Para especialistas, além da frequência, o programa precisa garantir qualidade
Jonathan Castro
“Ele tem muita preguiça. Se eu não mandar, ele não vai para a escola”, diz Luciana. Ao mesmo tempo em que a faxineira fala da importância que o dinheiro tem para a família – no dia em que conversou com a reportagem, havia comprado um botijão de gás com a bolsa -, ela reforça a preocupação com o futuro das crianças. Pelo emprego, Luciana recebe R$ 330 mensais.
“O menino já me deu muito trabalho na escola. Não queria fazer nada. Mas eu fico no pé porque eles têm que estudar. Nunca deixei eles trabalharem”, conta ela, ressaltando que, sempre que pode, ajuda no dever de casa.
A faxineira ainda é mãe de três meninas: uma de 13 anos, que traz bom histórico escolar, uma
de 4, que ainda não estuda, e outra de 19 anos, que abandou o segundo ano do ensino médio em 2011. Há cerca de um mês, ela começou a trabalhar como atendente de telemarketing para ganhar um salário mínimo mensal.
Resultado. A doutoranda em demografia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da UFMG, Márcia Barroso, responsável pela pesquisa junto com a também doutoranda Regiane de Carvalho, explica que o resultado já era esperado. “O simples fato de receber o Bolsa Família não é suficiente para que as crianças consigam acompanhar as aulas”, afirma.
Para chegar ao resultado, as pesquisadoras utilizaram dados de 17 mil domicílios mineiros levantados pela Pesquisa por Amostra de Domicílios (PAD 2009). Uma fórmula internacional foi usada para comparar um grupo beneficiado pelo Bolsa Família e outro sem a fonte de renda.
A gerente de projetos da Organização Não Governamental Todos Pela Educação, Andrea Bergmaschy, explica que o aprendizado não depende só da escola, mas do ambiente econômico. As crianças beneficiadas acabam não desenvolvendo todas as potencialidades. “A criança que está mais exposta a estímulos cognitivos vai ter melhor desempenho”.
Governo precisa garantir políticas para a educação
Para ela, o problema é resultado de um conjunto de fatores que inclui, desde a participação dos governos municipais, estaduais e federais, até as escolas e os próprios pais.
Para o professor da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Breynner Oliveira, estudioso dos programas Bolsa Escola e Bolsa Família, o fato de o benefício atender famílias em situação de pobreza extrema faz as políticas educacionais ainda mais necessárias. “O que se espera é que se crie um círculo virtuoso, em que o aluno possa chegar e ter um apoio”, avalia.
A coordenadora do Observatório Sociológico Família-Escola da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Maria Nogueira, acredita que o bom ambiente familiar contribui para um bom desempenho nos estudos, mas a estrutura da escola também é importante. “O desempenho dos alunos é fruto de uma multifuncionalidade de ações”. (JHC)