Trabalhador rural é brutalmente assassinado em Arame, Maranhão

No dia 8 de Dezembro entre as 17hs e as 19hs foi brutalmente assasinado o trabalhador rural Júlio Luna da Silva  com 60 anos de idade. O fato aconteceu no povoado “Gavião”, assentamento “Fazenda CITEMA” no Município de Arame-MA. O seu Júlio morava sozinho dentro da área, sendo que se separou da mulher mais de vinte anos atras.

Os vizinhos contam ter visto seu Júlio voltar regularmente da roça ao redor das 17hs; foi deixar umas mangas para umas crianças de uma família vizinha. Tendo encostado em sua casa e tendo lembrado de uma mandioca, que tinha esquecido na roça, foi buscá-la. Com certeza ele voltou com ela, porque foi encontrada em cima da mesa, dentro de casa. Daqui em diante entramos na área das hipóteses. Uns vizinhos falam de ter ouvido os cachorros dele latindo; em seguida houve um disparo e os cachorros pararam de vez, mas, pelos relatos, ninguém foi averiguar nada. No dia seguinte, um trabalhador, que foi contratado por ele para que o ajudasse nos serviço da roça, chegando na casa do seu Júlio, não o encontrou, mas notou a porta do fundo da casa aberta. Enquanto este colega ia para roça, para fazer o serviço dele, encontrou o corpo do seu Júlio uns 200-300m afastado de sua casa.

Ele foi alvejado com um tiro nas costas; em seguida o assassino foi em cima dele, puxou o facão do seu Júlio e, com o mesmo, degolou-o, deixando a cabeça só em parte ligada ao tronco; depois desta atrocidade, cortou-lhe um pedaço de orelha, que nunca foi encontrado; talvez foi levado como “prova do serviço feito”.

Logo que os vizinhos tomaram visão do acontecido, foram até a Delegacia de Policia, mas o policial que os atendeu disse que não podia sair do local e que eles mesmos trouxessem o corpo para cidade. Na verdade, até agora, nenhum policial compareceu no local do crime, apesar que o mesmo seja acessivel com qualquer carro pequeno. Foi assim que estes amigos conseguiram uma ambulância, que levou o corpo para o hospital, onde foi emitida a certidão de óbito.

A Equipe da CPT da Diocese de Grajaú só tomou conhecimento do fato no domingo e chegou no local da tragédia na quinta-feira, dia 15; até então nenhum inquérito foi aberto para investigar o caso. Os próprios familiares da vítima, que levaram o corpo para ser sepultado no município de Tuntum, até agora parece que nem registraram um Boletim de Ocorrência. Contudo temos que relatar o clima de terror que contorna este crime. Os próprios vizinhos da vítima, ao serem procurados pela equipe da CPT, relataram repetidamente que ele não teve brigas ou queixas com ninguém.

Na verdade, conversando com outros amigos da vítima, descobrimos que, há vários anos, uns moradores do povoado “Gavião” vêm enfrentando uma briga muito pesada com um comerciante de Arame, um tal Oliveira, dono da maior padaria da cidade. Este homem grilou vários lotes dentro da “CITEMA”, ao ponto que alguns mêses atras vendeu a padaria e se tranferiu dentro da área, provavelmente no intuito de ser cadastrado como assentado pelo INCRA. Além disso, há um quatro anos, ele vem tentando cercar uma grande lagoa, que abastece vários trabalhadores. No início, graças ao apoio do STTR de Arame, o grileiro desistiu de seus projetos; mas, um ano e meio atrás, o Oliveira realizou seus planos, criando enormes transtornos no abastecimento de água, seja para os animais, seja para irrigação.

Segundo informações, que porém estamos ainda verificando, alguns trabalhadores, envolvidos neste conflito, teriam procurado o poder judiciário, para reivindicar seus direitos, mas sem nenhum êxito. Um conhecido da vítima falou que o seu Júlio, alguns dias antes do assassinato, teria procurado a Delegacia para denunciar as atitudes violentas do Oliveira.

De qualquer maneira, o que nos indigna profundamente e pedimos que seja divulgado, é a situação de total abandono em que o INCRA, in primis, e as demais autoridades deixaram a área toda chamada de fazendas “CITEMA e TEMASA”. Esta área, que tem um tamanho total de mais de 32.000hc, teve um primeiro pedido de desapropriação em 1996, que foi rejeitado. Em 2004, em vista das eleições municipais, alguns políticos e comerciantes de Arame, “apadrinharam” uma grande invasão destas duas fazendas. A notícia ressou e trouxe ondas enormes de sem terra, realmente em busca de um pedaço de terra para trabalhar. De 2004 para cá passaram pela área milhares de pessoas; uma parte delas desistiram e foram embora. Quem ficou passou por momentos dramáticos e altamente perigosos, devido ao total abandono por parte das autoridades competentes e pela demora do processo de desapropriação. Finalmente foi desapropriada através do Decreto Presidencial de 06 de abril de 2009. O Mandado de Imissão de posse foi expedido o dia 18 de outubro de 2010.

Atualmente na área toda moram mais ou menos 600 núcleos familiares, aguardando o cadastramento, por parte do INCRA, das famílias que realmente poderão ser assentadas. Nesta situação de permanente indefinição e de ausência do Estado, este territorio foi se estruturando como “um estado dentro do Estado do Maranhão”, no sentido que a quadrilha de politicos e comerciantes, que comandaram a primeira invasão, continua ditando “as leis”; no caso, a compra e venda dos lotes. Quem não se submeter a este poder paralelo, acaba morrendo. De fato de 2004 para cá já foram assassinados mais de vinte e cinco (25) pessoas. Talvez seja essa a reforma agrária promovida pelo atual Governo brasileiro: o extermínio dos trabalhadores rurais, para que não incomodem mais.

Grajaú 16/12/11

Equipe da CPT
Diocese de Grajaú

http://www.viasdefato.jor.br/. Enviada por Eduardo Corrêa.

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