CE – Caso Cocó: O Poder viu-se forçado a ceder e negociar

(Foto – Fco Fontenele)
(Foto – Fco Fontenele)

Por Eliomar de Lima

A madrugada de segunda para terça-feira foi momento histórico, divisor de águas na política do Ceará. Pela primeira vez, movimento como o que ocorre no Parque do Cocó levou o governador a se deslocar até eles na tentativa de negociação. Vitória, sem dúvida, para os “maconheiros”, “burgueses”, “ecodesocupados”, “ecochatos”, idiotas, ridículos, conforme adjetivação que os áulicos lhe vinham atribuindo. Esse grupo tão esculachado alcançou o que nenhuma mobilização obteve antes deles.

Mesmo com aval do Poder Judiciário e da Secretaria do Patrimônio da União (SPU) para as obras seguirem em frente, Cid Gomes (PSB) foi até lá, sentou na roda, ouviu muitas e boas, na tentativa de convencer os manifestantes a deixarem seu aliado, o prefeito Roberto Cláudio (PSB), construir o viaduto. O poder viu-se forçado a ceder e negociar.

Assim como, no Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB) desistiu de demolir o parque aquático Julio Delamare – cuja reforma para o Panamericano de 2007 custou em torno de R$ 10 milhões, coisa de país rico, sabe como é. Também o estádio de atletismo Célio de Barros não irá mais ao chão, bem como o Museu do índio. Foi forçado a recuar diante da queda vertiginosa de popularidade e das resistências à derrubada, ao arrepio da lei, de bens tombados, assim como o era a marquise do Maracanã, que foi destruída no mais descarado vandalismo de Estado. Da mesma forma como Dilma Rousseff (PT) também teve de voltar atrás em relação ao programa Mais Médicos, em relação a medida cujos méritos até foram aqui apontados, mas que pecou pela falta de diálogo.

Nenhum dos gestores tomou a atitude acima mencionada por gosto. Todos os fatores são sintomas de um tempo que acabou. A época do trator chegou ao fim. Depois da efervescência social que o Brasil vivenciou, os governantes não têm mais condições de fazer as coisas pela força, por cima de pau e pedra, doa a quem doer. Esse passado foi soterrado pelas ruas.

Posturas como as que a coluna criticou no último sábado, da agressão e da baixaria em vez do diálogo, são espasmos cadavéricos de um tempo que as ruas sepultaram, embora sejam muitos os governantes que insistem em não entender isso. Pouco a pouco, caem na real. Aliás, ao ir até os manifestantes, Cid vai na contramão desse comportamento. Que sirva de exemplo a muitos de seus aliados, gente cuja posição está longe de ter a mesma relevância, mas cujo comportamento destila não só arrogância e prepotência, mas também falta de educação, grosseria e despreparo para a função pública.

Da Coluna Política do O POVO, assinada, nesta quarta-feira, pelo jornalista Érico Firmo, eis o tópico “Fim de uma era dos espasmos do passado”.

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Rodrigo de Medeiros Silva.

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