Brasília revive ambiente cultural da luta contra a ditadura

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Os 50 anos do golpe de 64 serão o eixo da II Bienal Brasil do Livro e da Leitura, a partir desta sexta. Ariano Suassuna e Eduardo Galeano são homenageados

Najla Passos – Carta Maior

Brasília – A capital federal irá comemorar seus 54 anos revivendo o ambiente político, artístico e cultural da luta contra a ditadura civil militar, a partir desta sexta (11), com a abertura da II Bienal Brasil do Livro e da Leitura, que terá nos 50 anos do golpe o eixo central das atividades que promoverá nos próximos dez dias.

São debates, palestras, mesas redondas, exposições, exibições de filmes, lançamentos de livros e shows culturais que buscarão não só recontar a história fraudada desse passado recente, como também compreender como essa conjuntura autoritária influenciou a literatura, a música, o cinema, as artes e os costumes brasileiros.

“A Bienal abre espaço para que a cidade e o Brasil reflitam sobre o rompimento do estado de direito naquele momento e sobre a importante resistência que a cultura impôs à tirania por mais de duas décadas”, afirma o secretário de Cultura do Distrito Federal, Hamilton Pereira, ex-preso político da ditadura e poeta que, com o pseudônimo de “Pedro Terra”, registrou as arbitrariedades do período.

Segundo ele, o evento contará com presenças emblemáticas da resistência à opressão no país e no continente. “Trazemos a Brasília nos próximos dez dias protagonistas, testemunhas e pensadores sobre o período dos generais, além aqueles que participaram da reconstrução da democracia. O objetivo é fazer com que a capital se reencontre com a história”, acrescenta.

Os homenageados são os escritores Ariano Suassuna, que ele classifica como “uma das mais importantes resistências da cultura popular do país”, e Eduardo Galeano, o escritor uruguaio, autor do clássico “As veias abertas da América Latina”, que Hamilton define como “uma espécie de testemunha viva do continente, um escritor engajado na permanente denúncia das ditaduras que assolaram a América Latina”.

Galeano fará a conferência de abertura, na noite desta sexta, participará de um sarau em homenagem ao poeta argentino Juan Gelman, no sábado, ao lado do próprio Hamilton, e participará do debate “Futebol e Ditaduras na América Latina”, no domingo.

Com mesas distribuídas em vários dias do evento, o seminário “O golpe, a ditadura e o Brasil: 50 anos”, trará personalidades como Franklin Martins, Cid-Benjamin, Frei Betto Pedro Tierra abordando as narrativas guerrilheiras, Thiago de Mello, Domingos Pellegrini e Ignácio de Loyola falando sobre produção literária nos anos de chumbo, e o cartunista Ziraldo relembrando como a criatividade e a esperança foram utilizadas contra o medo e a repressão.

Dentre os palestrantes, destacam-se o argentino Eduardo Sacheri, que abordará “O futebol e as ditaduras Latino Americanas: Argentina”, o cubano Abel Prieto, que irá falar sobre “A Cultura de Resistência: A experiência de Cuba”, e Marcos Antunes, que visitará a produção de Chico Buarque nos anos 70 e 80, além dos autores dos livros que irão lançar obras que jogam nova luz sobre o período.

Dentre eles, “Marighella: O guerrilheiro que incendiou o mundo”, de Mário Magalhães, que venceu a categoria biografia, além de “Jango: A vida e morte no exílio”, de Juremir Machado da Silva, e “As duas guerras de Vlado Herzog – Da perseguição Nazista na Europa à morte sob tortura no Brasil”, de Audálio Dantas, que ficaram com o 1º e 2º lugar, respectivamente, na categoria reportagem.

Dentro da temática, também serão lançadas obras como “Almanaque 1964”, de Ana Maria Bahiana, “A Ditadura Militar e os golpes dentro do golpe: 1964-1969”, de Carlos Chagas (DF), “Resistência atrás das grades”, de Maurice Politi (SP), e “A ditadura que mudou o Brasil”, de Daniel Aarão Reis e outros.

Outras artes

No circuito que abordará o teatro na resistência à ditadura, haverá leituras dramáticas de peças como “Besame mucho”, de Mario Prata, “Rasga Coração”, de Oduvaldo Vianna Filho, “Murro em ponta de faca “, de Augusto Boal, “Liberdade, Liberdade”, de Millôr Fernandes e Flávio Rangel, e “Eles não usam black-tie”, de Gianfrancesco Guarnieri, entre outras.

As exposições “O traço do Pasquim no combate à ditadura” e “O Brasil nos tempos de chumbo”, esta última com fotografias de Orlando Brito, estarão abertas ao público durante todo o evento.

Já o circuito cinematográfico exibirá filmes focados no tema, sempre sucedidos por debates com os diretores. Na lista constam “Barra 68 – Sem perder a Ternura”, de Vladimir Carvalho, “Araguaya – A Conspiração do Silêncio”, de Ronaldo Duque, “Pra Frente Brasil”, de Roberto Farias , “Batismo de Sangue”, de Helvecio Ratton, “O Que é Isso, Companheiro?”, de Bruno Barreto, “Lamarca”, de Sergio Rezende (RJ), e “Jango”, de Silvio Tendler.

O circuito de shows batizado de “O som da resistência” trará alguns dos mais emblemáticos artistas e grupos que se envolveram na da luta contra a ditadura, como Carlos Lyra, MPB-4, Edu Lobo, Ivan Lins, Quarteto em Cy e Quinteto Violado.

Na abertura, o Grupo Tarancón relembrará sucessos da resistência aos regimes autoritários do continente, com canções dos chilenos Violeta Parra e Victor Jara, dos cubanos Pablo Milanés e Silvio Rodrigues, do argentino Atahualpa Yupanqui, além dos brasileiros Milton Nascimento e Geraldo Vandré.

“Pública por definição”

O secretário de Cultura do DF destaca que, a exemplo do que ocorreu na primeira edição, em 2012, o evento será totalmente gratuito. “Será um evento público por definição. Não se paga nem para entrar e nem para ouvir a palestra, como acontece em Paraty, naquela bienal ‘tucana’”, ironiza. Na edição anterior, o evento reuniu cerca de 200 escritores de todos os continentes e recebeu um público de 250 mil pessoas: um evento que já nasceu gigante.

Confira aqui a programação completa

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