MS: Índios Caiapó tomam a BR-163

Revoltados com as promessas não cumpridas pelo ex-diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (Dnit), Luiz Antonio Pagot, demitido pela presidente Dilma Rousseff por suspeitas de irregularidades no órgão, os índios Caiapó decidiram radicalizar um protesto que começou na segunda-feira com a apreensão de caminhões e máquinas que trabalham na pavimentação de vários trechos da BR-163 (Santarém-Cuiabá).  Ontem, os índios resolveram atear fogo em trechos da ponte localizada sobre o rio Disparada, próximo da cidade de Novo Progresso.

Os índios afirmam que só deixarão a estrada quando autoridades federais forem à região para tratar das promessas feitas por Pagot, que antes de cair esteve com os índios garantindo que, além de melhorias nos acessos às estradas que levam às aldeias Baú e Mekranotire, os Caiapós receberiam benefícios nas área de saúde.  Nada disso foi feito até agora.  “Se o homem branco não tem memória e esquece facilmente as promessas que ouve das autoridades, os índios têm a memória muito boa para cobrar as coisas que são ditas e prometidas”, disse o índio João Mekranotire.

A prefeita de Novo Progresso, Madalena Hoffmann, esteve reunida com a diretoria-geral do Dnit em busca de uma solução para o problema.  Pagot disse para os índios que os ramais de acesso à área Mekranotire receberiam cuidados do órgão, que também concluiria os ramais até a aldeia Baú.  A estrada vicinal que leva à aldeia está em péssimas condições.  Ela começa às margens do rio Curuá e desemboca na BR-163, próximo ao distrito de Alvorada da Amazônia.

Para os Caiapós, a presença do diretor da Fundação Nacional do Índio (Funai), Márcio Meira, e do secretário de saúde indígena, Antonio Alves, para tratar de questões ligadas à saúde dos índios, evitaria tantos transtornos.  Hoje, para buscar atendimento médico, os Caiapós precisam se deslocar até Itaituba, num percurso de mais de 400 quilômetros.  O problema também atinge os índios das aldeias Pukanu, Baú Pungraity e Kawatum.

Na segunda-feira, centenas de Caiapós, armados com flechas, espingardas e revólveres atacaram os operadores de máquina, tomando as chaves dos veículos das mãos dos homens que trabalhavam no asfaltamento da rodovia, paralisando totalmente a obra.  Eles enviaram uma carta à direção do Dnit reivindicando construção da casa da saúde, casa do artesanato, casa cultural e a compra de dois veículos.  E avisaram: se nada for feito, começarão a incendiar as máquinas.  (Diário do Pará)

MEDO

Ao longo do dia de ontem, a tensão só aumentou na região.  Empregados das empresas que trabalham na pavimentação da Santarém- Cuiabá afirmam que os índios prometeram incendiar, a partir de hoje, também os canteiros das empreiteiras.  Cerca de 3,6 mil trabalhadores estão na área atuando nas obras que são realizadas por nove empresas.

O Dnit prometeu enviar uma equipe ao local, para negociar com os índios, mas a viagem deve ocorrer apenas na próxima quarta-feira.  “Estamos desesperados.  Não sabemos mais a quem apelar.  Nosso medo é de que os índios não tenham paciência para aguardar a equipe do Dnit”, desabafa Michel Souza, supervisor de obras da JM Terraplanagem, que está entre as empresas que atuam no local.

Souza contou que os trabalhadores já procuraram a Polícia Federal e o Dnit em Belém, mas os dois órgãos estariam aguardando decisões de Brasília para agir.

Segundo informações dos operários que atuam na rodovia, os índios já incendiaram três pontes que ficam no trecho entre Novo Progresso e Itaituba.  “Nossa maior preocupação é com as pessoas que estão na área e não têm como sair”, disse Michel.

http://www.amazonia.org.br/noticias/noticia.cfm?id=394342

 

 

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