Tania Pacheco
Já está no ar o novo número da revista (In)visível, que tem por título e tema “Escravidão”. Ele chega pouco mais de um ano após a publicação do número zero, “Pornografia”, lançado em setembro de 2011. A proposta, que esperamos se cumpra a partir de agora, é que a revista saia a cada três meses, em versão digital que pode ser baixada.
Embora composta por um conselho editorial integrado por doutorand@s das universidades de Coimbra e de Lisboa, a Revista é apresentada como um projeto Brasil-Portugal e publica autores dos dois países, com a proposta louvável de combater a invisibilidade à qual são relegados certos temas, “de um lado pela forma de tratamento descontextualizado e ‘espectacular’ realizado pelos media, e de outro, pela rigidez excludente da linguagem científica. Diante do quadro exposto, a criação deste projecto surge também como tentativa de colaborar com a diminuição do afastamento entre as linguagens académica e jornalística que, em muitos casos, seja de um lado ou seja do outro, acabam por restringir o potencial comunicativo de suas produções textuais”.
No caso de “Escravidão”, a variedade de autores – portugueses e brasileiros – leva a visões bastante diferenciadas sobre o tema já a partir do ‘mirante’ em que cada um/a está posicionado/a. No entanto, se isso poderia ser um ingrediente central para fomentar a existência de polêmicas, na verdade talvez a primeira e mais óbvia venha a ser uma velha conhecida nossa: a disputa entre os reais significados do 20 de novembro e do 13 de maio.
Na Apresentação da Revista, seus autores escrevem:
“A abolição da escravidão é, inegavelmente, um importante marco transnacional na lenta construção de sociedades mais justas. Séculos de debate culminaram na eliminação da escravidão das leis e constituições da maior parte dos países do mundo. Enquanto fenômeno, a escravidão mantém-se, todavia, como flagelo real, presente e invisível.
Hoje, numa sociedade fustigada pelo agudizar das desigualdades sociais, pelos desequilíbrios geo-financeiros entre Estados e pela perda de direitos de amplas camadas de população, o tema parece revalidar o diagnóstico de António Vieira quando, há muitos séculos, fez notar o desequilíbrio dialético entre os “senhores, poucos” e “os escravos, muitos”. A palavra escravidão assume múltiplas e tentaculares acepções.
A edição de um número da Revista (In)visível sobre este tema prende-se justamente com o modo como a ‘escravatura’ evoca um passado que lhe ditou a abolição, interpelando simultaneamente um presente que o relança e o redefine. Do tráfico de seres humanos às migrações clandestinas, em fenômenos legíveis a partir do desfavorecimento econômico, exploração sexual, invisibilidade(s) sociais… reclama-se visibilidade para uma temática que parece ter regressado, definitivamente, dos anais da história passada para o quotidiano das estórias presentes.
Nesta edição propomos ampliar a perspectiva sobre a escravidão. Nossa intenção é escapar das visões amarradas no tempo histórico. Procuramos alargar o olhar sobre os diferentes enquadramentos teóricos e populares que têm dominado e marginalizado as interpretações deste fenômeno. A proposta é tratá-lo sem delicadezas etimológicas para que os leitores e leitores se deparem com um percurso mais desnudado em relação à dureza empírica do seu significado social”.
Para instigar um pouco mais, deixo abaixo o Índice com os respectivos links. A quem desejar fazer uma primeira investigação, sugiro que parta exatamente do Editorial, que oferece uma boa visão do todo. Mas proponho mesmo que a revista seja baixada na íntegra, o que pode ser feito clicando AQUI. Não deixem, entretanto, de fazer uma visita ao saite, onde será possível baixar também o número zero, “Pornografia”, cujo link omito propositadamente.
Boa leitura!, como escrevem os autores no final do Editorial de “Escravidão”.
- Editorial
- A institucionalização do silêncio – A escravatura nos manuais de história portugueses – Marta Araújo e Silvia Maezo
- ‘The greatest crime in the world’s history’: Uma análise arqueológica do discurso sobre tráfico de mulheres – Filipa Alvim e Lorenzo Bordonaro
- Vende-se: mortos e vivos – Cristina Pereira | Parceria Buala
- 1888: A Revolução Abolicionista no Brasil – Mário Maestri
- Entrevista | Frei David – Movimento Negro do Brasil
- Escravatura animal – Cassilda Pascoal
- Abolição da exploração ou defesa do bem estar: As propostas em disputa no movimento de defesa animal – Mayra Vergott
- O reino da empregabilidade: Capital humano e empresas de trabalho temporário – José Nuno Matos
- O paradoxo da nova escravatura global e os pressupostos cegos da ideologia anti-escravatura hoje: Para a crítica do conceito de “nova escravatura” em Kevin Bales – Bruno Lamas
- Entrevistas: Oscar Romano – Exotic Angels – Models & Dancers; e Frederica Rodrigues – Organização Internacional para as Migrações
- Samba, escravidão e ideologia – Marco Schneider
- Reflex(ã)o nas sombras – Daniel Cardoso
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Dica compartilhada por Nayane Davin.
Obrigado pela divulgação Tania. Estamos nos esforçando para a Revista ter edições trimestrais, mas ainda não conseguimos. A próxima já está em edição e será sobre o tema da “Loucura”. Abraços,
Rodrigo
Queria agradecer pela divulgação da revista que decidiu abordar a escravidão,pois o trabalho de vocês é de fundamental importância para a sociedade.
O Fim da escravidão é um importante marco da história do Brasil, mas um outro passo fundamental para o fim das desigualdades sociais, deve ser a luta pelo fim do racismo, e o combate a pobreza.