Boom do xisto pode ter vida curta

O poço Serenity 1-3H, da Chesapeake Energy, perto de Oklahoma City, jorrou petróleo em 2009, produzindo mais de 1,2 mil barris por dia e dando início a uma corrida de perfuração de poços que se estendeu até o Kansas. Agora, o poço fornece menos de 100 barris por dia, segundo registros do Estado. O rápido declínio do Serenity lança luz sobre um segredo muito bem ocultado sobre o boom do petróleo: ele pode não durar

Asjylyn Loder – Bloomberg Businessweek / Valor

Os poços de xisto começam a pleno vapor, mas declinam rapidamente, e os produtores estão abrindo novos poços a um ritmo alucinante para manter a produção estável. Nos campos, a necessidade incessante de perfurar é referida como Rainha Vermelha, nome do personagem em “Alice no País dos Espelhos” que diz a Alice: “Você precisa correr o máximo que for capaz, para ficar no mesmo lugar”.

Os EUA estão extraindo 7,8 milhões de barris de petróleo por dia, mais do que produziram nos últimos 25 anos. O petróleo bruto tirado de formações de xisto reduziu a dependência em relação às importações e, desde 1989, este é o momento em que o país está mais perto da autossuficiência energética.

O debate está centrado em se a produção é sustentável. David Hughes, um geocientista e presidente da Global Sustainability Research, analisou o ciclo de vida dos poços de xisto. “A síndrome da Rainha Vermelha está cada vez mais aguda”, diz ele. “Quanto maior a produção, mais poços são necessários para compensar o declínio.”

A Energy Information Administration dos EUA estima que cerca de 29% da produção de petróleo americana hoje vêm das chamadas “formações densas de petróleo”. Essas densas camadas de rocha e xisto são rompidas por jateamento de água, areia e produtos químicos a grandes profundidades, criando fissuras que permitem ao óleo fluir em tubos horizontais, alguns deles com centenas de metros de comprimento.

A produção de poços perfurados nessas formações diminui de 60% a 70% no primeiro ano, diz Allen Gilmer, presidente e executivo-chefe da Drillinginfo, que acompanha o desempenho dos poços nos EUA. A produção nos poços tradicionais leva dois anos para minguar para entre 50% e 55%, e o bombeamento pode ser mantido por 20 ou mais anos.

No campo de xisto Bakken, em Dakota do Norte, de um poço conhecido como Robert Heuer 1-17R foram extraídos 2.358 barris em maio de 2004, quando passou a operar. A produção provou que seria lucrativo abrir poços no campo de Bakken e assim começou uma corrida ao petróleo em Dakota do Norte. A Continental Resources, operadora do poço construiu um monumento para ele. A produção caiu 69% no primeiro ano.

“Eu vejo o xisto mais como uma festa de despedida do que uma revolução”, diz Art Berman, geólogo petrolífero que passou 20 anos na empresa que então era chamada Amoco e hoje tem o seu próprio empreendimento, Labyrinth Consulting Services, em Sugar Land, Texas. “É o último suspiro.”

Muitos discordam. Aubrey McClendon, fundador e ex-presidente e CEO da Chesapeake, qualifica Berman de “geólogo de terceira classe”. Harold Hamm, presidente e CEO da Continental, estimou em 2010 que havia 24 bilhões de barris de petróleo recuperável em Bakken e em outras formações no subsolo da bacia do Williston.

Hamm diz que uma tecnologia aperfeiçoada poderá, no futuro, aumentar esse número para 45 bilhões: “Estamos apenas começando”, diz ele. Desde quando a Continental perfurou o poço Robert Heuer, a produção de petróleo em Dakota do Norte cresceu mais de dez vezes, para 874 mil barris por dia, superando o Equador e o Qatar, os dois membros de menor porte na Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).

Hughes, da Global Sustainability, estima que os EUA precisam perfurar 6.000 novos poços por ano, a um custo de US$ 35 bilhões, para manter a produção atual. Sua pesquisa também mostra que os poços mais novos não são tão produtivos como os abertos nos primeiros anos do crescimento explosivo, um sinal de que as companhias de petróleo já esgotaram os melhores sítios, tornando muito mais difícil continuar quebrando recordes. Hughes previu que a produção atingirá o pico em 2017 e então cairá para níveis de 2012 num prazo de dois anos.

“O entusiamo exagerado quanto à independência energética dos EUA e ao uso do termo ‘América Saudita’ é ensurdecedor se você ouvir os meios de comunicação”, diz Hughes. “Precisamos ter uma discussão mais aprofundada e inteligente sobre isso.” No dia 7, Abdalla Salem el-Badri, secretário-geral da Opep, disse em uma conferência no Kuait que os produtores de xisto americanos estão “ficando sem sítios ótimos” e que a produção atingirá seu pico em 2018.

Se a expansão acelerada for seguida de um brusco colapso, isso afetará profundamente a sorte de Estados como Oklahoma, que de 1907 a 1923 foi o maior do produtor de petróleo nos EUA. Sua produção aumentou mais de 80% desde que a Chesapeake abriu o poço Serenity nas proximidades da fronteira com o Kansas, motivada pelo preço do petróleo, em média superior a US$ 85 por barril desde o início de 2009. As brocas estão penetrando o xisto de Woodford, do Mississippi Chat e do Mississippi Lime, camadas de depósitos endurecidos deixadas por um mar raso que cobria Oklahoma 350 milhões de anos atrás.

Steve Slawson, vice-presidente da Slawson Exploration, prevê mais alguns anos de crescimento na produção americana, se os preços continuarem altos. Abaixo de US$ 70 o barril, o número de plataformas de extração de petróleo cairá e a produção não ficará muito atrás, diz ele. “Como qualquer outra pessoa com mais de 50 anos e viveu um ciclo de expansão acelerada seguida de colapso brusco, estou preocupado”, diz ele.

As empresas que tomaram muito dinheiro emprestado para financiar a perfuração serão particularmente afetadas se os preços caírem. Como o preço do gás natural começou a recuar, a Chesapeake foi obrigada a vender ativos para bancar a perfuração e a cortar postos de trabalho.

Os habitantes de Oklahoma sabem tudo sobre bolhas. Em Osage Nation, equipamentos para bombeamento de petróleo estão abandonados, enferrujando na pradaria que faz parte do campo petrolífero de Burbank. Descoberto em 1920, o campo teve o auge de sua produção em 1923 – uma média diária de 72 mil barris. Nasceu ali uma cidade com milhares de pessoas, inclusive 300 empresas. Os moradores a batizaram de Whizbang (chispa). Hoje, há apenas algumas fazendas e uma placa de trânsito – Whizbang sumiu na grama.

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Ruben Siqueira.

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