio José, em Um Brasil de Verdade
Eu me fio aqui na interessante nota do CIMI (Conselho Indigenista Missionário) do Combate Racismo Ambiental na qual se pode ver duas coisas: mais uma vez o índio é refém da forma brutal como as pessoas alienadas o enxergam e podem correr risco de vida, como sofrem e são vítimas o ano inteiro e ninguém faz alarde algum para o fato, e o quanto a nossa mídia incita o ódio e a violência contra a população indígena desse país.
A morte do cacique Ivan Tenharim, ocorrida no começo desse mês, e a inexplicável situação de não se saber nada sobre ela não causa o interesse da mídia, mas o suposto desaparecimento de três cidadãos da cidade de Humaitá representa uma prova cabal da periculosidade do índio e da necessidade de combatê-los com as armas civilizadas: mídia e invasões descontroladas de “brancos” (foi assim que o Jornal Nacional se referiu aos não-índios que queimaram pedágios indígenas e também ameaçaram invadir as propriedades dos índios para fazer a tal justiça com as próprias mãos).
Há uma inversão em relação ao caso Amarildo, por exemplo. Enquanto este sumia sem deixar vestígios e a política militar não explicava o fato da tortura cometida na UPP da Rocinha, os índios são acusados de algo que nem de longe parece estar devidamente provado que existiu. Assim como Amarildo, o cacique Ivan, grande ativista pelos direitos indígenas, foi espancado e veio a falecer. Porém, esse fato foi pouco noticiado em detrimento do show de pirotecnia que é feito em torno desse caso, conforme os amigos e as amigas estão vendo diariamente em vários veículos de televisão.
Até segunda ordem o que nós estamos vendo é uma sistemática ação de culpar os índios de algo que nem de longe possuem culpa. Se por séculos foram acuados e jogados em pequenos perímetros de terra, e ainda têm que tirar essa terra das presas famintas do agronegócio ruralista, então algo está visivelmente claro aqui: da parte do índio não parece haver motivação o suficiente para sair matando “brancos” (sic) a torto e a direito. A luta indígena é desprestigiada cada vez que alguém denigre o objetivo factual e transforma esse objetivo numa simples troca de homicídios, terreno no qual os não-índios, em especial os ruralistas ávidos por dinheiro e poder, são experts.
Prestem bem atenção! O ódio ao índio é um imaginário difundido e parece mais um mantra subliminar que é assustador. Prestem bem atenção ao que será feito nesses dias. Antes de os respectivos mandantes e executores, inclusive os midiáticos, se unirem para o espocar da champanha, nós ainda poderemos ver vários assassinatos cometidos contra os índios e a tentativa de só punir de forma ostensiva e cultural quem é vítima.