Ludmila Azevedo – Do Portal HD
Pelo menos uma vez ao ano, Valdecir é questionado sobre a bandeira que o Ministério da Saúde levanta, como enxerga a política de prevenção e a situação de quem convive com a Aids. Sobre o dado recente da Unaids, de que 24% dos infectados não sabem que possuem o vírus, ele acredita que a margem pode ser maior do que se pensa, e reitera que é importante que o teste seja feito. No entanto, aponta aspectos bastante preocupantes, que não estão estampados nas campanhas publicitárias institucionais.
“Eu tenho HIV há 22 anos e acompanho, de perto, todos os processos. Mais do que uma doença viral, a Aids é uma doença moral. E, nos últimos anos, ela afetou principalmente os pobres, que não têm acesso ao serviço de saúde de qualidade. Temos que pensar além do consenso, do que é divulgado todos os anos. Se o governo não voltar os olhos para a pobreza, não vamos vencer a Aids”, explica.
Sensibilidade numa gestão faz toda a diferença, especialmente para se manter espaços como o Grupo VHIVer, uma referência nacional criada em 1992 e reconhecida internacionalmente pelo Unicef e Unaids ( programa das Nações Unidas criado em 1996 e que tem a função de criar soluções e ajudar nações no combate à Aids). “Se não fosse pelo Governo de Minas, já teríamos fechado as portas. Por outro lado, a prefeitura precisa demonstrar mais interesse pelo nosso trabalho”, afirma.
A questão política tem sempre pesos e medidas relevantes e, evidentemente, não são as campanhas pontuais – como as do dia 1º de dezembro e do Carnaval – que darão a sensação de dever cumprido. Olhar para as necessidades dos portadores de HIV será, desde sempre, uma urgência. “Até o atendimento dessas pessoas numa unidade de saúde precisa ser diferenciada, elas não querem ser identificadas porque ainda existe muito preconceito. Ainda existe quem seja expulso de casa após o diagnóstico e afastado do convívio com a familía”, esclarece Valdecir.
O país ainda possui mulheres contaminadas, que não fazem o teste durante a gravidez e geram filhos com o HIV, jovens que dispensam a camisinha porque acreditam que estejam livres do risco da contaminação e tantos outros exemplos decorrentes da falta de informação, pois educação sexual deveria andar de mãos dadas com a saúde, seja nas escolas ou em casa.
Outro agravante que Valdecir Buzon levanta é o avanço do crack, que adquire novas e terríveis facetas. “Os viciados trocam o sexo por uma pedra de crack. Isso torna o trabalho de ONGs como a nossa ainda mais difícil. São jovens se prostituindo para manter o vício e é preciso o alerta máximo para esse problema”, sugere.
A Aids não pode ficar em segundo plano, mesmo que índices oficiais como a estabilidade da mortalidade sejam revelados, dando uma impressão de controle e até “tranquilidade”. Desenvolver estratégias específicas, destinar verbas prioritárias para a população fazem parte do respeito à vida. “Temos que lutar juntos, motivar as pessoas para que elas enfrentem os desafios que têm pela frente”. Daí vem o sentimento que melhor expressa o respeito pela dignidade humana, como bem disse Kafka.
Sobre o VHIver
Rua Bernardo Guimarães, 512, bairro Funcionários. As visitas podem ser agendadas pelos telefones: (31) 3271-8310 e 3201-5236
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Enviada por José Carlos.
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