Auditores Fiscais do Trabalho de todo o Brasil publicam Carta repudiando o preconceito contra o binômio nordestino e/ou pobre

mensagem racismo ingrid
Postagem foi feita depois do resultado das eleições

IHU – Auditores Fiscais do Trabalho de todo o Brasil publicaram uma Carta de Repúdio condenando a manifestação de uma Auditora Fiscal do Trabalho que por meio de sua página na internet afirmou que a região Nordeste merece ser alvo de “uma bomba como em Nagasaki, pra nunca mais nascer flor sequer por 70 anos”. Eis a Carta.

O último domingo, dia 5 de outubro de 2014, foi dia em que os brasileiros democraticamente se dirigiram às urnas para escolher Presidente, Governadores, Senadores e Deputados, Federais e Estaduais, para os próximos quatro anos.

Após décadas de ditadura, o processo democrático brasileiro se constitui em uma das muitas conquistas históricas de todos os cidadãos e encontra garantias e respaldo na Constituição da República de 1988.

Na democracia, mesmo jovem, devemos saber respeitar as liberdades civis e as escolhas feitas por cada cidadão, especialmente aquelas com caráter de garantia constitucional.

No processo eleitoral cada eleitor é livre para fazer suas escolhas e afirmá-las em debates, conversas, tentativas de convencimento de amigos, colegas e até estranhos. Finalmente, cada cidadão tem o direito de firmar sua convicção e escolha eleitoral quando, exercendo seu direito, apertar a tecla da urna e eleger este ou aquele candidato.

O processo eleitoral naturalmente apresenta a possibilidade de amplo debate e enfrentamento de posições. Entretanto, assim como não cabe a nenhum candidato extrapolar os limites e apresentar proposituras manifestamente ilegais, também não podem os eleitores romper os limites do tolerável e, quando se sentirem atingidos em suas escolhas, ofender e bradar impropérios contra candidatos e eleitores que não lhes agradem.

A mídia tem divulgado que, após as eleições do último domingo, uma série de ofensas preconceituosas se espalhou nas redes sociais, particularmente contra o binômio nordestino e/ou pobre.

Entre esses ataques, infelizmente, está a manifestação de uma Auditora Fiscal do Trabalho, por meio de sua página na internet.

Ao que parece, indignada com os resultados dos votos da maioria dos cidadãos (eleitores) nordestinos, a Auditora afirma que a região Nordeste merece ser alvo de “uma bomba como em Nagasaki, pra nunca mais nascer flor sequer por 70 anos. #pqp#votocensitáriojá”.

Essa postura representa o pensamento daqueles que não conseguem conviver com a diferença e com as opiniões e atitudes que contrariem seus interesses.

Por que razão mereceriam os cidadãos nordestinos sofrer os efeitos de uma bomba como a de Nagasaki? Por serem majoritariamente trabalhadores e pobres? Por supostamente serem menos escolarizados? Por discordarem da proposição política de outrem? Por acaso não teriam esse direito? Não seria essa uma escolha possível, legal e democrática?

Entre os Auditores Fiscais do Trabalho sempre militaram colegas de todas as tendências políticas. Existem entre nós eleitores e militantes, em suas opções pessoais, de todos os partidos políticos e candidatos. Sempre primamos em nosso relacionamento cotidiano pelo livre debate e pelo respeito às diferenças.

As afirmações atribuídas à Auditora vão além de uma mera opinião em razão de sua insatisfação pelo voto dado pelos cidadãos nordestinos. Representam puro preconceito e desrespeito às diferenças. Mais ainda, ao transformar seu descontentamento em um desejo de que sobre o nordeste se jogue uma bomba atômica, acaba fazendo apologia à violência contra milhões de cidadãos, simplesmente porque divergem das posições eleitorais de outra camada da sociedade.

Nós, Auditores Fiscais do Trabalho de todo o Brasil, respeitamos as diferenças de opinião e o livre direito de opção de voto no processo eleitoral e repudiamos o preconceito em quaisquer das suas formas e manifestações.

