Campo Formoso: indígenas fazem exposição de produtos agrícolas e comemoram a conquista da TI Raposa Serra do Sol

Recepção dos convidados pelas lideranças indígenas da região
Recepção dos convidados pelas lideranças indígenas da região

Conselho Indígena de Roraima – CIR

A união, alegria e resistência de crianças, jovens e lideranças indígenas do Centro Regional Campo Formoso, localizado no coração da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, é sentida logo na entrada da comunidade, quando a equipe de recepção da festa vem ao encontro dos convidados, que chegaram ao local para também comemorar a conquista da Terra e prestigiar a Feira de Produção das comunidades do Centro Regional, realizada no final de semana, 23 e 24.

As crianças, os jovens, as mulheres e os líderes indígenas das cinco comunidades indígenas que compõem o Centro Regional Campo Formoso, que somam uma população de 280 pessoas estavam alegres, de vestes tradicionais, cantando e dançando a beleza da mãe terra, da mãe natureza, em um único ritmo de dança e tom de voz tradicional, para recepcionar a chegada dos representantes, como eles dizem, “da nossa organização”, do Conselho Indígena de Roraima (CIR). Antes deentrar e de participar da dança do parixara, os convidados receberam das lideranças tradicionais as pinturas indígenas de boas vindas.

Foi visível a emoção dos indígenas daquela localidade, cercada por serras e de um clima típico de uma região que respira ar puro e saudável, onde recebe a cruviana (vento) com liberdade. A paisagem exuberante fez parte da recepção no malocão comunitário, construído no centro da comunidade, um local destinado as comemorações e aos momentos de construção política, social, econômica e cultural das comunidades indígenas do Centro Regional Campo Formoso.

A recepção foi mais além, para cada convidado foi dado de presente uma camiseta representando os projetos desenvolvidos na região, tais como o projeto pai e filho, projeto de agropecuária, de agronomia e de outros que fazem parte do cotidiano e das conquistas das comunidades indígenas da região. Como resultado dessas conquistas, havia no malocão a exposição dos produtos agrícolas, artesanatos, carnes de caça e bovina, confecções e materiais reaproveitáveis.

Entre os produtos agrícolas estavam expostas a abóbora, macaxeira, farinha, goma, milho, arroz, banana, pimenta, feijão, e dos alimentos, a carne de caça, bovina e peixe. Além da confecção de roupas, artesanatos indígenas, como a peneira, tipiti, darruana, cesto e do reaproveitamento do couro bovino, a cela, laços e rede de couro (capitiana).

apresentacaoA exposição dos produtos foi um demonstrativo de como as comunidades indígenas tem sobrevivido ao longo dos anos, a base de produções saudáveis, e que apesar da dificuldade de escoamento estão produzindo. A produção, ainda não em grande escala, mas em quantidade suficiente para o consumo coletivo das comunidades indígenas.

Resultados como esses, somam aos esforços e lutas das lideranças indígenas que buscam garantir a terra produzindo, mas também preservando e respeitando o território tradicional conquistado, com toda a sua riqueza cultura, tradicional e natural.

Um momento de fala foi destinado às lideranças da região, vaqueiros, coordenadores de saúde, tuxauas e capatazes para exporem seus sentimentos de conquistas, de perspectivas e desafios, desta vez, com a terra definitivamente conquistada e garantida. O tuxaua, Raimundo Fernandes, da comunidade Ponto Geral, pertencente ao Centro Campo Formoso, com 22 anos de liderança indígena na região fez um breve relato do sofrimento que passou quando a terra ainda não era demarcada, onde ficavam sobre a mira dos invasores, fazendeiros e do próprio Estado, através da polícia que ali atuava.

Tuxaua Raimundo Fernandes, 22 anos de liderança indígena atuando na região de Campo Formoso
Tuxaua Raimundo Fernandes, 22 anos de liderança indígena atuando na região de Campo Formoso

Raimundo Fernandes foi preso por três vezes pela polícia, porque estava construindo na comunidade sua casa, que por sua vez, eram também destruídos pelos fazendeiros. “Agente construía nossas casas, plantava as roças, mas eles (fazendeiros) destruíam, era o maior sofrimento e agora com a demarcação, homologação estamos vivendo melhor, construímos a nossa comunidade, o Centro e estamos trabalhando, plantando, colhendo, o povo vive bem”. O tuxaua frisou a questão da dificuldade de escoamento dos produtos devido a região ser de difícil acesso, região serrana, onde o meio de transporte é aéreo, fluvial ou na maioria das vezes terrestre, mas que isso não impede a comunidade de produzir.

O Coordenador do Conselho Indígena de Roraima, Mário Nicacio, que esteve participando da ocasião juntamente com a equipe dos departamentos ambiental e comunicação, além da presença do coordenador regional Abel Lucena, da região das Serras, o jovem guerreiro também celebrou o momento de conquista. Mário Nicacio deu ênfase dizendo, “agora a terra é nossa, viu tuxauas”, que foi recebida com o grito de guerra da comunidade, “ontem fomos, hoje somos e amanhã seremos povos indígenas guerreiros”.

Durante a fala, o Coordenador do CIR fez um resumo das ressalvas em relação aos resultados das 19 Condicionantes, disse que prevalece para Terra Indígena Raposa Serra do Sol, além de pedir aos tuxauas que tenha cuidado e dêem atenção as questões que ficaram pendentes. Além disso, chamou atenção aos projetos de construção de hidrelétrica, de mineração propostos a serem construídos na TI, mas que o momento é de conquista, de comemoração, após os 30 anos de luta dos povos indígenas de Roraima. No mesmo ato, também lembrou os povos indígenas de Mato Grosso do Sul que sofrem ameaças de extermínio, mas deixou claro, o apoio dos povos de Roraima que somam força e resistência junto aos povos indígenas da região Sul do Brasil e demais regiões.

dancaO dia seguiu, com comemorações, discussões sobre a política do movimento indígena, apresentações das dificuldades e problemáticas que a região enfrenta na área da saúde, educação, transporte e outras questões de relevância à região. Um documento foi elaborado pelo Centro Regional Campo Formoso, sendo destinado aos órgãos como a Fundação Nacional do Índio (Funai), a Secretaria Especial de Saúde Indígena(Sesai) e ao Conselho Indígena de Roraima(CIR) para os devidos encaminhamentos e providencias. O documento também foi entregue ao Presidente do Conselho Local de Saúde, Dionito Jose de Sousa, ex-coordenador do CIR.

Com o mesmo espírito de alegria, de união e fortalecimento dos povos de Campo Formoso, que recepcionaram os convidados despediram-se  reafirmando o compromisso mútuo de continuar a luta em defesa do território conquistado, cada vez mais produzindo e buscando o bem viver e bem estar dos povos da região. Com o lema da festa ”ontem fomos, hoje somos e amanhã seremos povos indígenas guerreiros”, os líderes, os jovens, as crianças, mulheres permaneceram na comunidade, comemorando mais uma conquista, a conquista da terra e da produção sustentável existente no Centro Regional Campo Formoso, que assim, reflete em todo território da Raposa Serra do Sol.

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