Depoimento a Gabriela Manzini
LONDRES – Foi devido ao avanço alemão na Segunda Guerra que, aos 13 anos, George Bizos teve de abandonar a Grécia, onde nasceu, e se refugiar na África do Sul. Lá, ele se tornaria um dos mais importantes advogados de ativistas contrários ao apartheid, o sistema de segregação racial branco extinto em 1994. Um de seus casos foi defender Nelson Mandela no julgamento em que o líder escapou da pena de morte, em 1963.
Conheci Nelson Mandela em 1948, na faculdade de direito. Ele era meu veterano e um ativo opositor do governo que acabara de ser eleito com sua política de apartheid. Já era notável. Era alto, bonito, fazia ótimos discursos. Era também o mais bem vestido.
Mandela queria se tornar o primeiro advogado negro da África do Sul, mas acabou impedido pelo reitor. Foi reprovado numa disciplina e proibido de repetir o exame. Não teve escolha senão tornar-se consultor jurídico. Trabalhamos juntos em vários casos.
Em 1956, Mandela e mais 150 foram presos e acusados de traição. Eu era parte de um time de quatro advogados, e usamos o júri para mostrar ao mundo a verdade: que eles defendiam a igualdade para todas as pessoas do país e que os brancos não tinham nada a temer, já que integrariam a nova sociedade. Cinco anos depois, foram absolvidos. (mais…)