A cor da relação: Negra que viveu casamento intrarracial conta que já foi confundida com a babá da filha

Quatro mulheres bem-sucedidas confirmam a tese que alguns estudos já abordaram: negras têm mais dificuldade em engatar romances sérios

Foto de Zuleica de Soua/CB)
Foto de Zuleica de Soua/CB)

Revista do Correio Braziliense

A baiana e servidora pública Daniela Luciana Silva tem 42 anos. Negra, viveu um casamento intrarracial e conta que já foi confundida com a babá da filha, Maria, 7 anos. Ela diz que as mulheres negras precisam trilhar um longo caminho na busca pela autoestima.

“Nasci contrariando as estatísticas, nasci classe média. Sou moradora do Plano Piloto, em Brasília, onde estão poucas negras. Os homens não abordam as negras com a mesma frequência que abordam as brancas. A cor é uma marca de pobreza, de alguém menos casável. Estudei em escola particular, na Bahia, onde eu era a única negra. Com 15 anos, tinha várias paqueras, mas os meninos nunca me chamavam para dançar, por exemplo. Meu primeiro namorado era negro. Chamo de namoro por licença poética. Foram alguns beijos durante as férias. Levei um tempão para namorar de novo.

As mães de mulheres negras nos educaram para entender que, quando você saísse de casa, poderia ser alijada pelo racismo. Elas diziam que os homens não iam nos valorizar. Por isso, a mulher negra também é mais desconfiada. Você se torna menos ousada, menos espontânea. E, às vezes, acaba sendo arrogante para compensar as origens.

Até que, com 18 anos, fui fazer faculdade em Salvador. Lá, eu não era a minoria. Ao contrário, era modelo do que era bonito. Quando vim para Brasília, achava que não ia me casar, que não tinha mais chance. Mas me casei com 34 anos. Ele era branco e tinha 23. Ele nunca permitiu que apontassem essas marcas raciais entre a gente. Às vezes, notava que as pessoas nos olhavam como se quisessem dizer: ‘Como essa mulher está com esse rapaz?’. Imagina! Eu era mais velha e ainda era preta. Estamos separados desde 2010, mas nos casamos apaixonados, por amor.

Para a mulher negra, é muito difícil se relacionar. O que percebo, como militante e como mulher, é que todo mundo quer aprovação. O homem negro também. E ele faz escolhas. Em alguns casos, escolhe a mulher branca, porque também quer aceitação diante do grupo no qual é minoria, como acontece no Plano Piloto. Os que ascendem socialmente acabam frequentando lugares em que a maioria é de gente branca, então ele pode fazer suas escolhas afetivas com mais facilidade do que a mulher negra.

No entanto, se você define que preto só se relaciona com preto e branco só com branco, fica muito difícil encontrar parceiros. Tem homens que nunca vão ficar com uma mulher negra, porque ela não faz parte do gosto deles. Ele não quer alguém que carregue o componente da herança genética e familiar pobre. Ele quer uma coisa leve, sem a complexidade que é lidar com a questão histórica da raça, do preconceito. O problema não é nosso. É que nós temos mais elementos negativos nesse jogo. Não somos a escolha padrão de nenhum homem menos corajoso, menos seguro de si.

Eu não tenho essa restrição, mas há meninas que querem se relacionar só com negros porque decidiram marcar uma posição política também no campo afetivo. Não acho errado. Eu quero me casar de novo. Sei o que quero e do que preciso. O que nos diferencia das mulheres brancas é que temos um trabalho muito maior para chegarmos por inteiro e seguras em um relacionamento. Sou militante do afeto. A sociedade é que nos leva a aceitar pouca coisa, mas eu sei o que eu mereço e não aceito.”

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Enviada para Combate Racismo Ambiental por José Carlos.

Comments (4)

  1. Sou negra, da cor da Camila Pitanga. Sou mineira e aqui no meu estado nunca tinha sofrido uma situação de preconceito mais séria. Mas o fato é que por ser uma negra de pele mais clara, ás vezes as pessoas negam a minha negritude e dizem que sou branca, que não tenho traços de negro (como se meu cabelo e meus lábios carnudos) não contassem. Pois bem, fui passar férias em Arraial da Ajuda (Bahia) e percebi que os ambulantes da praia não se aproximavam de mim para que eu comprasse seus produtos. Quando eu chamava o vendedor, ele vinha logo perto do meu marido e já dizia o preço acenando com a mão. Com as outras mulheres que estavam ao meu lado era diferente. Elas chamavam e eles vinham oferecendo as coisas. Depois é que eu fui perceber o que estavam acontecendo. Eu, negra, acompanhada de meu marido branco (muito branco!), era vista como a garota de programa na companhia do gringo. Só que ele é brasileiro, mineiro como eu. Por isso eles diziam o preço acenando com a mão pra ele. Nunca pensei que fosse sofrer preconceito no estado mais negro do brasil.

  2. ENTENDO PERFEITAMENTE ESSA SITUAÇÃO SOU NEGRA CASADA COM UM HOMEM MARAVILHOSO SO QUE BRANCO MUITAS PESSOAS ME PREGUNTAM COMO É QUE VC CONSEGUIU MANTER SEU CASAMENTO POR TANTO TEMPO MUITAS VEZES VEJO QUE NÃO É POR SER 18 ANOS MAS POR SER EU NEGRA E ELE BRANCO QUANDO SAIO COM ELE NINGUEM FALA É SEU MARIDO? ME PERGUNTAM QUEM É SEU COLEGA …. MEUS FILHOS SAIRAM CLAROS MAS FAÇO QUESTÃO DE MOSTRAR A ELES QUE COR NÃO QUER DIZER NADA MAS O CARÁTER SIM VALE MUITO E PO RESPEITO PELA SEMELHANTE MAIS AINDA

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