Nota pública da Coordenação do Movimento dos Atingidos por Barragens

Prezados(as) companheiros(as), deputados(as) e senadores(as), entidades parceiras, sindicatos e representantes de setores da Igreja

Neste dia em que presenciamos a revolta e o protesto dos operários e trabalhadores do canteiro de obras da Usina Hidrelétrica de Santo Antônio frente às péssimas condições de vida e de trabalho, vimos através desta, fazer uma grave denúncia e alerta sobre a situação instalada na Usina Hidrelétrica de Jirau.

Em função de nossa luta por direitos e por um projeto energético popular, somos cada vez mais vítimas de grandes empresas transnacionais, tais como a Suez e a Odebrecht, instaladas na região. Temos o entendimento de que estas e outras empresas farão de tudo para continuar o processo de exploração em curso na Amazônia e agirão de forma cada vez mais violenta contra nós que, de forma legítima, reagimos como defensores dos direitos humanos, da natureza e da vida.

Sendo assim, o processo de criminalização dos movimentos sociais e suas lideranças tem se intensificado e neste momento, em especial na hidrelétrica de Jirau, nos deixa mais uma vez em alerta, pois:  

– Considerando que desde o início da instalação das usinas no Madeira nós, atingidos organizados no Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), estivemos permanentemente mobilizados, denunciando a nossa situação, resistindo aos despejos e lutando pelos nossos direitos, mesmo sofrendo perseguições, ameaças e intimidações individuais e coletivas;

– Considerando que com os atingidos pela barragem de Santo Antônio iniciou-se um processo de negociação com avanços para garantia dos direitos, por outro lado, a situação dos atingidos pela barragem de Jirau é lamentável e as empresas do consórcio (GDF Suez, Camargo Correa, Eletrosul e Chesf) se negam a negociar nossos direitos;

– Considerando que no dia 18 de maio, o deputado federal Moreira Mendes (PPS-RO) declarou na tribuna da Câmara Federal que, com base em informações sigilosas, um grupo composto por índios Caxararis, garimpeiros, comunidades dos distritos de Nova Mutum e Extrema, sob a coordenação do MAB, estaria preparando uma invasão ao canteiro de obras da Usina Hidrelétrica de Jirau para o dia 21 de maio e planejando ataques e atos que colocariam em risco os operários;

– Considerando a falsa acusação do deputado (e de seus mandantes) de que grupo encabeçado pelo MAB teria mapeado os pontos estratégicos da obra – como o paiol de explosivos utilizados para dinamitar as rochas, a planta de combustível e as centrais de refrigeração, que estas acusações foram divulgadas em meios de comunicação da região e também dentro do canteiro de obras da usina, causando enorme repercussão junto aos operários;

– Considerando que este plano pode estar sendo proposto e coordenado pelas próprias empresas para colocar os operários contra os atingidos, pois existem fortes indícios para tal suposição;

– Que alguns meios de comunicação da região denunciaram a presença de um ex-coronel do exército em Porto Velho, contratado e a serviço do Consórcio dono de Jirau para fazer a segurança do canteiro de obras, apresentando-se como escritor, jornalista e até interlocutor das comunidades, a fim de recolher informações sobre as principais lideranças do movimento, dos operários e contestadores da barragem;

– Considerando que este coronel chama-se Gélio Fregapani, sempre esteve ligado aos assuntos estratégicos da Amazônia e suas implicações militares, políticas e econômicas, integrou o corpo de direção da ABIN e, em Roraima, atuou como mentor das estratégias de ataque às aldeias da Raposa Serra do Sol e atentado à Polícia Federal, orientando para colocação de explosivos na estrada de acesso à terra indígena.

Se os indícios denunciados por alguns meios de comunicação forem verdadeiros, não nos surpreenderá se estes indivíduos contratados pelas empresas promoverem ataques ou sabotagens contra os operários e atingidos, para jogar uns contra os outros ou criminalizar nossas organizações e sindicatos. Portanto, alertamos que qualquer coisa que ocorrer contra os atingidos ou os trabalhadores e operários que estão construindo a hidrelétrica de Jirau será de responsabilidade das empresas donas da barragem.

Sendo assim, reforçamos que o MAB é um movimento organizado, que luta em defesa das populações atingidas e que jamais fez planos de ataque ao canteiro de obras das usinas do Madeira. Ao contrario, somos cotidianamente atacados e vítimas de uma política de tratamento do setor elétrico que expulsa milhares de famílias e nega nossos direitos.

Frente a isso, afirmamos:

– Que as acusações do deputado Moreira Mendes são mentirosas e fazem parte de um plano de ações das próprias empresas na tentativa de negação dos direitos e isolamento do Movimento;

– Que o uso da espionagem e criminalização tem sido prática cada vez mais usada pelas empresas transnacionais contra os atingidos e os trabalhadores em geral;

– Que a presença de espiões, em serviço de inteligência, não nos intimidará e que não daremos nenhum passo atrás na nossa luta;

– Que a luta dos atingidos é justa e continuaremos nossa mobilização pelos direitos dos atingidos fazendo assembléias e reuniões com as comunidades, organizando o povo e lutando pela construção de um projeto energético popular,

– Que apoiamos incondicionalmente os trabalhadores da Usina Hidrelétrica de Santo Antônio, mobilizados desde a madrugada de hoje.

E por fim, contamos com a solidariedade de todos e todas para repudiar esta política de tratamento das empresas, que usa a criminalização para negar nossos direitos.

Sem mais,

Coordenação do Movimento dos Atingidos por Barragens

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