Foi celebrado no ultimo sábado, dia 17, uma homenagem à resistência, a paz, a conquista da terra e à liberdade dos povos indígenas do Estado de Roraima. O evento foi realizado no Centro Indígena de Formação e Cultura Raposa Serra do Sol, localizado na comunidade Indígena Barro, Terra Indígena Raposa Serra do Sol – TI. RSS
Esta data foi marcada por violências e atentados contra a vida dos indígenas ocorrida no dia 17 de setembro de 2005, quando invasores não índios e indígenas contrários à homologação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol invadiram, atearam fogo, destruíram, saquearam e roubaram o Centro Indígena de Formação e Cultura Raposa Serra do Sol, com a pretensão de acabar com os trabalhos ali existentes.
Neste ato covarde, foi queimado também um carro do Senai, e seu instrutor, o qual estava ministrando curso de mecânica para jovens indígenas, foi sequestrado e torturado com armas e socos. Estes meliantes queriam de toda a forma, usando a violência, impedir que lideranças e comunidades indígenas lutassem para ter seus direitos e terra garantidos, assegurados nos artigos 231 e 232 da Constituição Federal, de 1988.
Os invasores, principalmente os arrozeiros, queriam permanecer a qualquer custo na terra indígena, praticando violência contra os indígenas, fazendo discurso em nome do desenvolvimento e progresso, mesmo que vidas de seres humanos fossem sacrificadas, e o quilo do arroz fosse valer mais que a vida de um cidadão, usando para isso seu poder que vem do dinheiro, isenção de pagamento de impostos e acobertado por mandatos políticos.
Esta data é histórica para a vida dos povos indígenas, é um marco de resistência, de persistência e serve para nos fortalecemos como lideranças. E não devíamos nos curvar e esquecer esse momento, por isso pedimos justiça, agilidade nos processos judiciais referente ao caso, que inquéritos policiais sejam concluídos, os verdadeiros mandantes dos crimes sejam punidos. Não foi só este fato que continua impune, lembremos os atentados contra as comunidades de Homologação, Brilho do Sol, Jawari, atentado com tiros contra indígenas ocorrido no dia 05 de maio de 2008, os mandantes e os meliantes são os mesmos envolvidos nestes episódios, conforme relembrou Anselmo, coordenador do Centro, e que estava no dia 17 de setembro, com toda a sua família no momento dos atentados.
Hoje nos reunimos para celebrar esse momento com diferentes povos entre Macuxi, Wapichana, Ingarikó, Yanomami, Yekuana, representados pelos alunos que aqui estão, e jamais poderíamos esquecer esse dia, quando os invasores pensavam que íamos desistir de nossos sonhos, pelo contrário, nos trouxe paz, liberdade. As nossas lutas não foram em vão. Antes nossos alunos não dormiam em paz, ficavam preocupados, tinham muitos carros e motos trafegando nas ruas, pistoleiros jogando bombas nas ruas, um ambiente de intranquilidade. Mas hoje conseguimos nossos espaços, com muito sofrimento e luta, porem não acabou há muitos projetos que estão tentando impor nas comunidades indígenas e devemos estar preparados para não sermos surpreendidos. Aqui formamos jovens indígenas nas áreas de técnicas de agropecuária, gestão e manejo ambiental, onde os mesmos praticarão esses ensinamentos em suas comunidades, conforme falou e alertou Maria Deolicia, do povo Macuxi, professora do Centro de Formação.
É importante se comemorar essa data, não com momentos de tristezas, mas sim com muita alegria, pois conseguimos nossa terra, conforme afirmou Sinval, aluno do centro.
Seis anos se passaram, mas a injustiça, o descaso, a impunidade e as violações de direitos humanos continuam, e não podemos aceitar que esses crimes permaneçam impunes, É preciso que a Justiça de nosso País funcione. Afinal, somos brasileiros, temos direitos, e que as autoridades competentes como Policia Federal, MPF, AGU, Funai e Ibama possam agilizar os processos e inquéritos voltado ao caso, e seja o mais rápido possível ser posto em julgamento. Que nossa Carta Maior seja respeitada, que a todo o momento é violada, rasgada, desrespeitada. Citamos alguns exemplos, como pedido de revisão da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, Projeto de Construção da Hidrelétrica no Rio Cotingo, Código Florestal e outros. Precisamos estar alertas, somos os verdadeiros guardiões da justiça, amparados nas leis desse país, e acreditamos que tarda mais jamais poderá falhar.
Que nossos governantes, autoridades, veículos de comunicação, representantes de associação e outros pensantes, que se dizem representantes de sociedade, possam olhar com mais carinho para seu povo, e não perder tempo, em prol de seus interesses, usando o patriotismo, cargos públicos para se beneficiarem.
Nossa gente está cansada e jamais cairá nesse conto. Nosso Estado precisa de mais atenção e políticas publicas voltadas ao seu povo, sem distinção, tanto aos que moram no meio urbano e aos que residem no meio rural. E, nesse espaço, está o povo indígena, que resiste a toda forma de discriminação e descaso.
Assim somos, assim pedimos, assim gritamos, resistimos, persistimos e jamais desistiremos de nossos sonhos, de nossos trabalhos, de nossa terra, não invadimos, apenas reconquistamos o que é nosso, e viva a liberdade!
Seis anos de impunidade e injustiça contra os povos indígenas de Roraima