Por Rafael de Oliveira, em MJD Brasil, com colaboração de Carol e Evandro
“Malditas sejam todas as cercas! Ruralistas não nos representam!”. Era isso o que dizia uma das faixas que Kátia Abreu teve de ler ao fazer caminhada pelas ruas do Pé do Morro nesta sexta, 5 de setembro. Meninas do grupo de jovens da cidade se mobilizaram para questionar a atuação da senadora, uma das principais representantes da bancada ruralista no Congresso Nacional, candidata a reeleição pelo estado do Tocantins.
Horas antes da passeata, o grupo se reuniu em casa para produzir as faixas e discutir a maneira de exibi-las sem cair em possíveis provocações. Não estávamos em grande número, mas o que chamou atenção foi a coragem das meninas em empunhar as bandeiras para expor suas ideias. No início, era visível a preocupação nos rostos delas, mas foram se empoderando da situação e percebendo que o ato fazia parte do exercício da sua cidadania e que seria bastante importante mostrar sua posição na cidade, que acompanhava pela primeira vez um protesto desse tipo. Nem o sol quente do verão tocantinense as intimidou.
Muitas pessoas vieram nos perguntar o que significava a manifestação e por que estávamos contrários à presença de Kátia Abreu em nosso município. Aqueles que faziam parte da comitiva tentavam nos esconder com suas faixas, o que mostrou o incômodo e mal estar gerados. Alguns, ainda, soltaram frases ofensivas, mas tínhamos certeza de que estávamos exercendo nosso direito de expressão em um espaço público. Nossa satisfação foi imensa ao ver a senadora lendo a nossa faixa “Trabalhador, não vote na Rainha da moto$$erra”.
Depois, pessoas da cidade vieram nos dizer que nunca haviam questionado as razões para votar na senadora. “A gente aqui não sabe de muita coisa, e acaba votando por votar. Agora não voto mais nela!”, disse uma moradora. Isso nos deu a sensação de missão cumprida.
Sabemos que é um ato pequeno diante da força dos ruralistas na corrida eleitoral e na atual conjuntura do país. Porém, no “mundo do Pé do Morro”, se não estivéssemos lá, teria sido mais uma passeata de aplausos e aclamações àquela que é a maior opositora dos direitos de camponeses, indígenas e quilombolas.
Por que protestamos contra Kátia Abreu?
– É a maior representante do agronegócio, que envenena os solos e a água, que expulsa os camponeses de suas terras, que gera os conflitos no campo, que concentra a riqueza, que destrói as florestas, que lucra com o esgotamento dos recursos naturais e com a exploração e escravização dos trabalhadores. Ela não nos representa!
– É líder da bancada ruralista no Congresso Nacional. Na discussão da PEC do trabalho escravo, fez de tudo para desqualificar as ações dos fiscais do trabalho que libertam os trabalhadores. Para ela, as péssimas condições que humilham o trabalhador e tiram sua dignidade não são escravidão. Ela não nos representa!
– Em seus discursos e ações parlamentares, Kátia Abreu alega que os povos indígenas têm muita terra e que o certo seria destinar essas áreas ao agronegócio. É o agronegócio que tem muita terra: 80% do território pertencem a apenas 10% dos proprietários, que empregam apenas 16% da mão de obra do campo. Ela não nos representa!
Por tudo isso, reafirmamos: “Malditas sejam todas as cercas! Ruralistas não nos representam!”.