Como se manipula a informação

JNPor Mário Augusto Jakobskind, em Direto da Redação

Não é de hoje que vários pensadores sérios estudam o mecanismo da manipulação da informação na mídia de mercado. Um deles, o linguista Noam Chomsky, relacionou dez estratégias sobre o tema.

Na verdade, Chomsky elaborou um verdadeiro tratado que deve ser analisado por todos (jornalistas ou não) os interessados no tema tão em voga nos dias de hoje em função da importância adquirida pelos meios de comunicação na batalha diária de “fazer cabeças”.

Vale a pena transcrever o quinto tópico elaborado e que remete tranquilamente a um telejornal brasileiro de grande audiência e em especial ao apresentador.

O tópico assinala que o apresentador deve “dirigir-se ao público como criaturas de pouca idade ou deficientes mentais. A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discursos, argumentos, personagens e entonação particularmente infantil, muitas vezes próxima da debilidade, como se o espectador fosse uma pessoa de pouca idade ou um deficiente mental. Quanto mais se tenta enganar o espectador, mais se tende a adotar um tom infantil”.

E prossegue Chomsky indagando o motivo da estratégia. Ele mesmo responde: “se alguém se dirige a uma pessoa como se ela tivesse 12 anos ou menos, então, por razão da sugestão, ela tenderá, com certa probabilidade, a uma resposta ou reação também desprovida de um sentido crítico como a de uma pessoa de 12 anos ou menos”. (mais…)

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Será mesmo uma vitória? Termo de compromisso cria reserva Anacé e abre caminho para início das obras do Pecém

A recepção dos Anacé, em 2009
A recepção dos Anacé, em 2009, sob a mangueira centenária

Tania Pacheco – Combate Racismo Ambiental

Não sei se foi uma vitória, uma derrota ou, mais provável, a solução possível na atual conjuntura. Por isso mesmo, não sei se comemoro ou me entristeço. De qualquer forma, há em mim uma certeza de perda.

anacé e dilma

Em 2009, no terceiro dia do II Seminário Brasileiro contra o Racismo Ambiental, fomos recebidos nas terras Anacé de forma inesquecível. Chegamos em três ônibus e, no início do território, eles nos esperavam à sombra de uma gigantesca e centenária mangueira, num dos lados da qual haviam depositado uma fileira de objetos simbólicos, como pode ser visto na foto acima. À sua volta fizemos uma gigantesca roda, e eles nos saudaram, falando de sua luta, emocionados, e dizendo que a nossa presença ali trazia para eles novas forças.

No caminho para o povoado de Chaves, onde passaríamos o final da manhã e a tarde, ouvimos novas histórias sobre as consequências da chegada do progresso em seu antigo território. No caminho, uma freira que participava do grupo já nos contara de uma capela de mais de 200 anos, onde ex-votos eram mantidos, que havia sido destruída, e as relíquias, queimadas. E isso apesar dos protestos dos indígenas e do próprio Ministério Público Federal. Dos dois lados da estrada, o que antes havia sido mata densa era agora terra arrasada. (mais…)

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“Vidas Perdidas e Racismo no Brasil”: Pesquisa apresenta dados sobre violência contra negros (para ler/gravar)

Vidas Perdidas e RacismoAlagoas, Espírito Santo e Paraíba concentram maior número de negros vítimas de homicídio

Em Alagoas, os homicídios reduziram em quatro anos a expectativa de vida de homens negros. Entre não negros, a perda é de apenas três meses e meio. O estado nordestino apresentou o pior resultado entre todas as Unidades da Federação, de acordo com um estudo divulgado pelo Ipea nesta terça-feira, 19, véspera do Dia Nacional da Consciência Negra. A Nota Técnica Vidas Perdidas e Racismo no Brasil calculou, para cada estado do país, os impactos de mortes violentas (acidentes de trânsito, homicídio, suicídio, entre outros) na expectativa de vida de negro e não negros, com base no Sistema de informações sobre Mortalidade (SIM/MS) e no Censo Demográfico do IBGE de 2010.

“Enquanto a simples contagem da taxa de mortos por ações violentas não leva em conta o momento em que se deu a vitimização, a perda de expectativa de vida é tanto maior quanto mais jovem for a vítima. Em segundo lugar, a expectativa de vida ao nascer é um dos principais indicadores associados ao desenvolvimento socioeconômico dos países”, explica o texto da pesquisa.

