Pernas quase paralisadas, Valdemar Santos bem que gostaria de usar aquele tipo de muleta que fica sob as axilas. Porém, os caroços que pipocam nessa região – e se espalham por todo o corpo – o obrigam a apelar para um modelo de bengala que sobrecarrega o antebraço. Depois de 12 longos anos inalando agrotóxicos na lavoura de fumo que cultivava em uma pequena propriedade no município de Imbituva (PR), Valdemar desenvolveu uma grave polineuropatia.
Em outras palavras, ele sofre de uma pane geral nas terminações nervosas de seu organismo, o que prejudica não apenas sua coordenação motora, mas também seu raciocínio. Hoje, do salário mínimo que recebe a título de aposentadoria por invalidez, Valdemar embolsa apenas R$ 389. O restante já é descontado na fonte para quitar as dívidas que vem acumulando por conta de seu tratamento. “Se sinto cheiro de tinta de parede, perco a vista, dá dor de cabeça, tremelique, tosse seca. Parece que aumentam o volume dentro de mim”, afirma Valdemar, simulando o giro de um botão de rádio.
Quem circula pelas rodovias da região centro-sul do Paraná entre os meses de dezembro e fevereiro, época em que a colheita do fumo está a pleno vapor, não tem dificuldades para encontrar trabalhadores pulverizando plantações, mas desprotegidos contra a ação dos agrotóxicos. Definitivamente, o verão não é lá muito saudável para as 186 mil famílias da região Sul do Brasil que cultivam em pequenas propriedades cerca de 830 mil toneladas por ano – número que faz do nosso país o segundo maior produtor e o principal exportador mundial da matéria-prima do cigarro. (mais…)