Paulo Emanuel Lopes* – Adital
O garoto William Verdún nasceu com uma enfermidade grave: seus órgãos cresceram acima do normal, de modo que não podia enxergar, ouvir ou mesmo locomover-se, tendo que se alimentar via sonda. Suas condições de saúde o levaram ao óbito com apenas 10 meses de vida.
Na mesma comunidade, registraram-se os óbitos das irmãs Adelaida, de três anos, e Adela Álvarez Villalba, de apenas seis meses, em julho passado. Segundo os moradores, o médico responsável apressou-se em informar que as mortes se deram devido a uma infecção pulmonar ou a uma insuficiência respiratória aguda nas crianças, sendo que os resultados laboratoriais só sairiam depois de um mês.
Nessa região, nos últimos dias, pelo menos 30 pessoas, entre elas muitas crianças, teriam sido hospitalizadas com os mesmos sintomas que as duas irmãs falecidas apresentavam: vômito, febre, dores de cabeça e de estômago e enjoos. Quase 400 animais foram encontrados mortos em situação ainda não esclarecidas.
A comunidade Huber Duré
Os casos foram registrados na comunidade agrícola de Huber Duré, onde vivem cerca de 260 famílias, distribuídas em seis núcleos habitacionais, uma área com mais de 2 mil hectares. A colônia da Federação Nacional Capesina (FNC) paraguaia localiza-se em meio à fronteira agrícola monocultora – soja em sua maioria, cuja terra é borrifada, intensamente, com agrotóxicos.
No inverno não se cultiva soja, entretanto prepara-se o solo com aplicação de Carbamato, um composto químico altamente tóxico, utilizado em inseticidas.
Para a população, os problemas teriam começado a surgir há cerca de 10 anos, quando se iniciaram as plantações mecanizadas nos arredores da comunidade.
Segundo o médico que atende no Posto de Saúde da comunidade, a população nativa apresenta muitos casos de enfermidades digestivas, dermatites de contato, dermatofitoses por fungos, além de piodermites bacterianas em crianças com até cinco anos.
Para um morador da comunidade, o aumento no número de doenças na região poderia estar ligado ao não funcionamento da bomba d’água da comunidade, avariada após a queda de um raio, o que teria obrigado a comunidade a buscar água em uma lagoa, o Lago Azul, há pelo menos três meses.
Apesar dos casos de doenças e mortes, o governo paraguaio ainda não estaria tomando as medidas adequadas para garantir a saúde daquela população.
Após pressão exercida pelos moradores, através de protestos e denúncias na mídia, foi enviado à localidade funcionários de dois órgãos do Ministério da Saúde: o SENAVE, instituição responsável pelo controle na aplicação de remédios contra pragas, e o Senasca, responsável pela saúde animal.
Entre as consequências da falta de apoio oficial está o acirramento dos ânimos entre as comunidades de agricultores e os grandes proprietários de terras, relação já marcada por conflitos violentos.
*Com informações da Via Campesina.