Vivian Virissimo, do Rio de Janeiro (RJ) – Brasil de Fato
Além de não resolver o problema dos estupros, a proibição da circulação de vans na zona sul do Rio de Janeiro é uma medida que afeta a segurança das mulheres. Esta é a opinião da feminista Eleutéria Amora da Silva, da Casa da Mulher Trabalhadora (CAMTRA). Sem consulta pública, essa foi a única providência da gestão de Eduardo Paes (PMDB) diante dos recentes casos de estupro. “Se a proibição de vans resolvesse o problema, agora teríamos que proibir os micro-ônibus”, argumenta Eleutéria.
Ela se refere aos três casos que ocorreram nos últimos meses. O primeiro aconteceu no dia 30 de março, quando uma turista dos Estados Unidos, de 19 anos, foi atacada por três homens em uma van que passava por Copacabana. Ela foi estuprada 8 vezes.
Outro aconteceu no dia 3 de maio em um micro-ônibus da linha 369 (Bangu- Largo da Carioca) que transitava na Avenida Brasil. A mulher de 30 anos foi violentada em plena luz do dia, às 15h30 de uma sexta-feira. Em outro mais antigo, do dia 15 de fevereiro, uma menina de doze anos foi vítima de um estupro dentro de um ônibus da linha 162 (Glória-Leblon) na Rua Jardim Botânico.
Segundo o Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro (ISP-RJ), só em março 497 mulheres denunciaram estupros no estado. De janeiro a março de 2013, as estatísticas apontam 1.503 casos. Em 2012, 16 foram estupradas por dia.
Mudanças estruturais
Se realmente quisesse ampliar a segurança das mulheres, a prefeitura deveria tomar atitudes estruturais, com investimento em iluminação, segurança e transporte público de qualidade, argumenta Eleutéria. Sem regularizar o transporte complementar em toda a cidade, a vida das trabalhadoras fica ainda mais difícil.
Segundo ela, as mulheres que se deslocam para o trabalho no início da manhã, às 6h, e aquelas que retornam só depois das 22h, são as vítimas mais vulneráveis para estupradores. “Os ônibus circulam raramente em certos lugares e, para piorar a situação, nos locais mais afastados do centro a iluminação fica cada vez mais precarizada”, denuncia Eleutéria.
A Coordenação Especial de Transporte Complementar estima que circulam pela cidade 6 mil vans e a maioria não possui permissão.
Vagões femininos, solução superficial
Outro caso de estupro ocorrido em um banheiro da estação do metrô da Central do Brasil também revela que as mulheres não estão seguras nem mesmo neste local iluminado. No dia 4 de janeiro, uma mulher de 30 anos foi atacada no banheiro exclusivo para fucionários. O crime ocorreu mesmo com policiais militares que fazem a segurança do Metrô Rio.
Assédios e constrangimentos são comuns nestes espaços, lembra Eleutéria. “As mulheres gritam e chegam a abandonar o trem e o metrô em função do assédio”.
Para ela, a política de reservar um vagão feminino segrega as mulheres do convívio e resolve superficialmente o problema. “Em primeiro lugar, o grande número de trabalhadoras não caberia em só um vagão. Em segundo, colocar as mulheres em um lugar para afastar os homens aparenta dar o direito a eles de fazerem o que quiserem nos vagões coletivos e em outros espaços”, explica.
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Enviada por José Carlos para Combate Racismo Ambiental.