Centro de Arqueologia e Antropologia Forense da universidade fará a análise científica para a identificação das 1049 ossadas de vítimas da ditadura militar
Por Bruno Pavan, Brasil de Fato
O processo de reconhecimento da vala clandestina onde foram enterradas algumas vítimas da ditadura militar, no cemitério de Perus (São Paulo), ganhou um novo capítulo. Depois da ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Ideli Salvatti, anunciar o início dos trabalhos de identificação dos restos mortais, uma equipe transportou parte dos ossos para o centro de arqueologia da UNIFESP, entre o dia 10 e 11 de setembro.
A coordenadora de Políticas de Direito à Memória e Verdade da Secretária de Direitos Humanos da Prefeitura de São Paulo, Carla Borges, destacou a luta dos familiares dos desaparecidos e que se trata de um momento histórico para o país. “Essas ossadas só foram encontradas depois de muita luta dos familiares os desaparecidos no começo da década de 1990, que conseguiu comprovar que, além de matar, o poder público escondeu os corpos naquelas valas. De lá pra cá foram inúmeras tentativas de identificação que não foram para frente e o estado continua com essa dívida com as famílias e com país”, explicou.
Familiares de mortos e desaparecidos políticos estiveram presentes em todas as etapas para acompanhar o trabalho. “É uma pena que tenha demorado tantos anos, mas finalmente está acontecendo e é um momento muito especial”, disse Ivan Seixas, Coordenador da Comissão da Verdade da ALESP, ex-preso político e filho de Joaquim Seixas, assassinado pela ditadura e enterrado no Cemitério de Perus. “Nossos companheiros começaram a voltar para casa”, afirmou Antônio Carlos Fon, do Comitê Paulista pela Memória, Verdade e Justiça.
Trabalho dificultado
Por conta da negligência do estado na conservação dos ossos os especialistas sabem que o trabalho de identificação não será dos mais fáceis. Carla afirma que o processo será minucioso e longo, e que não pode apontar um prazo para que as famílias obtenham respostas.
“Estamos começando a levar as ossadas para a sala onde elas vão ficar. Após isso, temos que analisar os desgastes que esses materiais sofreram, saber se ainda restam vestígios do DNA. Já estamos com contato com os familiares para que eles participem também do processo. Mas é difícil ter essa precisão, vamos saber com o passar do tempo como será esse processo”, explicou.
O compromisso é esgotar as possibilidades de análise e dar uma resposta definitiva às famílias, por meio de transparência no processo, rigor científico e metodologias internacionais de reconhecimento. “Eu sei que as chances de encontrá-lo são baixas, mas fico feliz que o Estado ao menos tente dar essa resposta”, disse Walquíria Ibanez, sobrinha de Abílio Clemente Filho, desaparecido em 1971.