ONG reconhece que massacre de indígenas na Venezuela não ocorreu

Inicialmente, Survival International havia dado informação prévia sobre morte de 80 pessoas na Amazônia, o que levou o governo de Hugo Chávez a chamar a organização de ‘fascista’

Por: Estevan Muniz, da Rede Brasil Atual

São Paulo – A Survival International, organização internacional que defende os direitos dos indígenas, comunicou hoje (3) que, de fato, o massacre de indígenas yanomami, na Venezuela, não ocorreu. No final de agosto, a entidade havia divulgado para veículos de comunicação de todo o mundo que garimpeiros teriam atacado a aldeia Irotatheri, no município de Alto Orinoco, na Amazônia venezuelana, próxima à fronteira com o Brasil. Oitenta índios teriam sido assassinados, de acordo com os relatos iniciais que a Survival disse ter recebido.

O antropólogo inglês Stephen Corry, diretor da Survival, emitiu comunicado na tentativa de justificar o erro. “Os yanomami haviam dito à sua organização indígena que garimpeiros haviam atacado irotatheri, matando muitas pessoas e queimando suas casas. Não havia razão para não acreditar neles, e nós divulgamos os releases internacionalmente. Eu tomei essa decisão, pela qual eu assumo, pessoalmente, a total responsabilidade: agir de outra maneira teria sido um abandono do dever. Nós não inventamos nada; deixamos clara a origem dos relatos”, declarou.

Corry reconheceu que o massacre de fato não ocorreu, mas afirmou que não descarta a hipótese de que indígenas tenham sido atacados na região. Questionado sobre a informação de que 80 pessoas haviam sido mortas, ele respondeu: “Nós dissemos que relatos iniciais sugeriam que até 80 pessoas foram mortas, mas que era impossível confirmar esses números. Esse era o número total da população da aldeia que os indígenas nos informaram”.

No final de agosto, o Ministério Público da Venezuela enviou duas comissões investigativas para o local do suposto incidente. O ministro do Interior e da Justiça venezuelano, Tareck el Aissami, disse que essas comissões não encontraram sinais de violência. E a ministra para Povos Indígenas, Nicia Maldonado, disse que nenhuma evidência do assassinato foi encontrada.

Na ocasião, a Coordenação de Organizações Indígenas do Amazonas emitiu um comunicado no qual afirma que a comissão não chegou nem a visitar a comunidade de Irotatheri. E a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH),que pertence à Organização dos Estados Americanos (OEA), pediu à Venezuela que investigasse melhor o caso.

O governo venezuelano afirmou que as equipes que enviou para investigar não encontraram sinais de violência e chamou a Survival de “fascista”. A despeito das afirmações do governo venezuelano, a ONG só passou a acreditar que não houve qualquer massacre após ter realizado sua própria investigação, de acordo com Corry. Fontes da organização afirmaram que a aldeia Irotatheri não foi destruída e que é possível que tenha ocorrido um ataque, mas em outra comunidade.

A Survival informou que não vai se desculpar ao governo venezuelano. “Há, sim, um encobrimento. Um general venezuelano tem dito que não existem garimpeiros e que os yanomami estão em perfeito estado, em paz e em harmonia. Nada disso é verdade, e o Exército sabe disso há anos. A área é cheia de garimpeiros e as atividade ilegais são comuns. Não é a primeira vez que há acusações de violência, e muitos yanomami já foram envenenados”, disse Corry.

“O cenário mais provável é que ocorreu um incidente violento entre garimpeiros e indígenas, e que os fatos foram distorcidos, mal compreendidos ou simplesmente não relatados com a precisão que todos desejam. É necessário lembrar que a maioria de incidentes desse tipo não é relatada, e que nomes e números não são usados pelos indígenas da mesma forma que por um advogado ou acadêmico”, afirmou o diretor.

http://www.redebrasilatual.com.br/temas/cidadania/2012/10/ong-reconhece-que-suposto-massacre-de-indigenas-nao-aocorreu

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