Vocês se lembram quando o MST ocupou uma área pertencente à União, no município de Iaras (SP), grilada pela empresa Cutrale para plantar laranjas?
Durante a ocupação os trabalhadores do MST derrubaram ao redor de 100 árvores de laranja da empresa.
Isso já foi o suficiente para o episódio se transformar no desastre nacional. Jornal Nacional, Folha de S. Paulo, Estadão, polícia, governador José Serra e Cia atribuíram o fato ao vandalismo, contra o progresso, e o fim do mundo estaria próximo.
Depois o MST voltou a ocupar mais três vezes a área e sempre foi imediatamente despejado pela PM de São Paulo, mesmo não tendo competência para isso, já que a área é da União e o processo corre na Justiça Federal.
Em 2013, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) conquistou na Justiça Federal a anulação do documento da Cutrale. Você viu essa notícia em algum lugar da imprensa burguesa?
Agora, vejam a notícia abaixo. Fruto da concentração do controle da indústria do suco de laranja por apenas três empresas, vinculadas ao capital internacional como a Coca-Cola, os fazendeiros que plantavam laranja e vendem para essas empresas tiveram que erradicar, só no ano passado, 1,8 milhões de pés de laranja. De 2010 para cá foram cortados 5,7 milhões de pés!
Vocês viram alguma notícia no Jornal Nacional? Alguma nota de protesto contra a Coca-Cola ou a Cutrale por terem derrubado os pés de laranja?
SP perde 5,7 milhões de pés de laranja
Do Estado de S. Paulo
Relatório da Coordenadoria de Defesa Agropecuária do Estado aponta que no primeiro semestre deste ano citricultores erradicaram 1,8 milhão de pés de laranja para mudar de atividade em São Paulo. O motivo seria o alto custo da Produção, a dificuldade para comercializar a safra e as muitas pragas que vêm prejudicando as lavoras.
Essas situações desfavoráveis, somadas ao abandono da cultura, foram responsáveis pelo fim de 5,7 milhões de plantas no Estado. Somente em razão do greening ou “ferrugem”, como é conhecido, 2,2 milhões de pés de citros deixaram de existir. Também pesaram na redução da área plantada o cancro cítrico, que erradicou 60,5 mil plantas, além de doenças e motivos que levaram à eliminação de mais 1,8 milhão de pés.
Os produtores são obrigados a encaminhar à Defesa Agropecuária documentos com informações sobre as lavouras. Foram recebidos 12.592 relatórios de greening e cancro cítrico, dando conta de que no Estado foram inspecionadas 198,2 milhões de plantas cítricas. Mesmo se a lavoura não tiver nenhuma doença ou mesmo se abandonou a cultura, o citricultor tem a obrigação de informar o órgão sob o risco de ser multado em mais de R$ 10 mil.
Doenças como o greening não têm tratamento e quando detectadas é preciso erradicar a planta. Já no caso do cancro cítrico, uma resolução do fim do ano passado desobrigou o produtor a erradicar a lavoura no raio de 30 metros a partir da planta. Em vez disso, ele tem agora de eliminar apenas a planta afetada e pulverizar a área com calda cúprica, uma solução feita com sulfato de cobre.
Em queda. O número de plantas cítricas em São Paulo vem caindo. No segundo semestre de 2013 já haviam sido erradicadas 3,5 milhões de plantas com sintomas de greening, 70,7 mil com cancro cítrico, 3,7 milhões com outras doenças e 4,5 milhões por mudança de atividade. Nesse mesmo período, somente 1 milhão de plantas cítricas foram replantadas.
Entre as regiões com maior porcentagem de plantas eliminadas estão Limeira, Ribeirão Preto, Jaboticabal, Araraquara, Jaú e São João da Boa Vista. Para Flávio Viegas, presidente da Associação Brasileira dos Citricultores (Associtrus), problemas como o baixo preço pago ao produtor estão levando ao desinteresse pela citricultura.
Segundo ele, embora os custos de produção estejam por volta de US$ 8 por caixa de laranja em São Paulo e na Flórida, nos EUA, o tratamento dado ao citricultor é bem diferente nos dois países. “Enquanto os produtores daqui recebem em torno de US$ 4 a caixa, os de lá ganham US$ 14.” Levantamento do Instituto de Economia Agrícola (IEA) aponta que nos últimos dois anos houve redução de 52,3 mil hectares no Estado, o que significou a eliminação de mais de 30 milhões de laranjeiras.