Mobilidade em SP: o impacto das novas faixas de ônibus

Raquel Rolnik*

Na semana passada, uma reportagem do Estadão resolveu testar, de ônibus e de carro, o trajeto de 23 quilômetros entre o terminal Capelinha, no extremo sul de São Paulo, e a Praça da Sé, no centro. O percurso inclui trechos dos novos 60 quilômetros de faixas exclusivas de ônibus recém-instaladas, como na Avenida 23 de Maio. De acordo com o jornal, a viagem de ônibus levou 1h50min, meia hora a menos que a de carro.

Um balanço divulgado pela CET na semana passada afirma que a velocidade dos ônibus no corredor norte-sul praticamente dobrou. Na última quarta-feira, entre 12h e 15h, ou seja, fora do horário de pico, a CET registrou velocidade média de 31,38 km/h nos ônibus, no sentido centro, de acordo com a Folha Online. Antes da faixa, a velocidade era de 15,85 km/h. A Folha diz ainda que, segundo a prefeitura, na semana passada, a velocidade média dos ônibus ficou 60% maior na hora do rush no sentido centro. No sentido bairro, a melhora foi de 18%. A melhora no transporte coletivo, demanda fundamental da cidade de São Paulo, já mostra que é possível avançar significativamente na qualidade deste transporte, com intervenções que nem são as mais radicais, mas que também precisam incluir a melhoria do conforto e outros elementos.

Ainda bem que, a despeito das reclamações de alguns motoristas de carro particular, a prefeitura tem reafirmado o compromisso de licitar, ainda este ano, 127 km de corredores de ônibus. Se é óbvio que a implementação de faixas e corredores exclusivos aumenta a velocidade dos ônibus, beneficiando muita gente, por outro lado, intervenções feitas no sistema viário para melhorar o fluxo de automóveis particulares não têm resultados.

Na semana passada, o Estadão mostrou também como o alargamento das pistas da marginal do Tietê e a restrição de caminhões melhoraram a velocidade dos carros por um curto período e logo deixaram de surtir efeito. “Em vias de trânsito rápido, como a Marginal, a velocidade média no pico da tarde subiu de 14 km/h, em 2009, para 20 km/h, em 2010, e para 26 km/h, em 2011. A evolução parou por aí.” De acordo com a reportagem, um estudo divulgado pela prefeitura mostrou que a velocidade média no período das 7h às 10h caiu 13% em 2012, em comparação com 2011, passando de 48 km/h para 42 km/h; e no período das 17h às 20h, a redução foi de 14%, passando de 26 km/h para 22 km/h. A lentidão aumentou em todos os horários, tanto em vias rápidas quanto em vias arteriais.

Moral da história: não adianta ponte, viaduto e túnel para fazer passar mais carros. A mobilidade na metrópole paulistana depende fundamentalmente da melhoria do transporte público coletivo.

*Urbanista, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo e relatora especial da Organização das Nações Unidas para o direito à moradia adequada.

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