Nota: Este documento está linkado para ser acessado diretamente do saite do Ministério Público Federal no Pará, na notícia Governo tenta restringir consulta prévia da usina São Luiz do Tapajós. MPF aponta desobediência à ordem judicial. Considerando sua importância e em total respeito aos Beiradeiros de Montanha e Mangabal, inclusive quanto ao seu entendimento de como deve ser a relação aos Munduruku, faço questão de transcrevê-lo. O governo continua a repetir a falácia de que a Convenção 169 da OIT precisa ser regulamentada. Que tal, então, utilizar para isso a Proposta de Protocolo dos ribeirinhos-beiradeiros do Pará? (Tania Pacheco).
Proposta de Protocolo de Consulta Montanha e Mangabal
Elaborada pelos beiradeiros do Projeto Agroextrativista Montanha e Mangabal,
reunidos no Machado, em 26 e 27 de setembro de 2014
Nós não somos invisíveis e não abrimos mão do nosso lugar. No passado, os grileiros diziam que ninguém vivia em Montanha e Mangabal, mas lutamos e conseguimos que nosso direito à terra fosse reconhecido. Agora, é o governo quem diz que não existimos e planeja construir barragens no rio Tapajós sem nem nos consultar. Mas sabemos que a lei garante nosso direito à consulta prévia e exigimos que ele seja cumprido. Aqui, neste beiradão, nós nascemos e nos criamos. Pegamos malária, enfrentamos as cachoeiras, cortamos seringa, caçamos gato, pescamos, fizemos nossas roças. Foi assim nossa lida.
À beira do Tapajós, enterramos nossos pais e nossos filhos. Exigimos ser consultados. E lembramos também dos beiradeiros de comunidades como Mamãe-Anã, Penedo, Curuçá, Pimental, São Luiz e Vila Rayol, e de aldeias como a do Chico Índio e a de Terra Preta (Apiaká), que, assim como nós e os Munduruku, devem ser consultados sempre que o governo tiver planos que afetem nossas terras.
Quem deve ser consultado?
Devem ser consultados os moradores mais antigos, que têm conhecimento de toda a área. São eles que ensinam aos filhos, netos, bisnetos como tirar a sobrevivência da floresta e do rio. Eles são referências para nossa comunidade, são reconhecidos por nós
e todos precisamos muito deles.
As mulheres também devem ser consultadas. Elas sabem como tratar o peixe, botar roça e fazer farinha. Temos puxadeiras, parteiras, rezadeiras, que sabem remédios que nem todo médico conhece. Aprenderam com suas mães. Garrafada para curar malária, rezas para urdidura e quebrante – com tudo isso, criamos nossos filhos. (mais…)
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