Grupo Mizote quer derrubar, de uma única vez, 24.599 hectares de terras nos gerais de Correntina, numa das regiões mais preservadas do município
Iremar Araújo*, ASA
O grileiro de terras públicas conhecido como Paulo Mizote quer derrubar, de uma única vez, 24.599 hectares de terras nos gerais de Correntina. O tal “empreendimento” pretende colocar por terra, uma das regiões mais preservadas do município de Correntina, aqui no Oeste baiano, capaz de abrigar: porco queixada, cateto, paca, anta, capivara, onça, anfíbios dos mais diversos, anuros dos mais diversos, aves como a ema, seriema, jacu, jacupeba, jacutinga; cobras coral, cipó, jararaca, bocarra, jaracuçu; desdentados, como: Tatu peba, verdadeiro, rabo de sola, e até Tatu Canastra e bola, ambos em franco processo de extinção.
Argumenta que vai plantar arroz, milho, soja e algodão. Diz que tem documento das terras. Diz que vai gerar desenvolvimento, emprego e renda. Diz que fez EIA-RIMA (Estudo de Impacto Ambiental – Relatório de Impacto ao Meio Ambiente) e que o levantamento é o mais completo sobre o Cerrado. Entretanto, a população não quer entrar na “toca do jabuti”, pois pode haver onça lá dentro.
A área fica entre os interflúvios dos rios Santo Antônio (já debilitado) e o Rio do Meio, também duramente golpeado por projetos imensos de irrigação, distante de Correntina cerca de 50 quilômetros.
O Sr. Paulo Mizote colocou os pés nesse imenso latifúndio através de mutretas cartoriais (quer dizer: fabricação de escrituras falsas), denominadas “retificação de áreas”, o que é uma prática corriqueira em todos os municípios do Oeste da Bahia. O grilo foi sendo feito, nos idos dos anos 80 do século passado, pelo Sr. Nelson Tabuada, conhecido grileiro de terras aqui de Correntina, que veio expulsando, à bala, os centenários usuários das soltas, dos fechos, dos retiros, das largas desse imenso território.
A legislação estadual é farta em obrigar a intervenção do Estado nesses casos, especialmente quando já existe a certeza do furto de terras públicas. O rio Santo Antônio, fatalmente, secará caso aconteça tal “empreendimento”. Isso é possível de se afirmar, vez que, o seu estágio é de um rio moribundo, pois passa a correr água somente 40 quilômetro após seu antigo nascedouro.
Testemunhos de agricultores da região dão conta de um rio piscoso no passado, com belas lagoas azuis, mas que hoje nada disso existe mais. Cientistas apontam o fim do rio, mesmo sem o atual projeto; Técnicos do Estado da Bahia apontam para a perda de uma quantidade muito grande de água, especialmente nos períodos de baixa vazão, o que indica o fim do rio. Mesmo assim o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) quer licenciar o tal “empreendimento”, alegando o cumprimento de leis.
Foi pensando e vendo por onde o bonde iria desembocar que um grupo de pelo menos 2.000 pessoas inviabilizou mais uma audiência do “empreendimento” pela 4ª vez, visto que a população não pode permitir tamanho desmando, ainda que os diretamente atingidos não percebam o tamanho da gravidade no momento. Água, meio ambiente equilibrado, etc, são direitos inalienáveis, difusos, coletivos e também individuais. A aberração não pode acontecer. Não vai acontecer!
* Professor da Educação Básica do munícipio de Correntina