“Não me consolo de constatar todo dia que o Brasil não deu certo. Ainda não deu certo. Não por culpa da terra, que é boa, nem do povo, que é ótimo. Mas das nossas classes dirigentes, tão tenazmente tacanhas que só sabem gastar gente a fim de lucrar e enricar. Para isso, sujigaram e mataram milhões de índios, estancando sua alegria de viver e corrompendo sua admirável adaptação ecológica à nossa terra. Para isso, caçaram em África, transladaram para cá e aqui consumiram, queimados no trabalho escravo, dezenas de milhões de negros.
O duplo produto desse espantoso desfazimento de povos pelo genocídio e pelo etnocídio é nossa elite infecunda, construída, de um lado, pelos descendentes de senhores de escravos, calejados na alma pelo exercício da opressão sobre o povo trabalhador, e de outro, pelos agentes e testas-de-ferro dos interesses estrangeiros que nos sangram. Todos eles bonitos, todos educados, todos formados, mas todos mancomunados para que o Brasil continue tal e qual. O outro produto – o principal, ainda que desde sempre desprezado – somos nós: um povão mestiço na carne e na alma em busca de seu destino”. (Darcy Ribeiro)
Nota de Paulo Gurgel Carlos da Silva – Em 17 de fevereiro de 1997 (há 15 anos) morria Darcy Ribeiro, antropólogo, escritor, cassado em 1964 e inventor da visão dos brasileiros como um “povo novo”.
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