A primeira coisa que a pessoa que ganhar a eleição presidencial, neste domingo, deveria fazer – após socar a parede e gritar “yessssss!” – é um pronunciamento reconciliatório, convidando a todos e a todas a abaixarem as armas, pois a “guerra” já acabou.
Esse pronunciamento teria que evitar críticas ao outro lado e argumentos messiânicos ou segregacionistas. Desmotivar o clima de desforra e vingança e lançar cordas para o diálogo com quem perdeu, lembrando que governo e oposição, peso e contrapeso, são dois elementos sem os quais uma democracia não existe de fato.
Seria, na prática, um comportamento contrário aos instintos mais selvagens de cada um de nós que fazem com que liguemos a um amigo a fim de tripudiá-lo ao máximo após uma vitória em uma difícil final de campeonato de futebol (#quemnunca).
Mas esse banho de água fria deve ser feito, mesmo para decepção da parcela dos eleitores que quer ver sangue.
Ou seja, o eleito ou eleita – para fazer esse aceno – terá que ignorar solenemente o desejo da ala sombria de sua militância, que nas últimas semanas rebaixou o nível das eleições para algo mais sinistro do que o lodo da terceira cota do volume morto do reservatório da Cantareira.
Compreendo (mas não concordo) que, para conseguir votos de eleitores extremistas que não apoiam uma determinada forma de governar mas querem apenas trucidar um grupo que vive e pensa de forma diferente, candidatos abracem o capeta. E, com isso, são transformados no próprio quando, na verdade, não o são.
Um amigo jornalista disse que eleições sempre foram assim e que é natural essas posições ganharem as ruas.
Discordo. Sair do armário é preciso, viver não é preciso, já dizia Fernando Pessoa. Mas não estou reclamando de abrir publicamente uma posição e debatê-la, mas de tentativas sórdidas de acabar com o outro. E isso não é admissível.
Da mesma forma, o lado que sair derrotado deve entender que, do ponto de vista do jogo democrático, o recado das urnas não significa o seu exílio, mas que o seu papel será de oposição responsável e sistemática ao governo eleito. Uma oposição que, pela divisão do eleitoral, já nasce forte.
Alguns torcedores fanáticos ficarão possessos e se sentirão ludibriados. “Poxa, mas cadê a caça as bruxas? Do que adianta ganhar se não posso matar uns inimigos?” Os mesmos que, muito provavelmente, sairão apavorando na rua com o resultado das urnas, achando que estão dentro de um jogo de Grand Theft Auto – versão 5, claro.
Mas, paciência. Um governante não tem que atender apenas os desejos de quem nele votou. Se assim fizer, não terminará o mandato.
E, muito menos, as vontades de uma minoria dodói da cabeça, seja da orientação política que for, que acha que o Brasil pertence única e exclusivamente a eles.