Sem chuva, reservatório que abastece municípios ao longo do Rio São Francisco ainda funciona como caixa d’água
Por Marta Vieira, no Estado de Minas
O atraso das primeiras chuvas típicas de fim de ano põe em xeque a estratégia montada para evitar o desligamento da Hidrelétrica de Três Marias, no leito do Rio São Francisco, castigado pela seca prolongada. Só com a manutenção da usina em operação, gerenciada pela Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), é possível garantir o uso múltiplo da água pela população e as plantações de mais de duas dezenas de municípios, entre as cidades margeadas pelo Velho Chico. O nível do reservatório baixou a 3,8% na sexta-feira, o pior da história do empreendimento, que começou a ser construído há 57 anos, e se aproxima da barreira crítica para uma interrupção das turbinas de geração.
A estiagem vem obrigando a concessionária a reduzir a vazão de água de Três Marias, que diminuiu de 500 metros cúbicos para os atuais 140m3 por segundo, informou a superintendência de planejamento de geração e transmissão da Cemig. Para os representantes do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco, a situação é grave, não mais pela perda de importância de Três Marias na geração de energia, mas pelo fato de que a barragem funciona como uma caixa d’água em auxílio às comunidades que dependem do rio, observa Márcio Tadeu Pedrosa, coordenador no comitê da Câmara Consultiva Regional do Alto São Francisco.
“São problemas sociais e econômicos que já estamos enfrentando, uma visão árida de sertão em terras mineiras que a gente não via”, afirma. O número de municípios da bacia do São Francisco que decretaram estado de emergência em razão da seca aumentou de 77 para 86. Os membros do comitê vão se reunir nesta terça-feira, em Salvador, para avaliar a situação ao longo de todo o rio. Além da dependência da chegada das chuvas, são necessárias medidas de revitalização para permitir melhora das condições do meio ambiente e a produção de água.
Márcio Pedrosa lembra, como exemplo, que no Rio Pará, um dos principais cursos do São Francisco, o comitê tem promovido a integração dos produtores rurais da região desde 2005. O trabalho impediu que cinco ribeirões secassem. Reuniões periódicas estão sendo feitas para monitoramento da situação da Hidrelétrica de Três Marias, entre técnicos da Cemig, do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e da Agência Nacional das Águas (Ana), entre outros órgãos, com participação de membros do comitê da bacia do São Francisco e entidades representantes dos moradores da região.
De acordo com fontes do setor elétrico que acompanham as discussões, a solução estudada no momento é deixar passar água por dentro das máquinas da hidrelétrica, algo nunca feito, sem que elas sejam danificadas. A opção está sendo discutida com orientação dos fabricantes. “Tudo isso para que o rio não seque à jusante, afetando o abastecimento da água nas áreas urbanas e rurais”, diz um especialista do setor.
Para garantir o uso múltiplo da água, a barragem de Três Marias despeja no rio mais água do que a vazão que entra na represa. Chegam ao reservatório 40m3 por segundo e saem na outra ponta 140m3 por segundo. O grupo de técnicos da Cemig, ONS e da ANA pretende manter essa política até o fim de novembro, mas, se o atraso das chuvas persistir, a estratégia terá de ser repensada. Das seis unidades geradoras da usina, só duas estão ligadas.
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Enviada para Combate Racismo Ambiental por José Carlos.