Em Lima, as ações já começaram dia 3, com o fórum “A luta amazônica e seu impacto pela mudança climática”, organizado pelo Movimento Ação Urbana de Lime, pela Frente Nacional pela Vida e pela Soberania, pela Aidesep, e outras organizações sindicais, ambientais e nacionalistas. Ontem, a capital peruana sedi0u uma missa em homenagem às pessoas assassinadas na Curva del Diablo. A programação segue hoje com a atividade cultural “Bagua não se esquece”, na praça Francia. As ações se encerram na próxima segunda-feira (8), com uma marcha pacífica que sairá da Praça San Martín para entregar um memorial à 40ª Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) sobre Criminalização, Anistia e Moratória das indústrias extrativas.
O dia 5 de junho também não passará em branco em Bagua. Hoje, um fórum discute e explica à população indígena amazônica a Lei de Criminalização dos Protestos e, amanhã, as organizações realizam uma romaria até a Curva del Diablo, local onde ocorreram os conflitos no ano passado, para prestar uma homenagem aos mortos no massacre.
Entretanto, nem todos os povos peruanos poderão celebrar o primeiro ano dos acontecimentos de Bagua. O governo de Yurimaguas, por exemplo, negou a permissão solicitada pelas comunidades do Alto Amazonas para realizar uma jornada de mobilização amanhã. No documento, a autoridade competente afirma que a ação não é “um ato público cívico patriótico”.
O governador da província de Alto Amazonas, Ronald Zegarra Guerra, só aprovou a realização de uma marcha pacifica hoje – partindo da praça de armas de Yurimaguas rumo à praça Moralillos – e de uma missa e vigília.
O caso Bagua
No início de abril de 2009, indígenas peruanos bloquearam uma das principais estradas de Bagua como forma de pressionar o Estado a respeitar seus direitos e a derrogar uma série de decretos legislativos relacionados ao Tratado de Livre Comércio com Estados Unidos.
No dia 5 de junho, após quase dois meses de bloqueio, policiais e indígenas entraram em confronto. O saldo foi de 33 pessoas mortas e 82 feridas durante o deslocamento forçado de milhares de indígenas que estavam na via. A pressão dos indígenas, porém, só funcionou após o conflito que chocou o mundo inteiro. Em 11 de junho, seis dias após o massacre, o Congresso ouviu as demandas dos indígenas e derrogou os decretos 1090 e 1064.
Apesar desse feito, o caso Bagua ainda segue sem desfecho. De acordo com a Comissão de Direitos Humanos (Comisedh), após um ano, os 127 processos judiciais contra indígenas e mestiços ainda estão na fase instrutiva ou na de investigação. Ou seja, nenhum conseguiu chegar a juízo oral.
“A lentidão da administração processual ocasionou também a manutenção de três indígenas nos presídios de Chachapoyas e Bagua, mesmo quando a prova de absorção atômica a que dois deles foram submetidos deu negativa e, [em relação ao] terceiro, não lhe proporcionou um intérprete oficial solicitado há mais de quatro meses”, afirmou Gustavo Campos, advogado de Comisedh.
* Jornalista da Adital
http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?boletim=1&lang=PT&cod=48318