Capitão e Irembé Potiguara, de Baía da Traição (PB), no Cimi
A usina e indústria de açúcar Monte Alegre, sediada no município de Mamanguape, litoral da Paraíba, derramou centenas de litros de vinhoto, subproduto viscoso da cana de açúcar, nas águas do rio que leva o mesmo nome da cidade e corta o território Potiguara. Milhares de peixes, camarões e demais crustáceos acabaram morrendo, sendo tal fauna responsável pela alimentação e subsistência do povo indígena. O fato aconteceu no último mês de setembro. Na foto acima, Capitão Potiguara (à esquerda) e o cacique geral Sandro Potiguara.
Potiguara significa, em tupi, comedor de camarão. Desde a colonização o povo nunca saiu de seu território, sendo então a pesca de peixes e camarão uma atividade tradicional e fundamental às aldeias Potiguara. Com o derrame do vinhoto, aproximadamente 500 famílias indígenas das aldeias Jaraguá, município de Rio Tinto, Três Rios, Tramataia e Camurupim, município de Marcação, acabaram prejudicadas e estão impedidas de pescar.
Os pescadores indígenas encontram-se desolados sem saber como agir diante da presente situação. Os relatos dão conta de que o principal meio de sobrevivência está completamente poluído e agora questionam o que vão fazer depois dessa tragédia ambiental e social. Não é possível determinar quanto tempo o rio levará para se livrar do vinhoto, caso a usina não lance mais o detrito em suas águas.
Em 1987 o povo Potiguara passou por situação semelhante. Na ocasião a usina Agican, de Rio Tinto, também jogou vinhoto, mas no rio Camaratuba, matando milhares de peixes e crustáceos. A poluição prejudicou a vida de diversas famílias nas aldeias Cumaru, São Francisco, Galego, Tracoeira, Santa Rita, Laranjeiras, Lagoa do Mato, entre outras. O caso foi denunciado inúmeras vezes pelas lideranças indígenas à época cobrando providências, mas o caso segue impune 26 anos depois. E a razão está num relatório do próprio Estado.
A Superintendência de Administração de Meio Ambiente (Sudema) da Paraíba emitiu um laudo considerado uma vergonha para os Potiguara. O órgão relatou ao povo que a contaminação nas águas do Camaratuba se deu por conta de um caminhão de sal que virou no rio.
Tristeza repetida
A tristeza que tomou conta do povo naquele momento hoje se repete. Esperamos que as autoridades competentes tomem as devidas providências e que as verdadeiras causas deste crime apareçam. O povo Potiguara não quer nada além de viver do meio ambiente, sempre com respeito e protegendo esse espaço que nos concede o alimento.
Que nosso pai Tupã nos proteja e que a justiça seja feita. A usina e indústria Monte Alegre deve pagar por este crime ambiental e contra o povo. Chega de Impunidade!