O índio caboclo do Guarani é a mais nova vítima do preconceito contra religiões de matriz africana no Brasil. O símbolo fora colocado no uniforme e nos vestiários em maio, pelo presidente do clube, Álvaro Negrão. Era uma fonte de “ajuda espiritual” para o Bugre. Agora, o índio caboclo saiu do uniforme, a pedido dos jogadores católicos e evangélicos do Guarani.
Há dois aspectos na presença do índio caboclo. Um é o histórico. A figura passou a integrar a vida do Guarani na década de 1950 e, desde 1977, adorna a calçada em frente ao Brinco de Ouro da Princesa, o estádio do clube em Campinas. A figura é emblemática. À “força” do índio foram atribuídos alguns feitos do time, como o título brasileiro em 1978 e a fuga do rebaixamento de 1997.
O outro aspecto é o religioso. Negrão, o presidente que decidiu colocar o índio caboclo no uniforme, é “espírita praticante”, e a “entidade” é uma figura importante na umbanda, pois aos espíritos deste tipo são atribuídas as conexões entre os médiuns e os orixás.
Em um país em que os jogadores pouco conhecem a história de seus clubes, e no qual o preconceito religioso é ascendente, não espanta que o segundo aspecto tenha prevalecido. Após resultados ruins com o índio caboclo no vestiário e no uniforme (não muito diferentes dos sem ele), os jogadores cristãos se mobilizaram para remover o símbolo da camisa.
O episódio revela de forma clamorosa a intolerância existente no país, pois os católicos e evangélicos do Guarani não aceitaram conviver com um símbolo de outra religião. Avaliaram que o índio caboclo estava atrapalhando sua performance. É uma postura que ecoa o preconceito destilado por padres e pastores Brasil afora, cujas igrejas gastam cada vez mais dinheiro (em parte fruto das isenções fiscais das quais desfrutam) para espalhar preconceito contra as religiões de matriz africana, fomentando violência e intolerância.
Tragicamente, o preconceito contra umbanda e candomblé é tão arraigado que está presente até no Judiciário, cuja missão básica em uma democracia é proteger os direitos das minorias. A grotesca decisão do juiz Eugênio Rosa de Araújo de considerar que candomblé e umbanda não são religiões, depois revista pelo magistrado, mostra o tamanho do buraco.
O ideal é que religião e futebol não se misturem, sem que isso impeça manifestações legítimas por parte dos jogadores. A inclusão do índio caboclo no uniforme do Guarani não parece ter sido motivada pela religiosidade do presidente do clube, mas por uma tentativa folclórica de dar sorte ao time. A exclusão da imagem, por sua vez, não deixa dúvidas: é fruto de um obscurantismo tosco que viceja no país e, inevitavelmente, no futebol.
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Enviada para Combate Racismo Ambiental por José Carlos.
Transcrito: “O episódio revela de forma clamorosa a intolerância existente no país, pois os católicos e evangélicos do Guarani não aceitaram conviver com um símbolo de outra religião. Avaliaram que o índio caboclo estava atrapalhando sua performance.”
Que pena que a pedofilia dos padres, a intolerância do Marco Feliciano, a ganância dos caçadores de dízimo profissionais e as gravações do Pastor Pereira, “estou com saudades do seu rabo”, entre outras frases; a morte, estupro e queima do corpo do menino Lucas Terra por flagrar dois pastores transando no templo; trabalhar no sábado, comer frutos do mar, cortar o cabelo e a barba dos homens, quando isso está expressamente vedado na tal de Bíblia; a enorme quantidade de cristãos que fazem filho antes e fora do casamento e depois os abandonam, consumando o aborto masculino; que pena, que pena, NADA DISSO ATRAPALHA A PERFOMANCE NEM A CONSCIÊNCIA dos jogadores cristãos….
Mas um logotipo destes, onde mal se distingue a figura, ah, esse sim, atrapalha.
Talvez essa imagem tenha muito poder mesmo. Muito mais poder que o pecado costumeiro que católicos e evangélicos praticam todo dia…