Natasha Pitts – Adital
Medo e repressão têm sido uma constante na vida do povo maya Q´eqchi´, que reside na microrregião de Balbatzul, município de Cobán, Alta Verapaz (Guatemala). Isso porque, desde 2009, a empresa Hidro Santa Rita, com apoio do governo departamental, do prefeito municipal e de empresários, pretende instalar uma hidrelétrica sobre o rio Dolores, único recurso hídrico que abastece mais de 30 comunidades. Se por um lado as ações da empresa avançam, por outro as comunidades afetadas também estão agindo e buscando na justiça o direito a defenderem sua terra. A resposta tem sido a escalada da criminalização.
No último dia 14 de agosto, a comunidade 09 de Fevereiro sofreu uma tentativa de desalojamento. Antes de chegar à comunidade, a Polícia Nacional Civil (PNC) se deparou, na rodovia, com uma manifestação organizada pela Comunidade Monte Olivo, que também se opõe à construção da hidrelétrica Santa Rita. Mesmo sendo uma ação pacífica, a PNC prendeu cinco manifestantes.
Na madrugada do dia seguinte, 15 de agosto, a Polícia chegou à comunidade 09 de Fevereiro, mas a população já havia deixado o local. As casas foram demolidas e o que restou delas foi queimada. Desde junho deste ano, a quantidade de famílias que moram na comunidade já vinha diminuindo em virtude do constante assédio de empresários ligados à hidrelétrica e de grupos armados ilegais. No mesmo dia, no município de Raxruha, aconteceu a prisão dos líderes do Comitê de Desenvolvimento Campesino e a ocupação policial da comunidade Monte Olivo.
No dia 16 de agosto, uma comissão formada por integrações de organizações e movimentos indígenas e de camponeses foi a Monte Olivo e conseguiu a saída da polícia. As famílias retornaram das montanhas para suas casas na comunidade.
Em maio deste ano, uma ação de desalojamento em Monte Olivo foi também frustrada. O objetivo principal era conseguir entrar com maquinário na propriedade Xalahá Canguinic, onde será construída a hidrelétrica Santa Rita, e capturar as lideranças locais, que, desde 2008, manifestam repúdio ao projeto hidrelétrico.
Poucos dias após a série de desalojamentos, manifestações e ocupações policiais, como uma tentativa de mascarar as ações violentas em favor da construção da hidrelétrica, o ministro de Governo, Mauricio López Bonilla, fez declarações à imprensa afirmando que a atuação da Polícia e do Exército será mantida em Alta Verapaz a fim de se combater o narcotráfico.
Representantes de organizações indígenas e campesinas de Alta Verapaz participaram do ‘IV Congresso de Povos, Comunidades e Organizações’ e encontraram no evento uma oportunidade para denunciar a situação. Lideranças do povo Q´eqchi´ revelaram que a repressão policial deixou como saldo três execuções extrajudiciais, 47 presos, 47 pessoas feridas, além de centenas de famílias camponesas e indígenas deslocadas e refugiadas nas montanhas. Segundo eles, hoje está se enfrentando as mesmas políticas repressivas vividas durante guerra civil, como as detenções ilegais, invasão de moradias e uso excessivo da força.
As populações afetadas pedem que a Procuradoria de Direitos Humanos (PDH) cumpra seu papel nos que diz respeito aos casos que envolvem violações aos direitos humanos. Também solicitam ao Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos na Guatemala que investigue as ações repressivas e de militarização que estão acontecendo em Alta Verapaz.