Velho Chico: Cavalo passa, mas balsa não

Travessia. Em alguns trechos do São Francisco, dá para atravessar a cavalo (Foto: Lincon Zarbietti/ O Tempo)
Travessia. Em alguns trechos do São Francisco, dá para atravessar a cavalo (Foto: Lincon Zarbietti/ O Tempo)

Velho Chico está tão vazio que encalha balsa, cavalo anda e poços secam

Queila Ariadne, O Tempo

Itacarambi. Em alguns pontos, já é possível atravessar o rio São Francisco a pé ou a cavalo. Mas, com tantos bolsões de areia, de balsa, a travessia está complicada. E esse não é nem de longe o maior dos problemas de quem mora em Itacarambi, às margens do Velho Chico. Com a seca prolongada, já falta água até mesmo para o consumo humano. Na comunidade do Pajeú, a 6 km do rio, o poço artesiano praticamente secou. “O rio fica baixo, a água não corre como antes e vem com muitos sedimentos que acabam entupindo os canos que levam a água até lá”, explica o fiscal assistente do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), João Ricardo Ferreira Mota.

“Já ficamos até três dias inteiros sem água. Tem quatro meses que não tomo banho de chuveiro, porque a água não consegue subir. O recurso é o caminhão-pipa”, conta João Dourado de Oliveira, 56, que não tem mais seus coqueiros nem pés de manga e laranja.

A comunidade Brejo do Santana também sofre com a falta d’água. Adésia Pinheiro das Neves, 49, mora com cinco crianças entre filhos e netos e tem renda mensal de R$ 360, do Bolsa Família. “Antes, dava para pegar do poço, mas agora secou. O jeito é esperar o caminhão-pipa que a prefeitura manda uma vez por semana. A gente enche os galões e vai usando”, conta Adésia.

Banho. Quando a água acaba, Sueli leva família pra casa da sogra (Foto: Lincon Zarbietti)
Banho. Quando a água acaba, Sueli leva família pra casa da sogra (Foto: Lincon Zarbietti)

Sueli Rodrigues dos Santos, 30, mora com marido e quatro filhos de 6, 9, 11 e 14 anos. “Agente ainda tá numa situação melhor, porque quando a água dos galões acaba, dá para ir de bicicleta tomar banho da casa da sogra”, conta Sueli. A sogra dela mora a 5 km.

A assistente administrativo da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater), Rodnéia Félix, conta que a ajuda poderia chegar mais longe e atender a mais pessoas, se a cidade conseguisse decretar estado de emergência. “Já mandamos o pedido várias vezes, anexamos o relatório de prejuízos de mais de R$ 5 milhões, com fotos das lavouras, mas ainda não foi liberado”, afirma.

A cidade que está em estado de emergência recebe ajuda do governo, inclusive caminhão-pipa, além de cesta básica e condições facilitadas para empréstimos bancários. No site da Defesa Civil de Minas Gerais, o pedido de Itacarambi aparece como arquivado.

Pecuária. Os pecuaristas também estão amargando prejuízos. “Sem chuva, não tem pasto e o gado não engorda. Muita gente vende antes da hora, para o Mato Grosso. A queda no faturamento é de 50%”, afirma Mota, que tem um pequeno laticínio.

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Ruben Siqueira.

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.