O estudo, de autoria do diretor de Estudos e Políticas do Estado, das Instituições e Democracia (Ipea), Daniel Cerqueira, e de Rodrigo Leandro de Moura, da Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV), analisou ainda em que medida as diferenças nos índices de mortes violentas podem estar relacionadas a disparidades econômicas, demográficas e ao racismo. De acordo com os autores, “o componente de racismo não pode ser rejeitado para explicar o diferencial de vitimização por homicídios entre homens negros e não negros no país”.  (mais…)

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Hospital psiquiátrico infantil abrigou salas de tortura em BH durante 32 anos

Celas que dão para um corredor de 182 metros abrigaram centenas de crianças durante 32 anos. Foto: Priscila Musa -  Espaço Comum Luiz Estrela
Celas que dão para um corredor de 182 metros abrigaram centenas de crianças durante 32 anos. Foto: Priscila Musa – Espaço Comum Luiz Estrela

Por Clarissa Carvalhaes – Hoje em Dia

Mais que o glamour de um prédio de arquitetura neoclássica, o casarão construído na rua Manaus, 348, no bairro Santa Efigênia, esconde uma fase de clausura, terror e sofrimento de pequenos internos entre os anos 1947 e 1979 – período no qual a edificação abrigou um Hospital de Neuropsiquiatria Infantil.

“Este é um espaço de sofrimento e essa história precisa ser contada”, exige, comovido, um ex-paciente do hospital, que pede anonimato. Já aposentado, o homem revela que foi internado na unidade de saúde aos 5 anos de idade.

“Eu só estou vivo porque consegui fugir pelo telhado. Eu ouvia os gritos das pessoas e muitas vezes passei pelo eletrochoque”.

Memória

Entre os escombros do casarão, que ficou fechado por quase duas décadas, há um corredor de 182 metros de extensão localizado no primeiro andar. Lá, são encontrados cômodos de aproximadamente 15 metros quadrados, com paredes cheias de rabiscos de pequeninas mãos, nomes e desenhos. Não há circulação de ar porque as janelas foram lacradas com tijolos. Um ambiente que causa desconforto físico e moral – tortura, segundo definição no dicionário da Academia Brasileira de Letras. (mais…)

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Madeireiros têm nova estratégia de exploração ilegal

desmatamento do satélite

Eles desmatam áreas menores, invisíveis aos radares, cientes de que são monitorados por satélites

Por Étore Medeiros, em Estado de Minas

Brasília – Apesar do retorno de grandes áreas de desmatamento na Amazônia, superiores a mil hectares, um perfil de derrubada de floresta tem se consolidado na região nos últimos anos. São os polígonos menores de 25 hectares, invisíveis ao Sistema de Detecção do Desmatamento na Amazônia Legal em Tempo Real, o Deter, do governo federal, que não tem resolução suficiente para percebê-los. Cientes de que estão sendo vistos do espaço, os madeireiros ilegais também têm atuado mais durante o inverno amazônico, entre dezembro e abril, quando a cobertura de nuvens é intensa — condição que prejudica a detecção pelos satélites. Sinalizações do governo de redução de unidades de conservação seriam outro fator de risco à floresta.

O governo só toma conhecimento de boa parte das derrubadas quando o estrago já está feito, por meio do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes). No último balanço anual, divulgado há duas semanas, constatou-se um aumento de 28% das áreas de floresta perdidas. Entre agosto de 2012 e julho de 2013, foram desmatados 5.843km², área equivalente a todo o Distrito Federal. Desde 2005 à frente na lista, o Pará contribuiu com 2.379km², ou 40,7% do total, seguido por Mato Grosso (1.149km²) e Rondônia (933km²). Juntas, as áreas dos três estados formam o chamado Arco do Desmatamento. (mais…)

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Negras são vítimas de mais de 60% dos assassinatos de mulheres no país

criança negra mapaAgência Senado/População Negra e Saúde

Mais de 60% das mulheres assassinadas no Brasil entre 2001 e 2011 eram negras. O dado, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), foi citado pela senadora Maria do Carmo Alves (DEM-SE) ao abrir nesta quinta-feira (21) debate sobre a violência contra a mulher negra.

Ao longo da discussão, especialistas na questão destacaram o fato de as mulheres negras, além de terem de enfrentar situações cotidianas de opressão, ocuparem os lugares mais desfavoráveis na estrutura social e econômica do país. O evento foi promovido pela Procuradoria Especial da Mulher do Senado e pela Secretaria da Mulher da Câmara dos Deputados como parte do programa Quintas Femininas.

Mônica Oliveira Gomes, que representou a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), destacou os obstáculos no acesso a postos profissionais e à renda igualitária do trabalho. Ela também mencionou situações de discriminação até mesmo na utilização dos serviços públicos, a seu ver um problema que revela a existência de racismo institucional no país, e não apenas o reconhecido racismo interpessoal.

– A instituição também tem responsabilidade sobre o dano que aquela funcionária ou aquele funcionário venha a causar a quem foi discriminado – defendeu.

A palestrante citou recente estudo do Ipea segundo o qual os negros ganham 36% menos que os brancos, mesmo possuindo a mesma qualificação. Quando se observa apenas a remuneração das mulheres negras, a diferença com os ganhos dos brancos sobe para 40%. (mais…)

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A real abolição: Brancos possuem melhor qualidade de vida

maos socioambientalismoTom da pele dita posição social. Estudo deixa claro que a desigualdade racial está presente nos indicadores de educação, saúde e renda do país.

