Ocupe o Cocó: resistência em defesa do parque continua em Fortaleza

(Foto: TV Verdes Mares/Reprodução)
(Foto: TV Verdes Mares/Reprodução)

Por Raquel Rolnik

Desde meados de julho, manifestantes ocupam o Parque do Cocó, em Fortaleza, protestando contra a construção de viadutos que avançariam pelo parque, uma das poucas áreas verdes da cidade. Trinta árvores, de diferentes espécies, chegaram a ser cortadas no início das obras, que, se não tivessem sido interrompidas, colocariam abaixo pelo menos outras 70. Esse foi o pontapé inicial da ocupação, que ficou conhecida como Ocupe o Cocó. Na quinta-feira da semana passada, após cerca de 40 dias de mobilização, uma ordem judicial de reintegração de posse seria executada.  Mas a própria juíza Joriza Pinheiro que determinou a desocupação recuou de sua decisão. Em função das últimas manifestações da Advocacia Geral da União (AGU), a juíza entendeu que o processo na verdade seria de competência da Justiça Federal e determinou o encaminhamento dos autos. Isso sem dúvida pode ser considerado uma vitória dos manifestantes.

Decididos a resistir e a permanecer na ocupação, com apoio de diversos setores da sociedade que se somaram ao acampamento na noite anterior, se a reintegração fosse levada adiante, provavelmente veríamos mais um triste episódio de violência policial. Esperamos que agora a Prefeitura de Fortaleza e o Governo do Estado do Ceará busquem soluções para o caso, abrindo canais de diálogo e construindo espaços efetivos de participação da população. Ao longo desses dias de ocupação, inclusive, foi promovido um concurso de alternativas aos viadutos, não com o objetivo de escolher um vencedor, mas de reunir propostas e reivindicar canais de diálogo.

Aliás, está enganado quem pensa que os manifestantes do Ocupe o Cocó estão lutando apenas contra a derrubada de árvores e a preservação do parque. Essa mobilização mostra que a população de Fortaleza está questionando fortemente o modelo de desenvolvimento urbano da cidade e não aceita mais projetos que impactam a vida de todos, mas que não são discutidos com ninguém. Como tantas das manifestações que vimos no Brasil nos últimos meses, e mesmo no mundo, me parece que também neste caso estamos diante de uma reivindicação pelo direito à cidade, pelo direito de participar ativamente das decisões sobre em que cidade queremos viver.

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