Tania Pacheco – Combate Racismo Ambiental*
O irmão de Valdelice Verón, Valmir, foi encontrado morto dentro de casa hoje, aparentemente ‘suicidado’. E quando uso o termo “suicidado”, faço-o no sentido utilizado por Antonin Artaud em “Van Gogh: o suicidado da sociedade”: a incapacidade de aceitar “o outro”, na sua diversidade e identidade próprias; o desejo de submetê-lo e, em alguns casos, até mesmo explorá-lo.
Por motivos diferenciados, trata-se, aqui também, de uma sociedade que relega os povos originários a viver em verdadeiros guetos, num desespero que acaba por levá-los a desistirem da própria vida. E trata-se, paralelamente, de um Estado no qual os poderes públicos não cumprem a Constituição de 1988, pela qual há 20 anos todas as terras indígenas deveriam ter sido homologadas. Os “suicidados” não tiraram, pois, a própria vida. Quem o fez, quem os assassina a cada dia, semana, mês, numa estatística macabra da qual MS é recordista absoluta, é a nossa omissão, permitindo que a sociedade na qual vivemos lentamente os assassine.
Como se isso não bastasse, é fundamental ainda que se registre, também neste caso e mais uma vez, a negligência da PM (segundo consta, obedecendo ordens do próprio governador) para com a população indígena. Para que a Polícia Civil pudesse chegar ao local, para fazer a perícia, a Funai foi obrigada a acionar a Força Nacional, mesmo tendo o caso ocorrido em local fora de sua área de atuação. Em Mato Grosso do Sul, “a PM não atende nas áreas indígenas”.
Nossa solidariedade a Valdelice e aos demais parentes. Chega!
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Enviada para Combate Racismo Ambiental por Janete Melo, com informações também de Vania Pereira da Silva e Gustavo Guerreiro.