Por Victor Martins e Bárbara Nascimento, em Estado de Minas

Brasília – Pela métrica do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), e segundo as observações da pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) sobre a desigualdade no país, o Brasil branco tem uma qualidade de vida semelhante à da Sérvia, que não tem “características de país de Terceiro Mundo”. O de negros e pardos fica entre as nações de IDH baixo, como o Turcomenistão, a Tailândia e a China, países que avançam rapidamente.

O estudo, elaborado pelo professor Marcelo Paixão, não prega o separatismo. Muito pelo contrário, evidencia a desigualdade racial que persiste nos indicadores de educação, saúde, segurança e renda. “O Brasil construiu uma naturalização de papéis sociais, que faz com que uma pessoa esteja condenada a uma posição por causa da cor pele”, explica o professor. “Como é considerado normal que os negros ocupem o andar de baixo na sociedade, todos tratam como se fosse natural, como se não houvesse necessidade de mudar”, argumenta.

A construção da nova classe C, impulsionada pela distribuição de renda — principalmente por programas como o Bolsa-Família e os reajustes do salário mínimo —, apesar de não ter sido montada com base em uma política direcionada para negros, beneficiou essa população e ajudou a amenizar as disparidades entre os brasileiros. (mais…)

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A real abolição: Desigualdade racial ainda reina no país

cabeças desigualdade

Apesar das melhorias, condição de vida de negros ainda é pior que a de brancos

Por Victor Martins e Bárbara Nascimento, em Estado de Minas

Brasília – O Brasil, se dividido pela cor da pele, seria dois países distintos. Um formado por uma população branca, que ocuparia a 65ª posição no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Outro, de negros e pardos, estaria relegado ao fim dessa fila, no 102º lugar. Os dados evidenciam o tamanho e a persistência da desigualdade racial que ainda reina no país, a despeito de todos os avanços sociais na última década. (mais…)

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A real abolição: Quilombos resistem, mas sofrem por abandono

Marineida e a amiga Adriana Santos lavam roupa e se queixam da falta de oportunidades
Marineida e a amiga Adriana Santos lavam roupa e se queixam da falta de oportunidades

Populações que vivem nos locais que serviram de refúgio para escravos declaram amor pelos lugares, mas lamentam a falta de empregos e de serviços básicos

Por Paulo Henrique Lobato, em Estado de Minas

União dos Palmares (AL) e Paraopeba (MG) – Erick da Silva, de 8 anos, abre um largo sorriso para dizer que ama o lugar em que mora, numa casa pequena, no alto da Serra da Barriga, de onde a vista alcança léguas e léguas no interior de Alagoas. Lá tem mangueiras, laranjeiras, bananeiras e uma lagoa em que o garoto e seus amiguinhos nadam quase todos os dias enquanto a mãe de Erick, dona Marineida, e outras mulheres lavam roupas. “Aqui é muito gostoso de viver”, diz o menino. A mãe concorda, mas pondera: “É um lugar maravilhoso. Só que faltam empregos”. (mais…)

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Histórias de resistência: Rosemeire lidera luta de moradores do Quilombo Rio dos Macacos, BA

Rosemeire Quilombo Rio dos MacacosEm assembleias, audiências e manifestações, ela é reconhecida como liderança comunitária

Por Lara Bastos*, em iBahia

Rosemeire dos Santos Silva, 36 anos, mãe de quatro filhas, esposa de Raimundo, mulher, negra, baiana. Rosemeire poderia ser como tantas outras mulheres, se não tivesse nascido e crescido em meio à disputa territorial entre os militares da Base Naval de Aratu e os moradores do Quilombo Rio dos Macacos, localizado no município de Simões Filho, na Região Metropolitana de Salvador.

Assertiva e confiante, Rosemeire tem postura firme e não demonstra receio nem mesmo ao narrar os abusos físicos e morais pelos quais viu amigos e familiares passarem. A mulher de personalidade forte só hesita ao falar sobre uma das filhas, hoje com 11 anos. “Quando ela via um deles, ela corria para dentro do quarto e ia pra debaixo da cama. Ela ficou com trauma porque apontaram aquelas armas na cabeça dela quando era criança”, lamenta.

Na vida de Rosemeire, o medo e a coragem andam de mãos dadas. Medo de sair de casa e não poder voltar ou de voltar e não encontrar mais a casa. Coragem de sair, mesmo com medo, e procurar as autoridades, sem receio de não ser ouvida. “Eu tive que mergulhar por baixo das pernas do segurança, mas consegui falar com ele e entreguei uma carta na mão dele”, conta sobre o dia em que encontrou o ex-presidente Lula, durante visita do político à Salvador. (mais…)

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