Ana Ferraz
Há 36 anos o jornalista e escritor Audálio Dantas vive com um projeto que lhe ronda a mente dia após dia. Uma tarefa que define como irrecusável. Neste ano, deu forma à obra em que conta a sua versão acerca do assassinato do jornalista Vladimir Herzog, ocorrido em 1975 na sede do Destacamento de Operações de Informações e Centro de Operações de Defesa (DOI-Codi), do II Exército, em São Paulo. “Muitas vezes me indignei com as versões dadas ao caso”, diz Audálio, que à época presidia o Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo. No dia seguinte à morte de Vlado, então diretor de Jornalismo da TV Cultura, o sindicato fez circular uma nota de repúdio à versão oficial de suicídio. “As consequências são históricas.”
O trabalho que resulta em As Duas Guerras de Vlado, nas livrarias a partir de 5 de outubro, exigiu enfrentar antigos medos, vasculhar a memória, apontar inverdades “e até omissões propositais”. E, como repórter que Audálio jamais deixou de ser, analisar o que foi publicado e entrevistar os que de alguma forma tomaram parte na história.
O autor reconstitui a saga da família Herzog desde a fuga da Iugoslávia durante a Segunda Guerra, acompanha o garoto Vlado na adaptação ao novo país e sua trajetória até aquele que na versão oficial foi um “tresloucado gesto por ter se conscientizado da sua situação e estar arrependido da sua militância”. Herzog estava morto. O livro de Audálio Dantas iniciava fase germinal.
O Tribunal de Justiça de São Paulo acaba de acatar pedido da viúva de Vlado, Clarice, e da Comissão da Verdade e mandou retificar a certidão de óbito de Herzog. No lugar de suicídio, a partir de agora constará no documento que “a morte decorreu de lesões e maus-tratos sofridos em dependência do II Exército – SP (DOI-Codi)”.
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