RJ – ‘Sofremos um terror psicológico’, diz coordenador do AfroReggae

AfroReggae
‘A gente denunciou o pastor (Marcos Pereira) como o maior mentor criminoso do Rio’, disse coordenador do AfroReggae (Foto: Glauco Araújo/G1)

Alba Valéria Mendonça, do G1 Rio

Depois de uma reunião com o comando da Polícia Militar, nesta segunda-feira (22), o coordenador da ONG AfroReggae, José Júnior, garantiu que as atividades do núcleo do grupo na Grota, no Conjunto de Favelas do Alemão, na Zona Norte do Rio, continuam encerradas. Júnior terá uma reunião na terça-feira (23) com o prefeito Eduardo Paes, que pretende assumir as atividades sociais na comunidade.

“Contra a minha vontade, digo que o AfroReggae encerrou suas atividades na Grota. Por mim, continuava, mas não depende só de mim. Os funcionários, crianças, idosos e moradores que faziam parte das atividades estão com medo. Estão fazendo terror psicológico com as pessoas. Acho até que demorou muito para tudo isso acontecer”, disse o coordenador após a reunião, voltando a acusar o pastor Marcos Pereira, que está preso sob a acusação de estupro.

Segundo José Júnior, que informou ter boas relações com o comandante geral da PM, o coronel Erir Ribeiro, o fato de o AfroReggae ter sido criado para ajudar a tirar pessoas do tráfico lhe proporciona uma ligação muito grande com a marginalidade. E seria uma desmoralização muito grande se a ONG dependesse da proteção das forças de segurança para funcionar dentro de favelas.

“O dia em que o AfroReggae tiver de depender da proteção policial, a ONG acaba. Por causa do nosso trabalho, de tirar as pessoas do tráfico, temos uma rede de ligações muito grande com o ambiente. Nunca precisamos de proteção de ninguém”, disse Júnior, lembrando que a ONG começou a trabalhar no Alemão em 2001, como projeto cultural Conexão Urbanas e que desde 2007 tem um núcleo de atividades na comunidade.

Júnior contou que depois do incêndio na pousada da ONG, na semana passada,  um líder comunitário amigo seu foi mensageiro de um recado, que segundo afirma, veio do Pastor Marcos Pereira: “tem que fechar”. Informações ouvidas na comunidade, segundo Júnior, davam conta que planejavam jogar uma granada no núcleo do AfroReggae, no Alemão.

“Nada do que vem acontecendo desde que denunciei o Pastor Marcos, em fevereiro de 2012, é coincidência. É tudo planejado. Na quinta-feira passada, sabotaram o núcleo de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Cortaram todos os fios elétricos. Eles não fazem ameaça, eles agem na surdina, inclusive para me matar. Digo e repito sem medo: o pastor é a maior mente criminosa do Rio, ele está na coordenação de uma facção criminosa. Do contrário, como explicar que numa comunidade pacificada como o Alemão o tráfico ainda tenha força para expulsar uma entidade com a força que tem o AfroReggae?, indagou José Júnior.

Segundo o comandante das Unidades de Polícia Pacificadora, coronel Paulo Henrique, a conversa com José Júnior serviu para que a PM tenha mais detalhes sobre o caso para melhor planejar futuras ações contra criminosos na comunidade. O coronel disse que uma das possibilidades é aumentar o efetivo da UPP na região.

“Esta denúncia tem um caráter diferente, porque não é um problema localizado, não é no Alemão. ´Trata-se de um problema direcionado, contra uma entidade. Maior presença de policiais é importante, mas não é suficiente, já que o caso não é simples. Denúncias assim, só mostram que ainda há muito o que fazer no Alemão e é nisso que vamos trabalhar”, disse o coronel Paulo Henrique.

O coordenador do AfroReggae, José Júnior, foi chamado para uma reunião com o comando-geral da Polícia Militar, coronel Erir Ribeiro, da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), Paulo Henrique e do Estado Maior, Robson Rodrigues, no Quartel General da corporação, no Centro do Rio.

Segundo informou a Polícia Civil, o o delegado Márcio Mendonça, titular da DCOD, receberá o coordenador do Afroreggae, José Junior, na tarde desta segunda. A Delegacia de Combate às Drogas (DCOD) instaurou no sábado (20) investigação para apurar as denúncias feitas pelo coordenador da AfroReggae de que o grupo teria sido expulso do Conjunto de Favelas do Alemão.

José Júnior anunciou o fim das atividades da ONG na comunidade, mas no domingo o prefeito Eduardo Paes visitou a comunidade e disse que a prefeitura vai assumir o centro comunitário. O prefeito também doou um terreno para que seja reconstruída a redação do jornal Voz da Comunidade, destuída num incêndio que atingiu também uma pousada do AfroReggae.

A ONG, que existe há mais de 20 anos, atuava para intermediar soluções entre o poder paralelo e a comunidade. A situação mudou, segundo seu porta-voz, quando o grupo denunciou o pastor Marcos Pereira, preso pela acusação de ter estuprado fiéis. A ONG passou a ser ameaçada.

Na terça-feira (16), o advogado do pastor Marcos Pereira, Marcelo Patrício, negou a acusação de envolvimento no ataque à pousada no Alemão. Ele afirmou que a declaração era uma forma de tentar sensibilizar o Judiciário, já que o pastor está em vias de ser libertado, após o processo de coação a que Marcos respondia ter sido anulado. Depois daquela data, o advogado foi procurado mas não mais se pronunciou.

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