No livro que acaba de lançar, Otávio conta sua história, a trajetória de uma criança que no meio do lixo encontrou um livro e, desde então, não parou mais de ler. A leitura também o “libertou”, como conta na obra: “Sei, por experiência própria, que as crianças daqui têm uma visão muito estreita do mundo. Quase não saem da favela. Tudo é perto. A escola, a igreja, o campo de futebol, o mercadinho, as ONGs. Muitas nem conhecem a praia. Ficam presas aqui dentro. Foi a leitura que me libertou dessa prisão”.
Depois que teve seu contato com a literatura, Otávio passou a promover a leitura dentro da sua comunidade. Ao frequentar bibliotecas, eventos literários, saraus, achou que poderia levar essas atividades para dentro da sua comunidade. Foi aí que surgiu o projeto. Ao contrário do que grande parte das pessoas possa imaginar, Otávio se sente feliz em morar no Alemão. “
Posso dizer que tive uma infância feliz e que hoje me sinto realizado ao fazer um trabalho de incentivo à leitura com gente da minha comunidade”, diz na apresentação do livro.
Sobre o processo de escrita do livro, Otávio conta que foi interessante por relembrar histórias de sua infância e de seus primeiros contatos com a literatura e de como isso mudou sua vida. Abaixo a entrevista com o livreiro do Alemão.
Como surgiu a ideia do Ler é 10 – Leia Favela?
Depois de meu primeiro contato com a literatura, me interessei pelo assunto de promoção de leitura e visitei várias bibliotecas, feiras de livros, saraus e eventos literários. Tive a ideia de levar esses eventos para a favela, com uma linguagem bem comunitária e com o objetivo de democratizar o acesso aos livros nas favelas, tudo isso atrelado a atividades socioedagógicas, pois não basta dizer que ler é legal, tem que mostrar os sabores e os benefícios.
O projeto nasceu com a finalidade de assessorar os projetos sociais e escolas nas comunidade. Com a nossa metodologia de mediação de leitura, o Ler é 10 hoje é um centro de pesquisas na prática da leitura em favelas. Nosso público alvo são crianças, mas vamos estender para jovens e futuramente para adultos.
Como é o financiamento do projeto?
O projeto possui dois fieis apoiadores, o Instituto Kinder do Brasil e Afeigraf. Porém as ações são numerosas, a demanda de atividades é muito grande devido ao tamanho dos Complexos da Penha e do Alemão. Nosso sonho é levar livros para todas as comunidades dos complexos, enquanto isso usamos a criatividade para fomentar a leitura com grupos escolares, em casa de moradores, com a biblioteca itinerante.
Como é a receptividade das crianças e dos jovens que participam das oficinas?
Esse reconhecimento é muito caloroso, vejo que as crianças têm gosto pelo conhecimento, pelo novo, e eu sou esse agente, que vai mostrar isso, então elas devolvem com carinho.
O Ler é 10-leia favela virou um laboratório de pesquisas, eu sempre me capacitei, fiz workshops, participei de congressos e seminários de promoção de leitura e uso a criatividade da própria literatura para criar atividade lúdicas. Esse é o diferencial do projeto, as atividades de mediação, que levam as crianças a pensar, a desenvolver o raciocínio rápido e lógico. Então não é só levar livros, tem que ter bases em pesquisas e usar a criatividade.
Sobre o livro O livreiro do Alemão, que está lançando. Como foi o processo de escrita?
O processo foi bem saboroso, me fez relembrar histórias de infância, o meu primeiro contato com o livro, a minha infância na favela, os amigos que se foram, a violência das décadas de 1990 e 2000. Enfim, conto a transformação social que vive através da leitura e como o livro mudou a minha vida.
Como se deu o seu contato com a editora?
Foi um convite bem bacana da editora Panda Books, que eu já conhecia e admirava tanto pelo trabalho da editora, como porque enviavam livros para o projeto Ler é 10, desde que mandei um release sobre o projeto. Depois disso veio a idiea de fazer o livro, um grande presente e incentivo para seguir com o trabalho.
Fale um pouco sobre o livro, das histórias que você conta?
Foi um trabalho de memórias. O livro é todo baseado em memórias de um jovem que vive em uma grande favela, que tem amor pelos livros e mesmo sofrendo várias dificuldades tem que se superar diariamente. Bom já contei muito, não vou contar muitos detalhes para o leitor se surpreender.
Qual a importância da leitura para a formação das nossas crianças e jovens hoje, em especial para os moradores da favelas e periferias?
A leitura é tudo, a sociedade tem que se conscientizar e democratizar o conhecimento. Enquanto tem muita gente que quer retê-lo, passando de geração em geração, nossa proposta é quebrar esse pensamento e formar uma comunidade mais consciente, o livro tem esse poder.
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