AM – Violência anti-indígena em Humaitá: multidão incendeia Funai, barcos e carros, e indígenas estão abrigados no batalhão do Exército

Prédio da Funai de Humaitá em chamas, após revolta da 'população'. Fotos: Idivan Assayag
Prédio da Funai de Humaitá em chamas. Morte de cacique e desparecimento de três brancos deu início ao caos crescente. Foto: Idivan Assayag

Caos começou com morte de cacique e sumiço de três não indígenas. À tarde, multidão fechou acesso à balsa, impedindo Funai de cruzar o Rio com caminhões de alimentos para as aldeias e saída dos indígenas, que tiveram que buscar abrigo no Batalhão do Exército. (Tania Pacheco)

Por Yndira Assayag, em Amazonas em Tempo

O prédio da Fundação Nacional dos índios [sic] (Funai) em Humaitá (a 675 quilômetros de Manaus) foi incendiado na noite desta quarta-feira (25) em protesto à falta de respostas das autoridades policiais e governamentais sobre o desaparecimento de três homens há cerca de uma semana. Familiares acreditam que eles tenham sido apanhados por índios da reserva Thenharim, localizada na BR-230 (Transamazônica), onde foram vistos pela última vez dia 16 de dezembro.

Luciano Ferreira Freire, representante do Atacadão Manaus, Stef Pinheiro, professor de Apuí, e Aldeney Ribeiro Salvador, funcionário da Eletrobrás Amazonas Energia seguiam, com outras duas pessoas não identificadas [?], de Humaitá para o quilômetro 180, onde fica a comunidade Santo Antônio do Matupi, no município de Manicoré (a 390 quilômetros de Manaus).

O rapto [sic] dos homens pelos indígenas seria uma retaliação à morte, até o momento não explicada, do cacique Ivan Tenharin, encontrado agonizando na estrada, após de ter supostamente caído de uma motocicleta no trecho da estrada entre a aldeia do ‘Campinhu’ e o distrito de Matupí.

Os índios negam que tenham feito qualquer coisa com os homens, mas pessoas próximas às vítimas não acreditam e comentam, inclusive, que eles podem ter sido mortos.

A população está revoltada e agora ameaça tocar fogo em outros prédios públicos de Humaitá. Carros também foram queimados e virados nas ruas. Diversos policiais já foram feridos.

Estimativas de moradores dão conta de que, pelo menos, cinco mil pessoas participem dos protestos. Indígenas que estavam em Humaitá se refugiaram no prédio do 54º Batalhão de Infantaria de Selva, sob a proteção do Exército.

Desde a tarde de terça-feira (24), familiares e amigos dos homens desaparecidos interditaram a balsa que faz a travessia, pelo rio Madeira, de Humaitá para o Apuí, e o protesto se intensificou na tarde desta quarta, com a junção de outras centenas de pessoas.

A reportagem tentou contato com as autoridades policiais locais, mas, devido ao tumulto na cidade e ao feriado de Natal, não obteve sucesso.

Multidão nas ruas de Humaitá. Foto: Idivan Assayag
Multidão nas ruas de Humaitá. Foto: Idivan Assayag


A notícia abaixo é de ontem, 25 de dezembro, à tarde:

Exercito e policia militar tentarão cruzar indígenas hoje!

Humaitá - balsa bloqueada

Por Chaguinha de Humaitá, em A Crítica de Humaitá

Tensão na balsa de travessia para a Transamazônica exercito e policia militar tentarão cruzar o Rio Madeira levando os indígenas e mantimentos para Aldeia do Marmelo. Manifestantes que bloquearam a passagem não estão dispostos a liberar a passagem ate que os corpos dos três desaparecidos sejam entregues pelos índios. Lideranças estão neste momento reunidos com o comandante do exercito e da policia militar para tentarem chegar a um “acordo” que possa liberar a passagem para os indígenas que estão na cidade sobre proteção do exercito.

Manifestantes estão irredutíveis e pretendem não liberar a estrada, caso os índios não entreguem os três desaparecidos vivos ou mortos. Centenas de pessoas estão chegando ao local que pode acontecer confronto caso o exército insista em liberar a passagem aos índios que estão na cidade. A FUNAI acompanha as movimentações a distancia e esta preocupada com a falta de alimentos para as tribos que ficam as margens da rodovia Transamazônica. Dois caminhões de alimentos foram comprados em Humaitá com o objetivo de abastecer as aldeias por pelo menos 30 dias até que a tensão se acalme.

As esperanças de que os três desaparecidos estejam vivos já acabou, as famílias querem pelo menos que os corpos sejam entregues e que a justiça se encarregue de punir os responsáveis pelos assassinatos das três vítimas. Estamos no local acompanhando a movimentação e a qualquer momento poderemos postar novas informações.

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Aline Polli.

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“Morre Ivan Tenharim”

Comments (5)

  1. isso e a falta da presença do estado .Não so na região do amazonas mas também e outras localidades dessa grande nação a justiça tem que se feita não importa se o individuo tem a cor diferente ou seja de outra raça somos todos brasileiros brancos e índios,negros e mulatos a justiça e para todos a constituição e uma so

  2. olá amigos, é com enorme tristeza que acompanho os conflitos nesta região longíqua do Brasil. Tal epísodio me faz rememorar as ações racistas e estúpidas perpetradas pelos “ignóbeis cidadãos” paulistas contra os colonos japoneses no interior de São Paulo ao final dos anos de 1940, sob espúrios argumentos políticos da época. De fato, de lá para cá nada mudou. São ataques racistas alimentadas por políticas racistas. uma lástima. Aos indígenas Tenharin minha total solidadriedade. BH/MG.

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