Um depoimento revoltante e comovente: “Visitando Babau e Givaldo”

Por Saulo Feitosa *

“Eu te bendigo, Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos grandes e poderosos e as revelaste aos pequeninos” (Mt 11,25).

Chegamos a Mossoró, cidade localizada numa faixa de transição entre o litoral e o sertão do Rio Grande do Norte, ao entardecer do dia 15 de junho. Tudo era festa, a seleção brasileira acabara de estrear na Copa do Mundo e vencera a Coréia do Norte. Parecia que todas as pessoas haviam saído às ruas, era uma multidão em verde-amarelo. Paramos em um posto de gasolina em busca de informações sobre locais de hospedagens, num bar ao lado, um grupo de homens e mulheres, em torno de uma mesa, deleitava-se com os acordes de uma sanfona bem tocada e em coro entoava as mais belas canções do tradicional forró de pé-de-serra. Junho no Nordeste é sempre assim, o mês da grande confraternização: das cantigas em volta à fogueira, da degustação dos pratos derivados do milho, das danças, dos fogos de artifícios etc. Por isso a cidade mais se assemelhava a um grande arraial.

Luciano Falcão e eu parecíamos dois estranhos no ninho: não havíamos assistido ao jogo do Brasil, não vestíamos verde-amarelo e nem trazíamos no rosto qualquer expressão festiva. Estávamos tomados pela ansiedade de no dia seguinte poder visitar os irmãos Babau e Givaldo, dois importantes guerreiros do Povo Tupinambá, vítimas de uma grande e bem montada trama persecutória, razão pela qual se encontravam aprisionados na Penitenciária Federal de Segurança Máxima localizada a poucos quilômetros de Mossoró. Entre as tantas indagações que me vinham à mente, punha-me a imaginar por que motivo aqueles líderes indígenas haviam sido trazidos para um lugar tão distante de sua aldeia, a Serra do Padeiro, localizada no município baiano de Buerarema, na parte Sul do Estado. Também não encontrava justificativa para o fato de estarem cumprindo uma injusta prisão preventiva em um ambiente destinado a abrigar presos considerados de alta periculosidade. Era mais indignação do que dúvida. (mais…)

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