“Crítica à resposta da Eternit a O Globo neste final de semana: Lobo em pele de cordeiro”

"Tragédia Eternit: Justiça"
“Tragédia Eternit: Justiça”

Por Fernanda Giannasi

O reconhecimento público de alguns casos (110) em O GLOBO, que “escaparam”, não inocenta a Eternit de suas responsabilidades, especialmente porque, apesar da legislação brasileira ter se ocupado tardiamente da questão (argumento que tem sido repetido ad nauseam pela empresa, que tem tido sucesso em alguns tribunais paulistas com esta tese ridícula) é mais do que provado que o vértice empresarial que comandava a multinacional, primeiramente suíça até 1990 pela família Schmidheiny, cujo membro mais proeminente do clã foi condenado a 18 anos de prisão pelo Tribunal de Turim, posteriormente francesa até 2000 pelo grupo francês Saint-Gobain, tinha pleno conhecimento dos riscos associados ao amianto muito antes até da instalação das suas filiais no Brasil, no final dos anos 30, conforme documentos constantes in ETERNIT: THE GREAT TRIAL (ETERNIT: O PROCESSO DO SÉCULO) da autoria de Laurie Kazan-Allen et al., cuja tradução em português nos foi brindada pela CUT. Portanto, a empresa assumiu os riscos e assim continua, pois não parou de produzir com amianto no Brasil, mesmo após o pleno conhecimento da alta letalidade de sua matéria-prima.

As instituições governamentais em todo o mundo, e o Brasil não foge à regra, legislaram tardiamente sobre a matéria, principalmente pela falta de informações do que ocorria nas minas e fábricas em relação à saúde dos trabalhadores e trabalhadoras, fruto de um bem engendrado plano de ocultação de dados – o silêncio epidemiológico – ou a chamada “construção social da ignorância” promovida por médicos, cientistas renomados, agências de publicidade e advogados regiamente remunerados. 

Por aqui, os acordos extrajudiciais promovidos por Eternit e a francesa Brasilit/ Saint-Gobain, desde meados da década de 90, com mais de 3.000 ex-empregados, acometidos das diversas doenças relacionadas ao amianto, mantiveram estes dados invisíveis aos olhos dos órgãos de saúde e do INSS  por mais de uma década. Somente graças à ação diligente do Ministério Público do Trabalho é que se pôs fim a este dramático silêncio epidemiológico.

Na França, as instituições públicas e seus responsáveis estão sendo investigados pela Justiça por terem se deixado “anestesiar” pela poderosa máquina de propaganda da indústria do amianto e por terem se omitido anos a fio diante da chamada “catástrofe sanitária do século XX”. Esperemos que aqui, algum dia, também possamos passar a limpo esta história!

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