Que o caso sirva para reflexão daqueles que, por qualquer que seja o injustificável motivo, pensam, exalam ou mesmo militam sobre a premissa de que existem pessoas que, simplesmente por serem diferentes, são inferiores às outras.

E que seja apurado pelas instâncias competentes.

Abaixo assinamos:

1-    Alexandre Albernaz Bibiani
2-    Alice de Gouvea Ramos
3-    Aline Amoras
4-    Aline Galvão
5-    Ana Cristina Auad
6-    Ana Cristina da Matta Machado
7-    André Wagner Dourado Santos
8-    Bruna Carolina de Quadros
9-    Brunno Dalossi
10-  Bruno Borges Longo
11-  Bruno Ribeiro
12-  Carla Gabrieli Galvão
13-  Cintia Maria Fernandes Veras
14-  Daniela Fonseca
15-  Dercides Pires da Silva
16-  Diana Cerqueira
17-  Elce Oliveira de Araújo
18-  Emanuel Carvalho Lima
19-  Emerson Victor Sá
20-  Fabiane Araújo Melo
21-  Filipe Colares Nascimento
22-  Francisco Henrique Otoni de Barros
23-  Giuliano Souza Cruz
24-  Guilherme Araripe
25-  Gustavo Arantes Botelho
26-  Helida Girão
27-  Isabella Oliveira
28-  Jairo Reis Bandeira Gomes
29-  Jansen de Lima e Silva
30-  Jose Crisostomo Bazilio Neto
31-  Juliano Baiocchi
32-  Júlio César Silveira
33-  Júnia Freitas
34-  Juscelino José Durgo dos Santos
35-  Larissa Abreu
36-  Larissa Landulfo Jorge
37-  Leonardo Araújo
38-  Leonardo Carmo Lima
39-  Liane Durão Gomes
40-  Lidiane Barros
41-  Lívia Cristina De Melo Moura
42-  Lívia Melo
43-  Lívia Santos Arueira Perret
44-  Luís Fernando Duque
45-  Luiz Alfredo Scienza
46-  Magno Pimenta Riga
47-  Manoel Waldon de Andrade Neto
48-  Manoela Diniz Teixeira
49-  Marcelo Gonçalves Campos
50-  Marcelo Rubiolle da Silva
51-  Márcia Carolina Marques
52-  Marcia Gondim de Oliva
53-  Marco Aurélio Tiburzio
54-  Marina Cunha Sampaio
55-  Marina De Figueiredo Lemos
56-  Marlon Nunes Barreto
57-  Mateus Francisco Rodrigues
58-  Mateus Leonardo Adans
59-  Mateus Silva de Castro
60-  Milene Dias
61-  Mônica Resende Macedo
62-  Nazaré Sacramento
63-  Pedro Henrique de Freitas Garcia
64-  Pedro Henrique Maglioni da Cruz
65-  Pedro Peixoto Andrade
66-  Rames Fuad Chahine
67-  Roberta Câmara Fernandes
68-  Rogério Lopes Costa Reis
69-  Ronaldo Trindade de Jesus
70-  Rosane Queiroz Milhazes
71-  Rosemir Braga
72-  Sarah Araújo
73-  Silvana Maria Cardim de Almeida
74-  Thais Ometto
75-  Thereza Mello Rocha Neiva
76-  Valdimara Alves de Oliveira Longo
77-  Valeria Guerra Mendes
78-  Vera Moura Fé
79-  Vitor Araújo Filgueiras
80-  Wagner Rebouças Almeida

Comments (2)

  1. Como ex-Auditora Fiscal do Trabalho por 30 anos no Estado de São Paulo me associo aos colegas da ativa para repudiar as declarações da AFT, que demonstra total desprezo pelos valores republicanos duramente reconquistados em nosso país, após duas décadas de ditadura militar. Assino o manifesto e cumprimento a maravilhosa iniciativa dos colegas do MTE, que romperam finalmente o silêncio obsequioso e a inércia que reinava em nossa categoria, que por décadas se omitiu dos grandes debates de nossa complexa sociedade.

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