Ian Waldron – Rio On Watch
Aproximadamente 100 moradores lotaram um terraço na Vila União de Curicica, na noite de quarta-feira, 10 de setembro, para discutirem como resistir às remoções devido a BRT TransOlímpica, programada para passar por cima da comunidade. Na imprensa, a comunidade foi retratada como passiva e até mesmo satisfeita com a decisão da Prefeitura de remover a comunidade. Os moradores estão clamando por atenção local e mundial em apoio aos que não foram consultados e que não estão sendo justamente indenizados.
A comunidade, originalmente selecionada para urbanização e melhorias de infraestrutura através do programa Morar Carioca, agora enfrenta demolições, e muitos moradores sentem que a prefeitura descumpriu suas promessas originais.
A TransOlímpica objetiva conectar o centro Olímpico de Deodoro com a Vila Olímpica, Barra da Tijuca e Recreio, e supostamente transportará 70.000 pessoas por dia. A Prefeitura planeja reassentar as famílias na Colônia Juliano Moreira, um condomínio residencial não muito longe da Vila União. Enquanto alguns moradores se agarram a oportunidade de serem reassentados e ganharem uma propriedade formal, centenas de outros estão determinados a ficar.
A retórica da Prefeitura pinta um quadro quase idílico dos blocos de apartamentos planejados formalmente, mas permanecem os questionamentos sobre se eles estarão prontos a tempo. Esses modestos apartamentos são, além disso, significativamente menores do que as casas que muitos moradores da Vila União construíram ao longo dos anos e criam sérias crises para os proprietários de pequenos negócios que não serão compensados, e não poderão, simplesmente, transferir um negócio que foi desenvolvido e que está inserido na comunidade local.
O encontro da comunidade na última quarta-feira foi uma discussão aberta sobre como os moradores determinados a permanecer ou alcançar resultados justos resistirão às remoções. O encontro também contou com a presença de moradores de comunidades que vêm sendo ameaçadas ou que já vivenciaram remoções, e com uma Deputada Estadual Janira Rocha, oferecendo assessoria nas estratégias de resistência.
A Deputada Janira trouxe formulários para os moradores demandarem investigações formais a respeito do que aconteceu com os fundos do Morar Carioca que foram originalmente alocados para a comunidade em 2011, e se o que foi feito com eles era legal. Ela anunciou que foram enviados para o Ministério Público Federal, o Ministério Público Estadual e o Ministério das Cidades a notificação oficial requerendo informação a respeito do “que foi efetivamente feito com os recursos do Morar Carioca em 2011, o qual foi alocado para a comunidade com o intuito de trazer esses benefícios e continuar o processo da regularização fundiária”.
Os organizadores da reunião partilharam notícias de que o chefe do Núcleo de Habitação e Terras (NUTH), da Defensoria Pública do Estado do Rio, Dr. Bernardo Horta, foi contatado, sendo solicitado que seu escritório tomasse as medidas legais em nome da comunidade e que a Secretaria Municipal de Habitação (SMH) foi também contatada, sendo solicitadas informações sobre as especificidades do projeto da rodovia. Com essas informações, os moradores esperam ser capazes de mitigar os efeitos da construção na comunidade.
Apesar de podermos estabelecer alguns paralelos e otimismo com os êxitos da Vila Autódromo, a Deputada não hesitou em lembrar aos moradores que nada acontece por si só. Sem mobilização séria, a Vila União não poderá esperar por resultados semelhantes.
Jorge Santos contou da sua experiência na Vila Recreio II, onde ele lutou contra a remoção–de uma estrada planejada que nunca se materializou–com outros moradores, até que somente 12 famílias permanecessem. Apesar de ter se deslocado por fim, ele falou de forma otimista e encorajou aqueles na Vila União a lutarem pelo direito de permanecer.
O tema principal da noite, ecoado pelos moradores e participantes de fora, não foi somente o da necessidade de mobilização, mas também a importância da solidariedade na comunidade entre aqueles que estão ansiosos por sair e aqueles que desejam ficar. Todos concordaram que conflitos entre os membros da comunidade só enfraquecem a luta coletiva contra as remoções e pela indenização justa.
Os moradores estão planejando uma passeata pela comunidade para mostrar a sua solidariedade e o desejo de permanecerem na Vila União–onde muitos vivem há quase trinta anos. A passeata acontecerá no sábado, 27 de setembro, às 10h, partindo da frente do Hospital Raphael de Paula Souza na Estrada de Curicica e terminando na BRT. Todos que apoiam a luta dos moradores contra as remoções são encorajados a participar.