Lançada nesta quinta (25) no Distrito Federal, a pesquisa “Asbesto Ambiental – Exposição Ambiental ao Asbesto: Avaliação do Risco e Efeitos na Saúde” foi comandada por três pesquisadores que foram denunciados, pelo site Viomundo em 2008, de terem ligação com a indústria do amianto crisotila e, ao mesmo tempo, realizarem um estudo em suas universidades em 1996, apresentando uma conclusão que favorecia o setor. São eles: Mário Terra Filho (USP), Ericson Bagatin (UNICAMP) e Luiz Eduardo Nery (UNIFESP).
A matéria do Viomundo mostrou que os três formavam a junta médica do Grupo Eternit, do qual a mineradora de amianto SAMA faz parte, e fizeram uma pesquisa que comprovaria que não existe no Brasil nenhum registro de qualquer tipo de doença relacionada ao amianto entre trabalhadores admitidos no setor após 1980.
Maior referência no Brasil na área de amianto, a engenheira de segurança do trabalho e auditora fiscal do Ministério do Trabalho Fernanda Giannasi criticou o estudo de 1996 em declaração ao Viomundo: “Não existem casos de doenças entre trabalhadores que começaram depois de 1980, porque as indústrias, com o beneplácito de alguns médicos, escondem a verdade”.
“Como confiar em estudos em que os pesquisadores são pagos pela indústria para integrar a sua junta médica, que arbitra não só a doença associada ao amianto como a categoria que determina o valor da indenização em acordos extrajudiciais? E como confiar numa junta médica que, ao mesmo tempo, recebe da indústria para fazer pesquisa para mostrar que o amianto não faz mal à saúde e que as condições das nossas fábricas são as melhores do mundo, quando eu, como auditora fiscal do Ministério do Trabalho, posso provar que isso é mistificação?”, ressaltou a auditora.
Financiamento da nova pesquisa também é contestado
O financiamento da pesquisa lançada nesta quinta foi contestado em matéria do Viomundo feita no fim de 2009. Coordenado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o estudo contou com os seguintes apoios, todos pró-amianto:
– do governo de Goiás, defensor da exploração do amianto crisotila por razões econômicas, pois no município goiano de Minaçu está a única mina brasileira de amianto em exploração;
– CT-Mineral, ligado aos ministérios da Mineração e da Ciência e Tecnologia;
– Instituto Brasileiro do Crisotila (IBC).
De acordo com o release sobre o lançamento, a nova pesquisa é considerada “o resultado da mais profunda investigação científica realizada no Brasil para avaliar os efeitos das telhas de fibrocimento com amianto sobre a saúde da população, além dos trabalhadores que atuam na mineração”.
O release ainda informa que “foram mais de cinco anos de pesquisas em centros urbanos importantes como São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Goiás e Pernambuco, examinando moradores que utilizam telhas de fibrocimento, além de trabalhadores que atuam e atuaram com o amianto nas minerações.
No Brasil, segundo estatísticas oficiais, mais de 50% das residências são cobertas com telhas de fibrocimento cuja matéria-prima é o amianto crisotila, e, além disso, o País destaca-se como terceiro maior produtor mundial desse minério.”