Motivadas por teorias racistas de estudiosos como Afrânio Peixoto, Lombroso e Nina Rodrigues, a imprensa pregava o não reconhecimento do ser negro.
Fatos noticiados da mídia entre o ano 1888 e 1937 foi tema principal do último encontro do semestre do Curso Conversando com sua História. O evento realizado na última terça-feira, 21 de junho, promoveu um intenso debate entre palestrante e o público, na Sala Kátia Mattoso da Biblioteca Pública. A abordagem histórica e objetiva da professora Meire Lúcia Alves esmiuçou detalhes importantes incluídos em seu trabalho de pesquisa “A cor da notícia: discursos sobre o negro na impressa baiana (1888-1937)”. Centralizadas nas questões raciais e tendo como foco principal as mulheres negras, a autora revelou uma imprensa tendenciosa de caráter intolerante, machista e totalmente racista.
Estudo – Após realizar uma pesquisa minuciosa em dois jornais que circularam entre o século XIX e XX, o Diário da Bahia (1865) e o Diário de Noticias (1875) e dois dos últimos séculos A Tarde (1912) e o Estado da Bahia (1933), a autora destacou em temas como: a religiosidade, a saúde, gênero e as manifestações culturais negras e indígenas como de maior intervenção negativa dos meios de comunicação da época, apontando o racismo como fator preponderante para a discriminalização do negro. “A imprensa exigia diariamente uma presença mais atuante da polícia para punir exemplarmente os sambas, candomblés e batuques. Além de caracterizar as mulheres negras de “mulheres que tem cabelos nas ventas” pelo comportamento mais autônomo e independente, algo não aceito pela sociedade machista da época”, afirma.
Práticas de racismo – Meire ainda destaca que a imprensa não se limitava só em informar, como também difundir idéias de interesse próprio. “A cultura negra era vista como caricatura. Mesmo em ebulição permanente, as expressões negras não aparecem nos jornais. E quando acontece é como bárbaros, incapazes. Só a partir dos anos 1930 o samba e visto como um evento social”, enfatiza Meire.
Atualmente – Quando os questionamentos sobre a imprensa são voltados para uma perspectiva mais atual, Meire faz comparações de noticias da época com as atuais e assegura a pouca existência de novidades quando a questão é sobre a violência, a mulher e a saúde da população negra. “A imprensa modifica o discurso para justificar a violência. É melhor enfocar nas mortes de trânsito, por um ponto de vista mais lucrativo do que nos extermínios ocorridos nas periferias. Em alguns casos é melhor trabalhar com os resultados que as prevenções”, disse.
Curso – O evento ocorreu na ultima terça, 21, na sala Kátia Mattoso, Biblioteca Pública do Estado (Barris) e integra o ciclo de debates que é oferecido gratuitamente pelo Curso Conversando com Sua História, do Centro de Memória da Bahia, da Fundação Pedro Calmon/SecultBA. Promovido desde 2002, o curso oferece aulas gratuitas e semanais ministradas por diferentes historiadores e pesquisadores. No próximo mês de julho, o projeto entrará em recesso, só retornado no mês de agosto e as aulas passaram a ser ministradas TODAS AS SEGUNDAS-FEIRAS, às 17h.
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