Violência em Humaitá: “Morre Ivan Tenharim”

Ivan Tenharim

Por Ivã Bocchini, Coordenador Regional da CR Madeira

Morreu no último dia 03 de dezembro o cacique da Aldeia Kampinhu’hu Ivan Tenharim aos 45 anos de idade. Ivan era filho de Kwahã e neto de Ariuvi. Pertencia, portanto, a linhagem dos maiores guerreiros da história dos Tenharim. Se não bastasse a importância do cacique para a nação Tenharim, as circunstâncias da morte trouxeram tristeza e revolta. Ivan foi encontrado ainda com vida às margens da BR 230, Rodovia Transamazônica, pelo seu sobrinho Marcos no caminho entre o Distrito de Matupi (km 180) e a aldeia no dia 02. O cacique estava desacordado com inúmeros hematomas e ferimentos na cabeça, no entanto a moto, o capacete e a bagagem estavam quase intactos, levantando suspeitas sobre a verdadeira causa da morte, inicialmente apontada como um acidente de trânsito.

Ivan foi levado para Humaitá e, em seguida, removido para Porto Velho onde veio a óbito no dia seguinte. A comoção foi geral. Mais de quinhentos Tenharim e diversos parentes Jiahui e Parintintin compareceram ao velório na Aldeia Kampinhu’hu. Ivan foi enterrado ao lado de seu pai juntamente com seus pertences, como manda a tradição Tenharim. Arcos e flechas, roupas, redes, utensílios diversos foram todos jogados a cova. Os parentes colocaram, ainda, dentro do caixão, roupas próprias que haviam vestido em alguma ocasião que lembrasse Ivan. Eu, por exemplo, coloquei uma camiseta da FUNAI que tinha usado quando fui com Ivan ao seu castanhal Água Boa em 2011.

Ivan era do clã Mutum Nangwera e todo o trabalho de enterro ficou a cargo dos Taravé. Seus cunhados carregaram o caixão, abriram e fecharam a cova em sinal de respeito aos Mutum. Todos choraram compulsivamente por infinitas horas. E certamente ainda choram enquanto escrevo essas linhas. “Perdi meu companheiro!” soluçava João Bosco, cacique da Aldeia Mafuí e grande parceiro de Ivan. Bosco e Ivan casaram vários de seus filhos entre si, gerando um laço indissolúvel de companheirismo e obrigações mútuas. “Mataram meu cunhado!”, choravam indignados Duca e Pedro Tenharim, antigas e respeitadas lideranças do clã Taravé.

O filho mais velho de Ivan, Gilvan Tenharim, foi quem chorou com mais força e ininterruptamente. Com maturidade e força impressionantes, Gilvan afirmou que dará continuidade aos trabalhos de seu pai assim que recuperar força após o luto. A mãe de Ivan, Tu’ã, e sua tia, Kururu’í, as mais velhas da família, choraram o morto e participaram de toda a cerimônia. Telma, a viúva, e os filhos Darlene, Gilson, Daiane, Daniela e a pequena Gabriela choravam abraçados uns aos outros. Ninguém pode aceitar que uma pessoa tão boa e com tantos amigos possa ter partido dessa forma.

Ivan era como um chefe de Estado. As autoridades competentes devem ser capazes, agora, de dar uma resposta a altura da importância que o cacique tinha para os Tenharim. A FUNAI irá cobrar a polícia para que haja investigação e seja apontada a verdadeira causa da morte.

Deixamos, aqui, nossos pesares pela partida de Ivan Tenharim. Que siga a luta do povo Tenharim!

Adeus xará! Ji acoeté derehé!

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Comments (5)

  1. O coordenador regional do Madeira, Ivã Bocchini, ou Ivan Bocchini, foi responsável pelo começo de tudo, com um comentário infeliz, pessoal, baseado sobre vozes e opiniões de outras pessoas. Utilizou um blog federal para expressar ideias propiás sem a autorização dos superiores dele. Ele, querendo ou não querendo cometeu um crime. Teria, no minimo ser despedido por justa causa e indiciado pelo art. 286- incitar ao crime. Art 287-apologia de crime. E, se provado que agiu com mais pessoas da Funai, assim como parece, sendo que as declarações do Bocchini tiveram eco em outros comentários de executivos da Funai, pelo art. 288-quadrilha ou bando. Todo isso agravado e não, pelo contrario, aliviado, para ser o Bocchini um funcionário federal e (Agora a descontração) ser de origem italiana feito eu que estou escrevendo. E se Vc.s brasileiros soubessem o significado da palavra “Bocchini” entenderiam a burrada desse cara.

  2. O texto é bonito mas o IVã foi imprudente. Eu também postei uma nota sobre a morte do cacique Ivan, a quem conhecia pessoalmente, tendo inclusive se hospedado por mais de uma vez em sua aldeia. Contudo não haviam provas que afirmassem o Ivan ter sofrido atentado, hipótese que não foi confirmada. Deveria ter aguardado posição do IML. Ademais, a mesma “resposta à altura” que ele cobra dos agente do Estado sobre a morte do Ivan é aquela que a população de Humaitá espera sobre o desaparecimento de três inocentes, no que o Ivã foi bem omisso, não se manifestando nem dando a mínima.
    Porque o Ivã pode cobrar pela morte dos indígenas e a população local não pode se manifestar sobre o desaparecimento dos seus. É preciso muito discenrimento nesta estória para não transformamos vilões em heróis.

  3. É lamentável que um líder de uma nação indígena tenha um fim obscuro em face das dúvidas que cercam o óbito, sobretudo em território marcado historicamente por conflitos em face dos interesses em jogo. O estado brasileiro não pode ser omisso em relação ao episódio.

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