No dia 10 de setembro, quatro indígenas Pykobjê-Gavião da Terra Indígena Governador, município de Amarante do Maranhão foram ameaçados por madeireiros. Os indígenas voltavam do município de Grajaú pela estrada vicinal que liga o município de Amarante a Sitio Novo, quando viram na estrada um caminhão carregado de aroeira (madeira nobre usada na fabricação de antibióticos). Os indígenas pediram ao motorista parar o veículo, mas não tiveram o pedido atendido.
Um motoqueiro que vinha fazendo a escolta do caminhão afirmou que o veículo é de propriedade do Sena (sargento de Polícia Militar e vereador em Amarante), que a madeira transportada não era proveniente da TI Governador, mas do povoado Piripiri, cerca de 40 km de Amarante do Maranhão.
Com o intuito de confirmar se de fato a madeira não era proveniente da TI, os indígenas solicitaram ao motoqueiro que mostrasse o local de onde eles tinham tirado a madeira. Após isso, os indígenas ligaram para a aldeia avisando as lideranças do ocorrido e solicitaram que um grupo confirmasse se a madeira apreendida não era da terra indígena. Num momento de distração das lideranças, o motoqueiro fugiu do local e avisou o sargento Sena que os indígenas tinham apreendido o caminhão.
Os indígenas ainda estavam no local onde o caminhão foi apreendido quando o sargento Sena chegou com quatro homens supostamente armados. Os indígenas foram encurralados e tiveram apreendido seu celular, no qual continha registros fotográficos da retirada ilegal de madeira, bem como, do caminhão. Os quatro homens armados ainda ameaçaram os indígenas.
Segundo os indígenas, o sargento Sena salientou que os Pykobjê-Gavião podem até apreender seu caminhão se o encontrarem dentro da terra indígena, mas fora ele não aceitaria.
Os indígenas ficaram totalmente vulneráveis frente aos homens armados, mas não esboçaram reação por estarem desarmados. Quando as outras lideranças chegaram ao local não encontram mais os madeireiros e decidiram ir buscar o celular que tinha sido levado por sargento Sena. Ao encontrar sargento Sena, os indígenas pediram para ele entregar o celular. O mesmo foi entregue, mas não continha mais as provas da retirada de madeira.
As lideranças foram à delegacia de polícia em Amarante para registrar o boletim de ocorrência, não conseguiram, segundo os indígenas, os policiais de plantão recusaram-se a fazer o boletim, alegando que o delegado não se fazia presente.
O clima na região é tenso. As lideranças indígenas continuam lutando contra a invasão madeireira em seu território e temem por seus filhos que necessitam estudar na cidade.
A terra fica a 750 km de São Luís, capital do estado, e tem pouco mais de 42 mil hectares, onde vivem cera de mil indígenas, divididos em seis aldeias. O novo processo de demarcação da terra foi iniciado em 2007 e interrompido em 2010 por conta da ação de fazendeiros de Amarante que não deixaram o grupo técnico da Funai concluir os trabalhos o que tem deixado os indígenas vulneráveis a invasões em seu territórios.
Vale ressaltar que os Pykobjê-Gavião vêm lutando contra a exploração ilegal de madeira em seu território há vários anos. Por sua resistência, os indígenas já tiveram as aldeias invadidas duas vezes e sofrem com ameaças de novas invasões, mas continuam firmes. Infelizmente, o órgão responsável pela proteção do território não tem atuado de forma contundente no apoio a luta contra a invasão madeireira no território do povo Pykobjê-Gavião. Os indígenas são enfáticos ao afirmar que se não houver uma política de proteção do território, vai haver novos conflitos, porque eles não vão aceitar a invasão de seu território.