Marcelo Firpo de Souza Porto, Diogo Ferreira da Rocha, Renan Finamore*, em Ciência e Saúde
RESUMO – O fenômeno da globalização e o crescimento do neoextrativismo na periferia global intensificam a demanda por novos territórios e recursos naturais à economia, resultando em significativos impactos sobre os ecossistemas e a vida das populações vulnerabilizadas. Consideramos que a crise socioambiental impõe novos desafios e exige uma reatualização das bases teórico-metodológicas da saúde coletiva e dos determinantes sociais da saúde. O objetivo deste artigo é apresentar aportes teóricos para a construção de um enfoque socioambiental crítico a partir de uma revisão bibliográfica orientada por experiências anteriores de mapeamento de conflitos ambientais e pela realização de estudos empíricos em áreas conflituosas. Apresentamos contribuições de disciplinas como a sociologia, a ecologia política, os estudos pós-coloniais e a geografia, para a discussão da determinação socioambiental da saúde, bem como experiências de construção de conhecimentos emancipatórios que integram sujeitos políticos, resistências e alternativas para a sociedade. Palavras-Chave: Conflitos; Justiça ambiental; Determinação social da saúde; Territorialidade; Produção de conhecimento
INTRODUÇÃO: A SAÚDE COLETIVA EM TEMPOS DE CRISE SOCIOAMBIENTAL
A Saúde Pública é historicamente marcada pela disputa por hegemonia entre, de um lado, teorias de base estruturalista, com ênfase nas relações sociais e ecológicas; de outro, as que enfatizam dimensões biológicas e individuais, ao analisar tendências relativas à distribuição de riscos, doenças, incapacidades e mortes nas populações. As estratégias de planejamento e políticas públicas no campo oscilam, ora enfatizando a saúde como resultado de políticas sociais numa sociedade em transformação, ora como restrita à eficiência de tecnologias e serviços de saúde ou medidas pontuais de prevenção e promoção. O avanço de áreas como a microbiologia, imunologia e farmacologia, com a criação de tecnologias, vacinas e medicamentos, contribuiu para um clima otimista em relação às potencialidades da biomedicina que deu origem ao modo hegemônico de se pensar a saúde pública(1,2,). Outro importante elemento foi o fortalecimento da epidemiologia, que incorporou os avanços dos métodos estatísticos de coleta e análise de dados nos estudos a respeito da distribuição das doenças e das epidemias, bem como a análise de causas e efeitos a partir das possíveis associações entre atributos individuais ou coletivos, formas de exposição e desfechos. (mais…)
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